Mãe Fora da Caixa
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Mãe Fora da Caixa
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Mãe Fora Da Caixa mostra a maternidade de forma realista e honesta

Mãe Fora Da Caixa, nova comédia nacional estrelada por Miá Mello (De Pai para Filho) e Danton Mello (O Velho Fusca), chega aos cinemas sob a direção de Manuh Fontes e é inspirada na peça teatral homônima de sucesso, também protagonizada por Miá Mello. Tanto a peça quanto o filme se inspiram na obra de Thaís Vilarinho, autora do best-seller de mesmo nome que virou referência para muitas mulheres que buscam representações mais realistas e menos romantizadas da maternidade contemporânea.

A trama acompanha Manu (Miá Mello), uma mulher metódica, perfeccionista e extremamente comprometida com o controle absoluto de todas as áreas da sua vida. Ela trabalha em um renomado hotel no Rio de Janeiro, onde coordena uma equipe e garante o funcionamento impecável do local, que atende hóspedes exigentes. Aos nove meses de gravidez, sua capacidade de continuar cumprindo com excelência suas funções desperta espanto em todos ao redor, reforçando a imagem de que ela é alguém capaz de dar conta de absolutamente tudo, mesmo do que parece impossível.

Manu leva esse mesmo perfeccionismo para sua vida pessoal: a dieta é seguida à risca, o visual permanece sempre impecável e a rotina é planejada nos mínimos detalhes. Para ela, manter tudo organizado e previsível não é apenas uma necessidade, mas uma fonte quase inegociável de satisfação. Assim, acredita que, após o nascimento da filha, poderá retomar rapidamente sua rotina. Mais que isso, poderá controlar cada detalhe da vida do bebê, acreditando que a criança deverá se adaptar ao estilo de vida da mãe, e não o contrário.

Mas a chegada da pequena Nina muda tudo. O que ela imaginava ser uma transição suave se transforma em um redemoinho de imprevistos, frustrações e exaustão. Seu marido, André (Danton Mello), um piloto de helicópteros empolgado com a paternidade, tenta ajudar, mas está prestes a começar um novo trabalho assim que sua licença paternidade terminar. Isso deixa Manu sozinha com as demandas incessantes da recém-nascida por grande parte do tempo, intensificando a sensação de que perdeu completamente o controle da própria vida.

Mesmo à beira do colapso, Manu se recusa a pedir ajuda, seja para a família, seja para uma profissional que o casal poderia contratar. Existe nela uma mistura de orgulho, cobrança interna e a ilusão de que “dar conta de tudo” é sinônimo de ser uma boa mãe. Essa resistência acaba sendo um dos maiores conflitos do filme, pois revela o quanto muitas mulheres, na vida real, se veem obrigadas a atender expectativas impossíveis, tentando conciliar vida pessoal, carreira, amor, maternidade e autocuidado como se fossem tarefas simples de um checklist.

A dinâmica muda quando seus familiares entram em cena: Ana (Malu Valle), a mãe de Manu, uma mulher prática que acredita saber tudo, e Odair (Xando Graça), pai de André, um homem que criou sozinho cinco filhos após perder a esposa, acumulando uma sabedoria prática e afetuosa sobre a criação de crianças. A interação deles com Manu gera momentos tanto de humor quanto de tensão, já que cada um carrega suas próprias verdades absolutas sobre maternidade e cuidados com bebês. É justamente nesse choque de gerações e experiências que o filme encontra parte de sua graça e do seu coração.

Um dos grandes méritos da produção está no roteiro assinado por Patrícia Corso, Clara Peltier e Tita Leme, que consegue retratar a maternidade de forma crua e cotidiana, distante das representações idealizadas que frequentemente vemos no cinema e na publicidade. Manu enfrenta noites mal dormidas, dores intensas nos seios por conta da amamentação, sensações de culpa constantes, banhos interrompidos, a desorganização da casa e o choro quase ininterrupto de Nina. Um retrato fiel, ainda que cômico, do puerpério. O esforço de manter-se apresentável desaba junto com a ordem da casa, e a antiga Manu, que controlava tudo, parece desaparecer no caos dos primeiros meses de maternidade.

Essa autenticidade é reforçada pelo olhar sensível de uma equipe majoritariamente feminina, que valoriza nuances, inseguranças e desconfortos muitas vezes silenciados nas narrativas sobre maternidade. A identificação com esse cotidiano é imediata para mães, mas também abre espaço para pais e pessoas sem filhos entenderem o peso emocional e físico desse período. Fica muito claro que elas sabem muito bem do que estão falando.

O filme caminha dessa maneira consistente e pé no chão até o terceiro ato, quando passa a adotar uma abordagem mais idealizada e fantasiosa, suavizando e até mesmo entrando em contradição com o que vinha sendo construído desde o início. Ao tentar oferecer um desfecho mais “confortável”, o longa abre mão de parte da honestidade que o tornava tão potente. Ainda assim, Mãe Fora da Caixa se mantém leve, bem-humorado e capaz de dialogar com a experiência real de muitas mulheres. O carisma e a química entre Miá Mello e Danton Mello fortalecem a história e entregam um retrato amoroso sobre a tentativa (muitas vezes atrapalhada) de lidar com uma criança recém-nascida. Entre risadas, desespero, caos e afeto, o filme lembra que a maternidade está longe de ser perfeita, mas é exatamente essa imperfeição que a torna tão humana.

Mãe Fora Da Caixa estreia nos cinemas de todo o Brasil em 27 de novembro, com distribuição da +Galeria.

3

Bom

Mãe Fora da Caixa acompanha uma mulher perfeccionista que acredita conseguir controlar cada aspecto da maternidade, até ser surpreendida pelo caos real após o nascimento da filha. O filme vem com a proposta de mostrar a maternidade longe de idealizações, mas se perde um pouco ao longo do caminho.

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