Mauricio de Sousa, o mais importante quadrinista do Brasil, ganhou sua primeira cinebiografia. Nela, conhecemos um pouco mais sobre o início de sua vida e como ele criou seus personagens mais famosos. Responsável por dar vida a figuras icônicas que marcaram gerações, o filme é protagonizado por Mauro Sousa, filho do artista. A produção acompanha a jornada de Mauricio desde a infância, passando pela descoberta e paixão pelos quadrinhos, até a invenção de uma carreira considerada impossível na época e suas aventuras para se sustentar e alcançar o sucesso profissional.
Em 24 de setembro, tivemos a oportunidade de assistir Mauricio de Sousa – O Filme em uma sessão para a imprensa, que foi seguida por uma coletiva que contou com a presença de Mauro Sousa, do diretor Pedro Vasconcelos e do ator Diego Laumar, que interpreta Mauricio de Sousa na infância. Confira o que rolou nesse bate papo:
Para começar, Mauro Sousa revelou o que está sentindo com esse lançamento. “Eu realmente estou em um momento muito especial de expectativas, de nervosismo, de ansiedade, mas acima de tudo muito feliz por isso tudo estar acontecendo. Principalmente neste momento dos 90 anos do meu pai. É realmente algo muito especial pra mim, pro meu pai, pra família”. O ator mirim Diego Laumar revela que “‘uma sensação maravilhosa fazer um ícone brasileiro. Meus pais gostam muito também dos gibis do Mauricio, eu também gosto muito de ler. Esse é o meu primeiro filme de muitos”. E para o diretor Pedro Vasconcelos, “isso é um sonho sonhado e um sonho realizado. Quando eu falei com o Mauricio pela primeira vez sobre fazer um filme sobre a história dele, a motivação era justamente essa: o Brasil precisa conhecer sua história, a gente já conhece seu trabalho. Eu tô muito feliz de estar expondo para tanta gente a história desse cara que é tão importante, não só para nós no Brasil, mas no mundo inteiro”.
Mauro Sousa é conhecido por sua experiência nos palcos, mas até agora não tinha atuado no cinema. “O que me motivou desde pequeno para entrar na arte foi o Elton John, meu sonho era ser o Elton John”, revela o ator. “Tudo que eu passei na minha vida e na minha carreira foi para que eu chegasse exatamente nesse momento de interpretar meu ai no cinema. Eu lembro até que nas gravações eu era emoções a flor da pele, eu estava completamente emocionando ali. Eu lembro que um dos grandes desafios meus naquele momento era de conseguir canalizar essa emoção de interpretar meu pai, minha primeira vez no cinema, com a Disney por traz, a MSP, o Pedro me dirigindo… Canalizar toda essa energia e responsabilidade em prol do personagem. Tudo começou com o Elton John, que me trouxe até aqui”, ele completa.
Antigamente, grande parte das cinebiografias eram realizadas com a pessoa em questão já falecida, mas nos últimos anos tem sido uma tendência contar essas histórias com as pessoas ainda vivas. Pedro Vasconcelos compartilhou que fazer esse filme sobre Mauricio de Sousa foi uma forma de “retribuir o benefício que ele fez para minha vida através de sua obra e para a vida dos meus dois filhos, que cresceram literalmente debaixo da montanha de gibis que eles consumiam… Eu queria dar de presente para ele esse retorno… Esse cara precisa saber o quanto esse país ama ele, o quanto as pessoas tem amor por esse cara, é importante ele saber o impacto de tanto trabalho e o benefício que ele gerou para todos nós”.
Segundo Mauro Sousa, “o Mauricio assistiu à um dos cortes do filme, mas não assistiu ao corte final e já faz um tempo. Mas, mesmo assim, com aquele corte que a gente assistiu. Eu lembro, a gente foi pra Disney, eu, meu pai e o Pedro… Foi ali um momento tão especial, com lágrimas do começo ao fim. Lágrimas, sorrisos. Meu pai apontava, me olhava e dava um sorrisinho… Como que meu pai não poderia vivenciar isso junto comigo? É um enorme privilégio eu estar junto com meu pai vendo esse trabalho homenageando ele, ainda mais no mês de seu aniversário de 90 anos”.
