Na segunda-feira, 9 de dezembro, participamos da coletiva de imprensa do filme O Auto da Compadecida 2, que contou com a presença do diretor Guel Arraes, do roteirista João Falcão e do elenco, formado por Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Taís Araújo, Virgínia Cavendish, Fabíula Nascimento, Humberto Martins e Enrique Diaz. Esse encontro aconteceu logo após a primeira exibição do filme para o público, que aconteceu durante a CCXP24 e toda a equipe estava bastante emocionada com as primeiras reações.
A ideia de fazer uma sequência surgiu em 2019, muito por conta dos pedidos do publico por mais João Grilo e Chicó na telona. Afinal, o primeiro filme acabou se tornando praticamente uma mitologia nacional, que habita os corações do povo há mais de vinte anos porque esses personagens representam nosso povo de uma maneira leve.
A trama se passa 20 anos após os eventos do primeiro filme, trazendo de volta a cidade fictícia de Taperoá e seus mais icônicos personagens. João Grilo, que estava desaparecido, volta para se juntar ao seu velho companheiro Chicó. Reza a lenda que ele havia sido morto por bala de espingarda e ressuscitado após um julgamento que tinha o Diabo como acusador, Nossa Senhora como defensora e o próprio Jesus Cristo como juiz.
Trambiqueiro como sempre, ele se torna o principal cabo eleitoral dos dois políticos mais poderosos da cidade, ele faz de tudo para finalmente aplicar o golpe que vai lhe render muito dinheiro e, quem sabe, vida mansa – como se fosse possível que ele se aquietasse. Só que nada sai como planejado e ele acaba alvejado pelo mesmo cabra que o havia matado anos antes. Será que a Compadecida vai intervir para salvá-lo novamente?
Matheus Nachtergaele revela que tanto ele, quanto Selton Mello, tinham bons trabalhos no cinema e televisão, mas que eram mais focados em dramas. Foi com O Auto Da Compadecida que puderam fazer seus primeiros palhaços e se jogarem na comédia. Segundo ele, foi um presente poder adaptar o texto de Ariano Suassuna. “O Guel e Ariano nos deram os maiores personagens cômicos da dramaturgia brasileira para defender”, compartilha o ator de O Auto da Compadecida 2.
Ele completa, “todo sorriso que a gente recebe na rua, Selton e eu, é um pouco para João Grilo e Chicó. Todas as vezes que alguém fala comigo, pergunta ‘cadê teu amigo?’ e meu amigo é o Chicó. É uma dádiva que se estende há 25 anos. É um pequeno milagre poder vestir de novo esses personagens”.
Sobre a preparação para reviver o personagem, Nachtergaele revela que foi fácil, “me apoiei no Selton imediatamente para poder me reconhecer como João Grilo através dos olhos dele. Refletido nos olhos dele, eu tinha a certeza de que era possível brincar de novo de ser palhaço. E principalmente, que é possível gostar de novo desse país e de suas histórias”.
“Como Matheus disse, são os personagens mais populares que fizemos. Nós temos muitos personagens icônicos, mas eles estão no topo da lista”, completa Selton Mello. “Eu tenho a impressão de que nunca parei de fazer esse personagem. Na hora da filmagem, tem alguma coisa maluca que pareceu fácil, no sentido de que era suave”.
“Assim como ele falou que pelos meus olhos ele se via, é isso aí, essa dinâmica se dava. Quando eu vi o Matheus pronto na minha frente, quando ele botou o dentinho, que era a cueca vermelha do Superman, quando ele botou o dentinho torto e foi no set, eu, como milhões de brasileiros, falei ‘é o João Grilo'”, relembra o ator.
Além de trabalhar com seu antigo colega, Selton Mello amou reviver o relacionamento fictício com Virgínia Cavendish, a Dona Rosinha do primeiro filme e de trabalhar com Fabíula Nascimento, que interpreta uma nova personagem nesse universo. Para Matheus Nachtergaele as cenas com o antigo parceiro foram algumas das melhores e também amou os novos vilões, interpretados por Humberto Martins e Eduardo Sterblitch, mas o momento mais impactante foi ver uma de suas melhores amigas, Taís Araújo, como a Compadecida. “Primeiro que a gente se ama muito, Taís e eu, e esse é um momento muito especial para o Grilo. É a hora em que o herói vai viver ou morrer. É a hora que ele precisa do perdão da Compadecida, da ajuda dela. E ser a Taís foi muito forte. Eu tive a sensação de nunca tinha visto algo tão bonito na minha frente. Isso talvez tenha sido, no Auto 2, o momento mais importante”.
Taís Araújo entrou para O Auto da Compadecida 2 como uma nova versão da personagem interpretada por Fernanda Montenegro no primeiro filme e disse que nem pensou, apenas disse sim quando foi convidada para o projeto. Ela revelou que teve muito medo e muitos desafios, mas o desejo de estar nesse projeto era maior do que tudo. “Meu desejo de estar li era muito grande. Foi difícil tirar o figurino. Quando acabou, eu fiquei mais uma hora no camarim vestida como Nossa Senhora. Eu não queria abandonar o que eu estava vivendo ali, queira esticar aquele momento”, revela a atriz.
