Maria Callas Maria Callas

Maria Callas | Crítica

Mesmo com um belo trabalho de Angelina Jolie, a cinebiografia da histórica cantora de ópera é fria e distante.

Desde Bohemian Rhapsody, cinebiografias se tornaram uma febre em Hollywood. E, como qualquer gênero, elas têm grandes acertos e desastres. Entre os acertos, surgiram títulos que conseguiram contar a história do artista de forma única, como Rocketman, baseado na vida de Elton John. Entretanto, Maria Callas comete um dos erros mais comuns do gênero: falha na conexão entre a história e o público.

Em cinebiografias, é natural que a experiência varie conforme o conhecimento prévio do espectador sobre o artista retratado. Porém, para ser realmente boa, a obra também precisa cativar quem desconhece a trajetória apresentada. Maria Callas não é um filme ruim, mas deixa a sensação de distanciamento, resultando em um retrato sem emoção de uma cantora histórica.

Sob a direção de Pablo Larraín, o filme busca trazer um olhar mais humano sobre La Callas. Ao destacar a fragilidade de sua voz, comprometida pela doença, Larraín tenta construir uma ponte emocional entre a personagem e o público por meio de suas vulnerabilidades. Apesar disso, mesmo explorando temas relevantes, como sua personalidade marcante e a maneira como lidava com as adversidades, o filme acaba entregando uma narrativa fria, que pouco se conecta com novas gerações.

O recorte temporal da vida de Maria Callas é interessante, mas pouco explorado. A história se passa em Paris, em 1977, durante a última semana de vida da cantora. Isolada e melancólica, incapaz de viver sem sua música, Maria alimenta sonhos que nunca poderá realizar. Por meio de flashbacks em preto e branco, somos transportados para momentos marcantes de sua trajetória e como eles se relacionam com sua tristeza.

Essa escolha temporal é envolvente, principalmente pela mistura de fantasia e realidade, que permite ao espectador acompanhar os devaneios de Maria em seus últimos dias. Essa confusão intencional é, sem dúvida, o elemento mais criativo e autoral do filme, destacando-se em meio a outros recursos narrativos.

Um aspecto que pode gerar críticas negativas são as cenas em que Angelina Jolie performa no palco. Embora seja quase impossível recriar o poder vocal de Callas, as sequências de canto dão a impressão de um lip sync da atriz, o que pode causar estranhamento, especialmente nos primeiros momentos. Contudo, ao longo do filme, a força interpretativa de Angelina, somada a um figurino impecável, reduz essa sensação e eleva a grandiosidade da personagem.

Apesar do distanciamento emocional, Maria Callas traz uma mensagem relevante sobre como qualquer pessoa, por mais reconhecida e premiada que seja, possui vulnerabilidades e defeitos. Em seus devaneios, acompanhados do entrevistador Mandrax (Kodi Smit-McPhee), a cantora revela uma mistura de esperança e decepção, suas companheiras mais íntimas, enquanto reflete sobre o fim iminente.

O filme compreende a dor e a solidão que surgem ao imaginar como seremos lembrados após a morte. Seremos reconhecidos por nossas conquistas ou apenas por momentos de dor e isolamento? É nessa reflexão que Maria Callas encontra seu valor como cinebiografia. O legado da cantora pode ser interpretado de várias formas, mas, se é para escolher uma, que seja sua celebração através da performance de Angelina Jolie em seu auge.

Maria Callas chega aos cinemas brasileiros em 16 de janeiro de 2025, com distribuição da Diamond Films.

3

Bom

Mesmo com uma bela e afinada atuação de Angelina Jolie, a cinebiografia de Maria Callas não consegue comover, retratando a histórica cantora como uma figura fria e distante.