“E ainda ele ver o filme do jeito que ele queria, ele participou do roteiro, ele participou da montagem de todo o filme. O filme tá como ele queria: um filme leve para toda a família e que mostra a parte da vida dele que ele queria. Ele queria que todo mundo soubesse como os personagens apareceram, como era a relação com os filhos, com o trabalho e com as coisas da vida”, ele completa.
O diretor Pedro Vasconcelos conta que “sempre que eu vou fazer um filme que tem uma pessoa por trás da obra, eu gosto que essa pessoa seja extremamente respeitada e que essa pessoa me ajude a trazer todo o universo do seu trabalho no filme. É a história da vida dele, não é a história da minha vida. Eu queria muito que ele estivesse junto comigo por dois motivos muito importantes. O primeiro é esse: respeito. Eu tenho um nível de respeito muito alto por quem eu estou usando para fazer o trabalho. O reconhecimento dele vendo as coisas do filme e chorando, pra mim essa é a primeira aprovação que eu precisava. A vida é dele, a obra é dele, eu só queria ser um instrumento de ajudar mais pessoas a terem conhecimento sobre essa história. O segundo motivo é que o cara criou história pra caraca a vida inteira, o cara contou histórias que não tem fim. Se a gente botar a quilometragem das histórias dele, acho que dá três voltas no planeta. Ninguém sabe mais de contar história nessa terra do que esse cara do meu lado, ele vai me ensinar o que eu sei, o que eu não sei e o que eu nunca imaginei que um dia iria saber. Então sim, eu coloquei ele do meu lado o máximo que eu pude”.
Por ser a pessoa que mais conviveu com Mauricio de Sousa, seu filho Mauro Sousa é o que mais conhece os trejeitos, as manias e até mesmo as falhas do maior quadrinista do Brasil. Ele revelou um pouco sobre a personalidade de seu pai, “com ele não tem tempo ruim, ele está sempre sorrindo, não importa o que está acontecendo no mundo. Sempre sorrindo, sempre otimista e sempre olhando para frente. Isso contamina todo mundo ao redor dele. Por isso que eu acho que ele tem tantos fãs. Ele é muito simples. Uma humildade absurda. Olha de onde ele veio, toda a história de vida dele e onde ele chegou, um dos principais patrimônios culturais desse país. E ele continua do mesmo jeitinho. Muito simples, muito humilde e sempre com um sorriso no rosto”.
Já o pequeno Diego Laumar precisou de algum treinamento, principalmente para fazer as cenas em que Mauricio participava que competições de canto. “Olha, eu canto, eu adoro cantar, só que quando eu fui fazer o filme, eu dublei. Teve um menino que cantou e eu dublei. Mas por fora eu estava super inseguro e o Pedro me ajudou. Ele falou que ia ter um menino que ia ser minha voz. Mas eu canto sim, eu tô aprendendo a cantar. E eu tive uma preparação para cantar, só que acabou que eu me senti um pouco inseguro e acabou não acontecendo. Mas a cena tá maravilhosa [risos]”.
Uma curiosidade que muitos fãs tiveram desde o lançamento dos trailers e primeiras imagens é se Mauro Sousa sabe desenhar como seu pai ou se foi necessário utilizar um dublê para as cenas em que ele aparece criando personagens e tirinhas, o ator revelou que “eu não desenho, não sou eu que estou desenhando. Eu tive um dublê de mãos desenhando pra mim. Porém, quem faz a assinatura do meu pai sou eu. Essa eu sei fazer”.
