Cameron “Cam” Cade (Tyriq Withers) tem uma missão na vida: ser o melhor jogador de futebol americano, o famoso GOAT (termo esportivo que significa O Melhor De Todos Os Tempos). É um sonho que começou na infância, por enorme influência de seu pai (Don Benjamin), que o moldou e o condicionou desde pequeno para alcançar esse objetivo. Durante toda a vida de Cam, esse título pertenceu a Isaiah White (Marlon Wayans), alguém que ele sempre idolatrou. Ele se lembra dele e do pai assistindo ao Super Bowl naquela época, quando o quarterback estrela levou o time a uma vitória de última hora antes de sofrer o que parecia ser uma lesão na perna que encerraria sua carreira. Milagrosamente, White não apenas se recuperou, mas acabou liderando o time nos anos seguintes. Agora, o contrato do oito vezes campeão está chegando ao fim e ele está procurando alguém digno o suficiente para substituí-lo.
Justamente quando sua vez de brilhar parecia inevitável, com uma chance de poder ser o novo quarterback do San Antonio Saviors, Cade é atacado e sofre uma lesão cerebral. Com seu futuro em risco, mas ainda não arruinado, ele é encorajado por seu voraz agente (Tim Heidecker) a treinar com o veterano craque do Saviors. Cam acredita que o futebol é seu caminho para a fama e para se tornar o homem que seu pai imaginou, mas o preço da idolatria é muito maior do que ele imagina. Os primeiros sinais de que algo está errado ocorrem quando Cameron encontra um grupo de pessoas perturbadas e de aparência grotesca, com características de um culto, na estrada para o isolado complexo desértico do astro do futebol.
O treinamento de White é brutal, sangrento e altamente heterodoxo. As sessões de treino terminam com rostos ensanguentados e destruídos. Quando Isaiah convida Cam para treinar em seu complexo, ele já foi avisado por seu médico de que outro golpe na cabeça poderia mandá-lo para o banco para o resto da vida. Com o cérebro ainda em recuperação, Cam descobre que a realidade e o pesadelo se confundem no local. Um médico (Jim Jefferies) fica espetando Cam com seringas que contém algo misterioso e visões horripilantes o perseguem.
GOAT apresenta uma série de situações verdadeiramente desconcertantes, que começa com o mascote do time esmagando o crânio de Cam e vai escalando até o final bizarro e violento do longa. É um filme que se utiliza do terror para tratar de temas como ambição, fama, poder e envelhecimento. Não é um algo com uma crítica sutil ao passatempo favorito dos norte-americanos, o diretor Justin Tipping tem uma visão bastante ácida sobre o futebol americano, que é apresentado quase como um culto que canaliza a agressividade do público para uma forma quase teatral de combate. Então, não pense que irá ver um filme tradicional sobre esportes, já que o foco aqui são os jogos mentais distorcidos, muitos dos quais com consequências de vida ou morte.
Embora comece promissor, na segunda metade se transforma em algo surreal que é mais estranho do que propriamente assustador. A história começa de forma bastante realista, mas só fica mais esquisita a cada momento, com episódios psicodélicos bizarros, que incluem até uma reconstituição visual da pintura A Última Ceia. O filme é visualmente cativante em alguns momentos, como quando os encontros extremamente violentos entre os jogadores de futebol são retratados por meio de efeitos de raio-X, nos quais os danos internos aos seus corpos são vividamente retratados, porém, o recurso é usado com tanta frequência que depois de um tempo se torna ineficaz. A sensação é de que a história está lá simplesmente para servir a esses floreios cinematográficos exibicionistas. Quando chega ao ato final verdadeiramente sangrento, GOAT já saiu dos trilhos há muito tempo.
Ter o nome (amplamente divulgado) de Jordan Peele como produtor, faz com que imediatamente o público crie expectativas de que este terror psicológico esportivo seja elaborado com afinco suficiente para aprofundar seus temas, entre eles, o preço pago pela fama e glória. Mas a narrativa se perde e não tem a coesão necessária para consolidar sua história. Os aspectos de terror têm muito potencial, mas são desperdiçados em uma história que se recusa a se envolver adequadamente com seus temas.
Tyriq Withers (Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado) causa uma impressão poderosa em um papel que exige que ele expresse muita coisa com pouco diálogo, lidando de forma impressionante com a intensa fisicalidade de seu pape. Marlon Wayans está totalmente envolvido como White, sendo muito intimidante como a lenda do futebol cuja destreza não é puramente natural. Ele claramente saboreia cada segundo do que provavelmente é melhor papel de sua carreira. Durante a maior parte do filme,sua atuação parece pertencer a um filme melhor, um que corresponda à tensão e intensidade que esse filme gostaria de ter tido. Julia Fox está divertida como a namorada assustadora e estranha de White.
GOAT tem distribuição da Universal Pictures e estará disponível nos cinemas em 2 de outubro também em versões acessíveis.
Regular
GOAT tenta ser um comentário ousado sobre os bastidores sombrios do culto à fama, à masculinidade e ao esporte, mas acaba deixando a sensação de que a crítica social pretendida ficou soterrada sob o peso do exagero e da ambição estética.