Malês
Divulgação/Vantoen Pereira Jr.
Malês
Divulgação/Vantoen Pereira Jr.

Malês é um filme didático sobre o maior levante de escravizados da história do Brasil

Malês, drama inspirado em eventos históricos, retrata a Revolta dos Malês, considerada o maior levante organizado por pessoas escravizadas na história do Brasil. Ocorrida em Salvador, em 1835, a insurreição reuniu negros escravizados e libertos em um movimento contra a escravidão. Mais de 600 pessoas fizeram parte desse momento histórico e centenas delas foram mortas ou presas no final. A princípio, no filme, africanos muçulmanos, conhecidos como malês, apenas queriam poder ter um local de orações onde pudessem praticar sua religião – algo que foi permitido por um inglês que pensava um pouco a frente de seu tempo. Porém, até mesmo a pequena mesquita foi tirada deles, aumentando o ódio pelos senhores brancos e fazendo com que a faisca de uma rebelião fosse acesa mais uma vez. 

Uma revolta eclodiu no fim do Ramadã, celebrado em janeiro pelo calendário islâmico. Por saberem ler e escrever, os malês acabavam formando fortes articulações políticas entre si e por isso eram tão ativos nos levantes. Além disso, o filme também mostra famílias que conquistaram a alforria a duras penas e tem medo de se envolver nas rebeliões dos que ainda são escravizados e acabarem perdendo seus pouquíssimos direitos recém adquiridos.

Antonio Pitanga, que também dirigiu Malês, dá vida a Pacífico Licutan, um dos principais líderes da rebelião, defensor da união entre diferentes etnias e crenças religiosas como caminho para o fim da escravidão. Mas ele não é exatamente o protagonista, apesar de sua prisão servir como um dos grandes motivos que levaram seus iguais a lutarem. A produção também destaca outras figuras históricas envolvidas na revolta, como Ahuna (Rodrigo de Odé), Manoel Calafate (Bukassa Kabengele), Vitório Sule (Heraldo de Deus) e Luís Sanim (Thiago Justino). Além deles, o longa apresenta personagens fictícios inspirados em vivências reais, como Dassalu (Rocco Pitanga), Sabina (Camila Pitanga) e Abayome (Samira Carvalho).

A História normalmente é contada pelo lado dos colonizadores e desconhecemos muito do que aconteceu, principalmente com os povos mais marginalizados. Malês procura dar visibilidade à um recorte pouco falado, mas muito relevante da história brasileira – uma pena que o faz de maneira pouco emocionante ou empolgante, ainda que fique claro o respeito pela memória, pela língua e pela religião dessas pessoas retratadas. Mesmo assim, os sotaques são completamente esquecidos em alguns momentos e exagerado em outros. Até mesmo o clímax é morno e com ares de novela.

Muitos dos problemas se dão por conta das deficiências de montagem e continuidade. Tantos outros por conta do roteiro de Manuela Dias, que é repleto de diálogos engessados e didatismo extremo. Na busca de englobar muitos personagens e suas histórias, grande parte dessas tramas secundárias acabam subexploradas, principalmente as das poucas personagens femininas, que tem papéis bastante limitados. Em dado momento, há um discurso sobre a força das mulheres, então elas ficam em segundo plano novamente e não tem nenhuma participação ativa no levante. Elas servem basicamente como pares românticos ou objetos que podem ser abusados.

Apesar das falhas, Malês é um filme relevante justamente por homenagear os que lutaram no passado e valorizar o protagonismo negro nos dias de hoje. Por conta importância de seu tema e por resgatar histórias que foram silenciadas, vale a pena a sessão.

Malês chega aos cinemas em 2 de outubro, com distribuição da Imovision.

2.5

Regular

Malês leva ao público brasileiro um momento pouco conhecido de nossa história. Porém, o roteiro é didático demais em certos momentos e sem muita empolgação em grande parte. Ainda assim, vale a pena ver para conhecer mais sobre essa revolta tão importante.

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