Crítica | Ted Bundy – A Irresistível Face do Mal

Reprodução/Brian Douglas/Netflix

Ted Bundy – A Irresistível Face do Mal, longa sobre o serial killer mais famoso dos EUA na década de 70, mostra o quanto as pessoas conseguem se fascinar por uma mente tão doentia. Charles Manson e Ted Bundy foram símbolos desta fascínio, conseguindo uma legião inexplicável de fãs.

Bundy era diferente. Era estudante de Direito, sempre bem vestido, charmoso, carismático e inteligente. Era muito fácil enganar suas vítimas, todas mulheres. Quando as primeiras investigações começaram e seu nome começou a se conectar com as mortes de diversas mulheres, ele começou a usar seu charme e sua forma sempre contundente de falar para provar sua inocência.

Essa dicotomia entre a natureza aparentemente carismática de Bundy e os crimes brutais que ele cometeu é o ponto crucial do filme, que traz Zac Efron no papel principal. Além da semelhança física, Efron desempenha uma performance convincente e que captou a figura controversa de Bundy. Seria ele um monstro ou uma vítima?

Escrito por Michael Werwie e dirigido por Joe Berlinger, o longa é inspirado no livro The Phantom Prince: My Life with Ted Bundy, de Elizabeth Kloepfer, a namorada de Bundy na época dos crimes. O filme é contado através dos olhos de sua namorada de longa data, interpretada por Lily Collins, que consegue passar em tela o dano que Bundy causou em sua vida.

O filme não foca nos assassinatos do serial killer, mas na dificuldade de Elizabeth conciliar os supostos crimes do homem que aparentemente demonstrava compaixão por ela e sua filha. De fato, não há dúvidas que Ted sentia apreço por Elizabeth e sua filha. Se não tivesse, ela teria sido assassinada outrora. O filme trabalha com eficiências algumas informações desencontradas sobre os crimes de Bundy, que soube com maestria levantar a dúvida em todo caso que surgia e seu nome estava ligado. Ele era hábil e aproveitava a imprensa sensacionalista para se posicionar de vítima e levantar a dúvida, principalmente, na namorada. O trabalho de Efron é consistente em toda a narrativa. Talvez a grande performance de sua carreira. Ao ser narrado pelo ponto de vista de Elizabeth, acompanhamos o trabalho de Efron como um sujeito comprometido em provar sua inocência. Contudo, o longa não o glorifica. Pelo contrário, deixa nas entrelinhas que Ted era egocêntrico e subestimava que a justiça poderia culpa-lo.

Joe Berlinger estabelece pontos interessantes sobre o relacionamento de Ted e Elizabeth. Os dois são vítimas na história. Mas apenas Ted apresenta falsas motivações. Já Elizabeth, tem motivos para ainda acreditar no sorriso encantador do namorado e no seu olhar penetrante que a faz acreditar na inocência. Embora sem tanto destaque quanto Efron, a atuação de Collins transmite uma mistura de tristeza, confusão e constrangimento. Como ela permitiu ser enganada durante tanto tempo e como ela deixou um monstro dividir o mesmo espaço que ela e sua filha.

O longa apresenta uma perda de ritmo entre o segundo e terceiro ato, quando Elizabeth perde a função no filme, que opta pelas tentativas de fuga de Ted Bundy e até um relacionamento amoroso com a personagem interpretada por Kaya Scodelario, que entra muda e sai calada. Mas há uma uma recompensa quando Ted e Elizabeth finalmente se confrontam.

Ted Bundy – A Irresistível Face do Mal mostra que além dos crimes brutais que causam dor e sofrimento aos parentes das vítimas até hoje, o cinismo e frieza do serial killer serviu para manipular muitas pessoas. Elizabeth, na verdade, não passou de uma ferramenta que o assassino utilizou para cometer seus crimes. Era seu abrigo depois de vitimar dezenas de mulheres. Elizabeth pode não ter sido assassinada por Ted, mas ela sente como se fosse.

3

Bom

Ted Bundy – A Irresistível Face do Mal, longa sobre o serial killer mais famoso dos EUA na década de 70, mostra o quanto as pessoas conseguem se fascinar por uma mente tão doentia.