“A gente estava com essa questão de quem ia desenhar porque o Mauricio iria aprovar os desenhos. Então, trago uma curiosidade dos bastidores pra vocês: meu cunhado estava sem fazer nada e eu trouxe ele para dentro da produtora. E aí, Eduardo Saqueti. E aí, o que o Eduardo é? Desenhista. O Eduardo começou a fazer os storyboards dos filmes da produtora, começou a mostrar que ele desenhava pra caramba… E a gente ‘quem é que vai fazer os desenhos do Mauricio?’ Todo mundo vira pro Eduardo e fala ‘você tem 7 dias'”, conta Pedro Vasconcelos. “Levei lá pro Mauricio junto com ele e o Mauricio disse ‘quem fez? Fui eu?’ [risos]”, completa o diretor.
Já os desenhos da versão mais jovem de Mauricio foram feitos pelo próprio Diego Laumar, que contou com a ajuda da equipe. Mas para ele “os traços do Mauricio, não têm igual. É cada desenho lindo que ele faz”.
Mauricio de Sousa – O Filme retrata um personagem real e ao mesmo tempo muito querido para o público, por isso foi preciso encontrar o tom certo. “Eu gosto de ir na emoção das pessoas quando estão vivendo os momentos que estão sendo retratados em uma história. A vida da gente é feita desses momentos que vão compondo a história do filme das nossas vidas. Todo mundo vive sua própria biografia. E eu queria muito que as pessoas tivessem um impacto das emoções do Mauricio durante o seu processo, o que ele estava sentindo, o que ele estava pensando, como ele reagiu. Desde as conversas com a avó na infância, até o desenvolvimento do seu trabalho. A brincadeira foi explorar as emoções e sentimentos do Mauricio para que o público pudesse viver junto com ele a história dele. Como ele é extremamente querido, extremamente amado, se torna um deleite para o público”, diz o diretor Pedro Vasconcelos.
Para fazer uma cinebiografia é preciso uma pesquisa sobre a vida do homenageado e durante essa pesquisa, tanto Pedro quanto Mauro descobriram algumas coisas que não sabiam sobre Mauricio. “Tem aquela história, vou ter que dar spoiler, tem uma cena que ele esquece um desenho que ele ia entregar para uma pessoa. Esquece uma vez, esquece duas vezes. Acham que é mentira, mas é verdade, aquilo aconteceu. Ele ficava tão absorto no processo, ele fez isso e fazia isso várias vezes. Mas uma das coisas que mais me causou impacto e que eu não sabia foi a questão dele ter sido cancelado por conta de uma fake news da época e ele ter o mercado de São Paulo fechado para ele. Eu desistiria depois dessa”, comenta Pedro Vasconcelos.
“Tenho até uma curiosidade pra contar pra vocês, gente. Ele falou dessa cena do Mauricio esquecer uma, esquecer duas, esquecer três. Isso é o Mauricio, isso é o meu pai escancarado. O meu pai sempre foi muito esquecido. Não consigo dizer a quantidade de vezes que meu pai já esqueceu o celular, já esqueceu passaporte com a gente indo viajar, documento e não sei o que. Mas tem uma história que acho que a mais surpreendente e ninguém acredita que aconteceu. O meu pai foi trabalhar com o carro dele e não sei por que cargas d’água ele parou em um outro lugar que não era o estacionamento da empresa. Passou um tempo, duas ou três horas, ele chegou lá embaixo e ‘cadê meu carro? Aí, ele começou a armar um barraco e chamou a polícia. Eis que ele tira do bolso a chave do carro. Aí ele falou ‘ah, é. Parei em outro lugar.’ Nisso a polícia já estava lá. Pra vocês verem o nível de distração. Meu pai era, ele é muito, muito distraído. Aquela cena é só um pouquinho do que ele é. Mas é muito, muito fiel ao Mauricio”, lembra Mauro Sousa de um dos momentos de esquecimento de seu pai.
Mauricio de Sousa – O Filme estreia em 23 de outubro nos cinemas de todo o país. O filme é uma produção da Focus Films e da Boa Ideia Entretenimento, com coprodução e distribuição da Disney e colaboração da MSP Estúdios.