Logan é uma despedida merecida e que faltava para o Wolverine

Logan é o fim do ciclo de Hugh Jackman no papel do mutante Wolverine. O filme foi descrito pelo ator como uma ‘carta de amor’ aos fãs do mutante. E não é por menos. Por quase duas décadas, o australiano passou por altos e baixos com o personagem, sempre atento com as críticas boas e más sobre sua performance e, buscando sempre aperfeiçoa-la. Durante a coletiva em São Paulo, Jackman revelou estar orgulhoso desse filme por saber que os fãs sairiam contentes com o resultado. E saímos!

Logan é a adaptação mais próxima que se chegou do Wolverine. Se antes o personagem tinha pose de galã e atraia o público feminino pelo charme de Jackman, aqui vemos o carcaju brucutu (como gostaríamos de ver) e com aparência de um bicho do mato como nos quadrinhos. Demorou, mas o ator junto com a 20th Century Fox se deram conta que Wolverine precisaria dessa abordagem.

O projeto surgiu a partir de um sonho do ator, que rapidamente gravou os detalhes em áudio de um Wolverine envelhecido, amargurado e carregando o peso de consequências de tudo que fez no passado. E, claro, o ator deve ter lido a HQ O Velho Logan para criar o mesmo universo distópico visto no filme. O resultado é um longa feito com paixão pelas partes envolvidas. Logan não é somente ação ou violência gratuita, é um filme sobre consequências, sobre escolhas, sobre sobrevivência.

Novamente em parceria com James Mangold, que dirigiu o ótimo Wolverine – Imortal (tirando aquele final medonho com o Samurai de Prata transformer), eles conseguiram fazer de Logan mais que um filme inspirado num personagem de quadrinhos. A produção é um excelente road movie que lida com a busca de algo que ficou abandonado no passado. A relação entre Wolverine e Charles Xavier (Patrick Stewart) nesse filme são de homens que viram e enfrentaram muitas coisas juntos, perderam pessoas que amavam e agora são tudo que resta um ao outro; para o bem ou para o mal. Ambos estão prestes a se quebrar (não apenas fisicamente), pois por dentro os dois estão despedaçados emocionalmente.

A chegada da pequena Laura (Dafne Keen) acaba resgatando os bons tempos de X-Men. Xavier vê ali uma oportunidade para Logan encontrar alguma motivação e volte a ser o protetor dos jovens mutantes de outrora. O filme faz uma referência deveras apropriada com o clássico Os Brutos Também Amam (1953) na cena que Laura e Xavier assistem ao filme na tv de um hotel. O protagonista desse filme é um velho pistoleiro chamado Shane. Sua vida foi marcada por violência e, buscando fugir do passado ele passa a morar em uma região tranquila com uma família. Ele se vê forçado a agir e voltar a empenhar uma arma para ajudar o grupo de pequenos colonos a defender suas terras de capangas a serviço de um barão do gado.

Esse é justamente o duelo interno de Logan. Ele busca esquecer quem foi, mas se vê o único capaz de proteger Laura do Dr. Zander Rice e sua gangue de carniceiros. Porém, ele não é apenas um sujeito violento em sua essência. Ele tem coração. Ele também ama. Em uma forma de se auto-proteger, o mutante passa a imagem de ranzinza que pouco se importa com os outros, mas está sempre cuidando de Xavier como se fosse um pai. E, ao conhecer Laura, lembra de um passado distante quando protegia sem pestanejar os alunos da Escola Charles Xavier para Jovens Superdotados. Logan pode não aceitar, mas seu impulso sempre foi de proteção. E Xavier mesmo debilitado e com a voz sempre trêmula, ainda consegue enxergar isso no seu eterno aluno e o aconselha salvar Laura.

Movido em uma atmosfera triste e nostálgica, o filme indica a esperança por dias melhores. Não apenas para esses personagens, mas para a própria FOX, que bagunçou com a linha temporal dos X-Men. Intencional ou não, James Mangold meio que deixou um caminho para os executivos arrumarem a casa daqui pra frente.

Logan encerra com uma frase bastante tocante: “então é essa a sensação”. A frase me tocou profundamente e deixou escapar algumas lágrimas, porque não soou apenas como uma mensagem do Wolverine, mas do próprio Hugh Jackman para os fãs. A sensação de dever cumprido, de ter realizado o filme que os fãs do Wolverine gostariam de ver. Uma despedida merecida e que faltava para o Wolverine (porque a dos quadrinhos foi vergonhosa) nessa saga cinematográfica que perdurou 17 anos.