A atriz compartilhou um dos momentos no set: “eu fui ao set visitar. E no dia que eu fui visitar era o dia do reencontro do João Grilo com o Chicó. E eu ali, no set só vendo. E tinha a figuração cantando e era tudo tão lindo. Aí eu comecei a chorar… Estava tentando me controlar. E quando eu olho pro lado a Luisa Arraes também estava assistindo e estava aos prantos. Aí eu falei, eu posso chorar. Eu tava muito emocionada como espectadora, porque esse filme vive dentro de nós”.
Além de O Auto Da Compadecida, outra obra utilizada como base para a sequência foi A Farsa da Boa Preguiça, de onde saiu Clarabela. Para Fabíula Nascimento, fazer a personagem foi muito interessante por conta do processo teatral utilizado na produção e por ser uma personagem muito privilegiada em relação aos outros personagens do filme. Ela se intromete em amores e toma conta das coisas em que chega perto, se tornando uma personagem bastante divertida.
Outra personagem feminina de destaque é Dona Rosinha, que voltou muito mais empoderada na sequência, apesar de ter sido uma personagem que já sabia de seus desejos no filme original. Segunda sua intérprete, Virgínia Cavendish, “ela não mudou radicalmente, só seguiu o caminho dela. O filme começa, por algum motivo, com um desentendimento e não estamos juntos [Rosinha e Chicó], só que ela não se desmorona por conta disso. O que eu acho mais maravilhoso da Rosinha hoje é mostrar que a mulher, ela é um sujeito muito maior do que apenas uma mulher de um cara, como o cinema e como a sociedade fez a vida inteira com personagens femininos. Ela existe, ela é feliz, ela tem o trabalho dela, ela é uma mulher que tem a vida dela. E o amor romântico é um pedaço disso, mas não a estrutura fundamental da vida dela”.
“O filme se passa na década de 1950, quando as mulheres cuidavam dos filhos, cozinhavam e esperavam o marido chegar do trabalho. Ela não. Ela já tinha seu caminhão, trabalhava e isso é uma mensagem muito bonita porque isso aconteceu há muito pouco tempo. É muito ruim ser mulher e saber que isso acontecia com as mulheres da década de 1950, que elas não puderam viver as vidas delas. É uma homenagem às mulheres. E daqui pra frente é assim, as mulheres tem que tomar o lugar delas. E a Rosinha estava plena, inteira e reencontra o amor de sua vida”, completa a atriz.
“Rosinha é a Simone de Beauvoir do sertão”, brinca Guel Arraes.
Outro retorno é Enrique Diaz, o cabra cangaceiro do primeiro filme que agora ganhou nome: Joaquim Brejeiro. Vinte anos após atirar em João Grilo e enviá-lo para o purgatório, ele acredita fielmente na história da ressurreição do sertanejo contada por Chicó. Depois da morte de Severino no primeiro filme, Joaquim tornou-se jagunço do Coronel Ernani, prefeito da cidade e dono da maior parte das terras.
O Coronel Hernani é interpretado por Humberto Martins, que ficou muito feliz elo fato de que as pessoas não estão o reconhecendo em O Auto da Compadecida 2. “Foi a minha segunda oportunidade de descaracterizar o meu ser, como ator, sempre ali com essa coisa de galã de novela… Eu achei maravilhoso”.
Selton Mello ainda está em uma campanha forte de divulgação do filme Ainda Estou Aqui, que está sendo um grande sucesso do cinema nacional. E agora, também intercala essa divulgação com com o lançamento de O Auto da Compadecida 2, que promete conquistar o público. “Eu e o Matheus sempre fomos muito presentes no cinema brasileiro fazendo filmes arrojados, super comerciais, super estranhos, filmes mais intrigantes, filmes menos vistos, filmes super vistos. A gente quis se testar de várias formas ao longo desses 25 anos, inclusive atrás das câmeras. Esse ano é um ano extraordinário porque a gente sabia que o filme do Walter [Salles] é muito grande, mas a gente realmente não sabia que ia ser um grande acontecimento nas bilheterias do cinema no Brasil. E isso tá sendo maravilhoso porque só eleva o que a gente já faz”.
Ele completa, “pro Auto, foi a melhor coisa do mundo porque preparou a cama pra gente deitar. Porque o público está adorando ir ao cinema. Conseguimos. Tiramos o público um pouco de casa e do streaming para um prazer coletivo. O Auto é a cereja do bolo desse ano”.
Para Guel Arraes, além do amor pelo cinema, o povo brasileiro consegue se identificar muito com os personagens, principalmente João Grilo, pois é um povo batalhador, assim como ele. Matheus Nachtergaele completa, “em qualquer lugar do mundo existe gente pobre, tendo que ganhar a vida à cada dia. A pessoa acorda para viver e no dia seguinte de novo, de novo e de novo… Mas existe um fato que está em Ariano, especialmente, que é pegar esse ser tão amoral, tão sobrevivente e colocar diante dos deuses. Todo mundo vai junto com o Grilo pro céu”.
O Auto da Compadecida 2 chega aos cinemas de todo o Brasil no dia 25 de dezembro de 2024, com distribuição da H2O Films em mais de mil salas de todo o país. A trilha sonora também estará disponível na mesma data.