Maníaco do Parque | Crítica

O gênero true crime reina nas telinhas e o Prime Video tem investido nele ao trazer histórias de famosos criminosos brasileiros para seu catálogo. Após três filmes sobre Suzane von Richthofen e um anúncio de uma série sobre os criminosos amplamente conhecidos que estão encarcerados no presídio de Tremembé, chega ao serviço de streaming Maníaco do Parque. O longa conta a história de Francisco de Assis Pereira (Silvero Pereira), mais conhecido como o Maníaco do Parque, que foi condenado por atacar 23 mulheres e assassinar 11 delas no final dos anos 1990. O caso marcou essa época, ainda mais pelo fato de que, após encarcerado, dezenas de mulheres enviavam cartas pedindo para namorar ou até mesmo casar com o criminoso.

O filme procura não mostrar a história do ponto de vista de Francisco e elege a jovem jornalista Elena Pellegrino (Giovanna Grigio) como protagonista. Elena trabalha no Notícias Populares, o primeiro veículo a cobrir o caso do Maníaco do Parque. Seus colegas são jornalistas mais velhos e machistas, e ela tem que lidar diariamente com seu colega Zico (Bruno Garcia) e o chefe Vicente (Marco Pigossi) criticando seu trabalho por não ter força o suficiente. Até que ela é a primeira a chegar ao Parque do Estado quando uma das vítimas é encontrada, com isso ela consegue jogar o mesmo jogo de seus colegas e sua carreira dá uma guinada.

Elena passa a conseguir vários furos de reportagem ligados ao caso. Ela enfia na cabeça que vai conseguir pegar a pessoa que está matando essas mulheres através de suas reportagens. Até um mapa da investigação ela faz em sua parede, bem aos moldes do gênero. A jornalista conta com a ajuda de sua irmã, a psicanalista Martha (Mel Lisboa), que fornece informações (um tanto quanto clichês e superficiais) sobre a mente de um psicopata. Essas duas personagens não existiram de verdade e foram criadas para o filme, fazendo com que metade da trama de Maníaco do Parque seja completamente fictícia.

Parece um pouco ingênuo querer que o público acredite que uma novata de um jornal, conhecido por ser sensacionalista, seja a pessoa que criou o apelido do assassino e conseguiu os maiores furos da época, quando grandes emissoras e periódicos tinham muitos repórteres em campo buscando informações sobre o caso. Além disso, ele critica a ética dentro do jornalismo, que deixa a humanidade das vítimas de lado em procura de manchetes que causem alvoroço, mas ao mesmo tempo, dá pouquíssimo espaço para essas vítimas – é possível que você termine o filme lembrando apenas quem foi Cristina, personagem de Bruna Mascarenhas, que ganha um pouco mais de destaque.

Enquanto isso, acompanhamos também o dia a dia de Francisco, um motoboy que é exemplar em seu trabalho e conquista o respeito de seu chefe (Xamã). Nos momentos de folga, ele patina no Parque Do Ibirapuera e se diverte com os amigos. Também encontra mulheres, a maioria precisando de dinheiro, e as convence de que trabalha com moda e está precisando de modelos. É assim que ele convenceu suas vítimas a entrarem com ele no Parque do Estado. O longa não tenta de forma alguma fazer com que o público simpatize com Francisco, já que a brutalidade de seus ataques já é exibida nos primeiros minutos. A atuação de Silvero Pereira como o assassino titular é o ponto alto de Maníaco do Parque.

As cenas dos ataques às vítimas foram feitas de forma intensa, mas não extremamente explicitas e não são gratuitas – elas tem propósito e são gráficas apenas o suficiente para deixar o publico impactado. A trilha sonora, repleta de músicas da época, cria uma conexão com o período retratado. Outro ponto positivo é o fato de que a cidade de São Paulo é um personagem do filme, isso faz todo o sentido já que Francisco provavelmente andava muito pela cidade por conta de seu trabalho de motoboy.

No geral, é um filme que consegue prender a atenção do início ao fim e tem atuações de qualidade. A tentativa de trazer uma visão mais feminina e feminista pra essa história talvez tenha feito com que o roteiro se perdesse um pouco, ainda assim, é um filme que traz memórias (não muito boas) para quem viveu aquela época e consegue apresentar esse caso para uma geração.

Após ter feito parte do encerramento do Festival do Rio, Maníaco do Parque chega ao catálogo do Prime Video em 18 de outubro de 2024. A produção do filme de ficção foi anunciada junto com o documentário O Maníaco do Parque: A História não Contada, que revisita o caso do assassino condenado sob uma nova perspectiva, a de quatro vítimas sobreviventes.

3

Bom

Maníaco do Parque combina elementos de fato e ficção para narrar um dos casos de serial killers mais infames do Brasil. A produção oferece uma crítica contundente à mídia sensacionalista, revelando como ela frequentemente transforma assassinos em figuras de destaque, ao mesmo tempo em que desumaniza suas vítimas. No entanto, o próprio filme acaba, em certa medida, repetindo essa fórmula, embora em uma escala mais contida.