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Homem com H | Ney Matogrosso e Jesuíta Barbosa falam sobre o filme

Divulgação

Homem com H, o aguardado filme inspirado na vida de Ney Matogrosso, chega aos cinemas brasileiros em 1º de maio. Jesuíta Barbosa interpreta o artista no filme, que acompanha a brilhante e intensa trajetória de Ney de Souza Pereira, desde a infância até a sua consagração como um dos maiores artistas brasileiros. No dia 23 de abril, assistimos ao filme em uma sessão para a imprensa, que foi seguida por uma coletiva com a presença do próprio Ney Matogrosso, do ator Jesuíta Barbosa, do diretor e roteirista Esmir Filho e da produtora Veronica Stumpf. Durante o bate papo, eles contaram detalhes sobre essa super produção do cinema nacional.

Esmir Filho é conhecido por seu cinema independente e agora comanda esse filme de grande circuito. Para ele, poder escrever e dirigir uma cinebiografia de Homem com H foi mais do que um simples convite de trabalho, foi um presente, pois sempre admirou o artista. Sobre ter sido o escolhido, ele revela que “a vida dele [Ney Matogrosso] conversava com coisas que eu gostava de conversar no cinema”.

Segundo o diretor, uma vida inteira não cabe em um filme e por isso era preciso escolher um recorte da vida do artista. Ele ouviu a discografia inteira de Ney Matogrosso em ordem cronológica para saber o que o artista pensava em cada época, mas foi a frase “eu sempre reagi ao autoritarismo”, escrita por Ney no livro Vira-Lata de Raça, que finalmente fez com que ele encontrasse o ponto central de sua história. No livro ele fala sobre a autoridade do pai e os confrontos que teve com ele na vida, então Esmir resolveu escrever um roteiro no qual seu protagonista enfrente todas as figuras de autoridade e de controle que cruzaram seu caminho.

Ney Matogrosso já foi tema de muitos documentários, exposições, peças de teatro e livros, mas é a primeira vez que sua vida foi contada em um filme de ficção. O artista revelou que teve apenas uma exigência em relação ao que seria mostrado: era preciso ser verdadeiro. Segundo ele, “as pessoas falam muitas loucuras, escrevem muitas loucuras, que são mentiras. Nesse filme não pode ter mentiras. Tudo que a gente colocar nele tem que ser verdade. E eu fiquei satisfeito quando vi o filme porque tudo que está ali é verdade. Sem pudor nenhum”.

Para que essa verdade fosse passada na tela, era preciso uma troca entre a equipe do filme e o artista. Ney se disponibilizou para servir como consultor, mas sem “se meter” no que estava sendo feito. Então, ele, Esmir e Jesuíta Barbosa tiveram alguns encontros antes do início da produção para que essas conversas pudessem ser realizadas. “O Jesuíta eu já conhecia, estivemos juntos algumas vezes na minha casa e eu via que ele estava me observando, ele já estava trabalhando”, revela Ney.

“Eu cheguei tímido”, brinca Jesuíta sobre sua primeira visita à casa de Ney. E Ney revela “Nossa, a gente zanzou pela casa. Chegou tímido, mas a gente fez uma lanchinho, depois fomos caminhar pela casa. Aí, tinha uma pedras enormes, que meu pai me deu… teve uma hora que ele se deitou e colocou a pedra em cima do peito e eu pensei ‘olha lá, ele tá viajando'”.

Além dos momentos juntos, foi preciso também uma enorme preparação para que Jesuíta entrasse no personagem em Homem com H. Para o ator, “foi muito gostoso de fazer. A gente ficou quase três meses ensaiando. Tinha um preparo de voz falada, de voz cantada, de ensaios de cena e de corpo, de dança. Pra mim foi uma alegria poder entrar nesse universo do Ney, pensar as músicas, pensar os shows. Tentar ganhar uma estrutura diferente da minha, porque eu tenho uma movimentação mais estacada e o Ney tem algo arredondado. E muito além disso, uma presença, uma magnitude, eu diria, que a gente foi ensaiando para tentar alcançar”. Além disso, Jesuíta ainda teve que emagrecer 12 kg para chegar no corpo magro do artista.

Ney Matogrosso disse que o filme é dublado, já que as músicas são na sua voz, mas que Jesuíta “canta porque quando a gente vê ele cantando no filme, a musculatura está funcionando. Não é só movendo a boca. Não é aquela coisa de dublagem. Ele está cantando. Algumas cenas ele já tinha gravado cantando, que eram de Brasília, cantando no coral, aí o Esmir pediu para eu dublar ele. Então, eu fui cantar vendo a boca dele mexendo”. 

Esmir revela que existe uma mistura da voz de Jesuíta com a voz de Ney em algumas das cenas, mas que nada disso foi feito por inteligência artificial e sim por conta da colaboração entre os dois. Segundo o diretor, “ele [ Jesuíta] chega no tom e tem a cena da Rosa de Hiroshima, que é a voz dele”.

Não só foi preciso trabalhar na voz, mas também nas apresentações do artista, já que vários dos shows de sua carreira são reproduzidos na tela. “Foi um desafio enorme. Acho que nós começamos esse desafio, eu e o Esmir, tentando licenciar todas as músicas. O que já um desafio muito grande. Não é fácil convencer os autores”, revela a produtora Veronica Stumpf. “Desafio de tempo, energia, dedicação e dinheiro. Um desafio orçamentário também. Nosso filme tem 17 musicas licenciadas, uma das cinebiografias com mais músicas”, ela completa.

