Um dos primeiros CD’s que comprei quando adolescente foi (What’s the Story) Morning Glory?, segundo álbum da banda britânica Oasis lançado um ano após o suicídio de Kurt Cobain. Tinha 10 anos quando Cobain morreu e foi um choque, mesmo ainda sem compreender na época a importância que Nirvana representou para o mercado fonográfico. Pra mim, um garoto começando a escutar música, o surgimento os irmãos Liam e Noel Gallagher foi como a esperança de que atitude rock and roll ainda não tinha se apagado por completo.
A banda britânica seguia a linha de “ame ou odeie”, mas quem viveu meados dos anos 90 acompanhou que Oasis não era apenas um fenômeno musical; eles estavam entre as principais notícias do mundo. Manchetes de todos os jornais centralizavam na estranha dinâmica dos irmãos Gallagher, marcada por desentendimentos que acabaram selando o fim do grupo anos mais tarde.
Dirigido por Mat Whitecross e produzido por Asif Kapadia (dos ótimos documentários Senna e Amy), Oasis: Supersonic acompanha a ascensão meteórica do grupo durante a produção dos dois primeiros álbuns Definitely Maybe (1994) e (What’s the Story) Morning Glory? (1995).
Por meio de imagens inéditas e depoimentos dos integrantes, o documentário mostra o início do grupo, que tocava em pequenos bares de Manchester. Naquela época apenas o jovem Liam Gallagher, que nunca havia antes se interessado por música, fazia parte do Oasis. Seu irmão mais velho Noel trabalhava como roadie de uma banda e passara sua juventude no quarto tocando guitarra como passatempo. Após ser demitido, ele decide se juntar a banda e assume as composições e a liderança. Daí, que começam as intrigas entre eles pelo controle do Oasis. O filme não se afasta e foca na relação difícil entre os dois. Durante o filme, Liam é definido como um bad boy fora de controle e o Noel como alguém de pavio de curto que não aguentava as provocações do irmão. Porém, o mais importante foi o legado que Oasis deixou – músicas inesquecíveis que são tocadas e cantadas mais de vinte anos depois.
Uma das linhas mais interessantes do documentário foi acompanhar o trabalho de composição de Noel Gallagher para os dois primeiros álbuns. Entre várias confusões, abusos de drogas e álcool, Noel se isolava e, de forma espantosa, compusera uma canção por dia, algumas delas hits da banda como “Live Forever”, “Supersonic”, “Wonderwall” e “Champagne Supernova”. Noel sempre foi um ótimo compositor, e o filme aborda isso com eficiência.
Mesmo com algumas cenas de Noel e Liam visivelmente drogados e falando asneira por cima de asneira, a sintonia musical entre os dois era irretocável. Parece que quando os irmãos estavam ligados musicalmente, não havia desavenças ou brigas de ego. Mas, quando se desligavam daquilo, os dois eram como cães e gatos, não conseguiam ficar perto um do outro. Whitecross foi sutil em revelar um momento íntimo e inédito para os fãs dos irmãos enquanto gravaram o álbum Morning Glory. Noel escrevia uma canção por dia, passava para Liam e trabalhavam juntos a melodia. Uma dessas parcerias é o registro da primeira vez que Liam grava “Champagne Supernova” no estúdio. Um momento tocante.
Embora não se aprofunde, o documentário mostra um pouco da relação difícil de Liam e Noel com o pai. Quando crianças, ambos viram o pai bater na mãe, e também sofreram com a violência doméstica. O comportamento explosivo dos irmãos talvez tenha nascido daí.
Oasis: Supersonic está longe de ser um documentário aprofundado da banda, concentrando-se apenas nos primeiros anos de vida do grupo. Há mais na história do Oasis do que o que vemos aqui. Quem não conhece muito essa trajetória, vai acreditar que o Oasis encerrou suas atividades ainda nos anos 90. Porém, os fãs órfãos de um possível retorno depois do fim do grupo em 2009, sairão satisfeitos com o material exibido. Por fim, só quem viveu aquela época entenderá que havia algo especial sobre o Oasis que nunca vai acontecer novamente.
“Existe uma química entre a banda e o público. Existe algo magnético que os atrai. O amor, a vibração, a paixão, a fúria e o prazer que vêm da multidão. O Oasis foi isso.” (Noel Gallagher)
Ps.: Oasis: Supersonic está disponível no catálogo de documentários da Netflix.