Crítica | xXx: Reativado é um filme de ação sem medo de ser brega

“Pegar os caras maus, fazer pose e ficar com a garota”, diz Augustus Gibbson (Samuel L. Jackson), ao final do filme, resumindo todo plot – e também quase todos os papéis protagonizados por Vin Diesel ao longo desses dez anos.  A nova continuação de Triplo X baseia-se em recordar o último longa-metragem produzido em 2005, além de começar os novos passos para a continuação da franquia.  A trama é extremamente simplória: Xander Cage está refugiado – e nada se explica sobre sua suposta morte –, mas é obrigado a retornar ao trabalho para recuperar uma arma letal chamada Caixa de Pandora, que foi roubada pela equipe habilidosa e cômica de Xiang (Donnie Yen). Para isso, ele reúne sua equipe de agentes especiais para começar a ação exorbitantemente descompromissada.

O início de Triplo X já escancara que ele não deve se levar a sério e que devemos conduzi-lo somente como um tipo de entretenimento barato. Na primeira sequência somos apresentados ao icônico jogador brasileiro de futebol, Neymar Jr., sendo recrutado por Gibbson para integrar o grupo de seus agentes. O diálogo bilíngue (o jogador responde em português e Samuel L. Jackson em inglês) é raso e sem sentido, seguido de uma sequência onde o atleta faz embaixadinha com o porta guardanapos e chuta-o na cabeça de um criminoso; o tom burlesco que é apresentado segue até o fim do filme. É notável que o roteiro não se preocupa em amarrar a trama central com bons diálogos, subtramas e uma narrativa coesa, mas com ação, piadas mal feitas e endeusando um protagonista sem carisma.

Vin Diesel é colocado como um badboy, esportista, metido a adolescente radical e garanhão na pele de Xander Cage; características já conhecidas pelo acomodado ator que continua a reprisar seus papéis. A figura central de Triplo X torna-se um dos principais pontos negativos, e alguns personagens femininos se destacam e interessam mais, como a própria Adele Wolff (Ruby Rose) e Becky Clearidge (Nina Dobrev), que mesmo esteriótipos de uma mulher durona e uma nerd, entregam muito mais na sua performance.

O diretor D.J. Caruso tenta trazer uma aura pop colocando díspares músicas, escalando atores e figuras da mídia conhecidos pelo público (como Nina Dobrev e o próprio Neymar Jr.), inserindo piada envolvendo Os Vingadores e apresentando os personagens de forma tão fragmentada e grotesca como em Esquadrão Suicida. Caruso utiliza o recurso de imagens estáticas com os feitos e trejeitos de cada um para justificar seus atos durante a progressão da história; um recurso ocioso de roteiro, mas completamente esperado para uma paródia. Já nas cenas de ação (que fizeram Isaac Newton se contorcer no túmulo), o diretor consegue encaixar sua visão e entreter, levando suas sequências ao suprassumo do absurdo.  A atuação do elenco é completamente desperdiçada pelos diálogos pavorosos – e cheios de frases de efeito –, somado ao fato do roteiro não desenvolver e prender o espectador somente ao exagero da ação assídua.

xXx: Reativado não é um filme para todos; terá de existir uma enorme descrença por parte do espectador, além da boa vontade de conduzir o decorrer dele como uma paródia picaresca de filmes de ação. Do contrário, o longa não passa de uma obra ruim e cafona, que questiona a inteligência de seu público com situações vergonhosas. Embora não tenha medo de ser brega, Triplo X não consegue ser necessariamente bom.

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Regular

xXx: Reativado não é um filme para todos; terá de existir uma enorme descrença por parte do espectador, além da boa vontade de conduzir o decorrer do filme como uma paródia picaresca de filmes de ação. Do contrário, o longa não passa de uma obra ruim e cafona, que questiona a inteligência de seu público com situações vergonhosas. Embora não tenha medo de ser brega, Triplo X não consegue ser necessariamente bom.