Esmir Filho já escolheu as músicas enquanto escrevia o roteiro, inclusive colocava os trechos das letras no texto. Então não queria abrir mão de nenhuma, o que tornou o processo ainda mais complicado. Segundo o diretor e roteirista, “quem lia o roteiro, lia versos da canção, porque pra mim, as letras escolhidas falavam muito com Ney daquele momento, dialogavam com o que ele estava vivendo. Esse desafio que a Veronica falou é porque já estavam lá as 17 músicas, como parte do diálogo. Não tinha o que fazer, tinha que ir atrás delas, elas tinham um sentido ali. Elas fazem a coluna vertebral do filme”.

O figurino, importantíssimo na carreira de Ney Matogrosso, também ganha destaque em Homem com H. Muitos figurinos foram recriados, mas também foram utilizadas várias peças originais. “Os figurinos estão em um museu, no Senac, eles ficam em caixas e você vai abrindo e vendo aquelas raridades. A máscara coube em mim, mas algumas outras coisas não couberam, a gente foi adaptando. Eu estava muito magro, mas mesmo assim não cabia”, conta Jesuíta.

Após todos os desafios, com o filme já pronto, os astros revelaram seus sentimentos ao ver todo o trabalho na tela. Ney Matogrosso disse, “eu tenho três livros, mas você ler é uma coisa, você ver é outra. Eu passei por isso, quando eu vi pela primeira vez eu fiquei muito impactado. Eu não esperava, porque eu sou muito enrustido, muito durão, sabe? Mas na primeira vez eu barriei. A coisa vista é muito mais forte do que a coisa lida”. Ele continua, “eu me descontrolei e você sabe que eu sou duro na queda. Me descontrolei duas vezes, quando fui ver a filmagem, que era uma cena que tinha eu chegando com o Marco, ele doente, com AIDS e eu chegar com meu teste negativo. Eu vi essa cena, eles eram tão convincentes que eu tive uma coisa. Depois, assistindo ao filme, também tive um descontrole, na segunda vez, quando vi com ele [Jesuíta], eu já estava vacinado. Enquanto todos choravam ao meu redor, eu comia pipoca”.

“Eu acho que nunca vivi uma coisa tão… um estranhamento tão grande. Porque ali estava o trabalho que a gente fez e ao meu lado a pessoa que projetou todo o trabalho. Teve uma hora que minha cabeça entrou em uma confusão, numa impossibilidade de entendimento do que estava acontecendo. Ainda bem que tinha o Ney do meu lado e ele começou a me fazer carinho. E eu estourei, eu explodi, até hoje não entendi muito bem. Claro que era um contentamento com o que estava vendo, eu estava gostando e tendo todas as memórias do que a gente estudou, e do que a gente ensaiou, e do que a gente viveu em cada cena. Mas, o fato de ter essa pessoa ao meu lado, a importância disso pra feitura desse filme, isso foi um encanto pra mim”, revelou Jesuíta Barbosa.

Ney disse que sua mãe, dona Beita, não irá aos cinemas para apreciar Homem com H, pois aos 103 anos, suas condições físicas e mentais já não são mais as mesmas de antigamente e em alguns momentos ela já nem reconhece mais o filho. Já Jesuíta, estava muito animado para mostrar o filme para sua mãe e revela que ela “está louca para ver porque ela aparece no filme” em uma cena de show. “Ela está louca para se ver”, brinca Jesuíta.

Dono de uma voz inconfundível e de performances memoráveis, Ney Matogrosso morava com os pais e irmãos na pequena cidade de Bela Vista (MS). Os embates com o pai (Rômulo Braga), que insistia que o menino “virasse homem”, levaram Ney a se afastar da família, antes de enveredar para a vida artística. Anos depois de sair de casa, em São Paulo, estreou como vocalista dos Secos e Molhados, ao lado de João Ricardo (Mauro Soares) e Gerson Conrad (Jeff Lyrio), dando início às performances históricas que o definiram como um dos maiores artistas brasileiros da atualidade. O filme também revela as paixões de Ney Matogrosso, entre elas Cazuza (Jullio Reis) e Marco de Maria (Bruno Montaleone), companheiro de Ney por 13 anos.

No elenco, também estão Hermila Guedes como Beíta, mãe de Ney, Carol Abras como Lara e Lara Tremoroux como Regina. A trama é embalada por sucessos como Rosa de Hiroshima, Sangue Latino, O Vira, Bandido Corazón, Postal de Amor, Não Existe Pecado ao Sul do Equador, Encantado, e, é claro, Homem com H.

Ao retratar o período histórico da ditadura militar, Homem com H mostra que a vida de Ney está conectada com a história de um Brasil cercado pela opressão, mas que aspira à liberdade. Resistindo a toda forma de repressão da família e da sociedade, Ney Matogrosso desafiou preconceitos e inaugurou um estilo próprio.

Com sua atitude desafiadora e comportamento que chocava os conservadores, Ney Matogrosso firmou-se não só como um intérprete memorável, mas como uma personalidade que inspira independência e afeto.

Homem com H chega aos cinemas em 1º de maio, com sessões de pré-estreia pagas em várias cidades, à partir de 30 de abril.