Chegando a Netflix ainda em 2018, Sementes Podres foi certamente uma ótima adição ao catálogo. Embora não tenha ganho muito destaque em seu lançamento, tal fato pode ser explicado pela estreia de Caixa de Pássaros em um momento próximo. O longa protagonizado por Sandra Bullock era, sem dúvidas, o mais aguardado desse final de ano. E uma produção franco-iraniana sem nenhum rosto conhecido, infelizmente não recebe todo o valor que deveria. Mas uma coisa é certa, Sementes Podres é simplesmente incrível.
O filme começa e nos dá a ideia de que vamos assistir a um daqueles documentários sobre desigualdade social. Cenas reais ilustram o horror e a pobreza em um território da França, indo contra as imagens de primeiro mundo tradicionais. Por trás das luzes da Torre Eiffel, pessoas economizam dinheiro para ter o que comer. Principalmente para nós brasileiros, é um toque realidade necessário. Embora tenhamos nossos (muitos) problemas, não somos essa selva que a mídia prega em suas produções. E já passou da hora de acreditarmos nisso.
Sementes Podres
O que logo chama a atenção no filme, é o quanto ele diverge das tradicionais produções do cinema americano. O ritmo é diferente, visto que as cenas apresentam uma ligação orgânica entre si. A sensação passada, é que o material saiu de uma câmera de um estudante de cinema, e não algo previamente projetado. Há a preocupação em mostrar ao público cada enquadramento das cenas, conseguindo com isso, nos aproximar dos personagens.
Sementes Podres está longe de ser uma produção genérica de Hollywood, onde algum rosto conhecido assumiria o papel principal e o plot twist seria algo previsível desde o começo. No filme, não há a necessidade de grandes cenas de ação ou de um momento ápice, pois tudo se constrói no ritmo e na medida certa. Veja bem, não estamos criticando todos os filmes norte-americanos já produzidos. Porém, basta assistir a poucos minutos de Sementes Podres, para saber que não é algo que vemos com frequência.
A História
O iraniano Kheiron assume o desafio de estar em três lugares ao mesmo tempo. Ele não apenas vive o protagonista Wael, como também dirige e assina o roteiro de Sementes Podres.
Wael estava com o destino escrito, e não era dos melhores. Acostumado a aplicar golpes com sua amiga Monique (Catherine Deneuve), era certo que ele acabaria morto ou preso. Embora as condições para o sucesso dos golpes serem um tanto quanto forçadas, provocam boas risadas no público. E quando um desses golpes dá errado, é dado o ponta pé inicial para o que viria a se tornar o principal enredo do filme.
Para evitar ser preso, Wael acaba aceitando a proposta de Victor (André Dussollier). O homem gerencia um centro beneficente para crianças reprovadas na escola. que comanda uma espécie de organização beneficente que tenta recuperar crianças reprovadas. Fugimos do esterótipo clássico dos jovens delinquentes envolvidos com tráfico. Aqui, os adolescentes não conseguiram passar de ano na escola, e agora estão sofrendo uma punição. E para observá-los, Victor contrata Wael.
O Filme
Sementes Podres surpreende do início ao fim. Nem mesmo quando alguns clichês trazem um ritmo cômico para o longa, é a mensagem por trás da história que contagia. Kheiron não apenas é o protagonista perfeito, como realizou um excelente trabalho como roteirista. O filme é leve, apesar do significado denso que tem. O diretor conseguiu tornar sua produção algo atrativo para um público de diferentes idades. Adultos, jovens e crianças encontrarão elementos interessantes no decorrer da trama, e principalmente, entenderão a mensagem central.
Sementes Podres é uma ótima opção para começar o ano, pois dá aquela dose de realidade necessária. Embora se passe na França, os acontecimentos do filme podem ser espelhados em qualquer sociedade. Wael é um personagem adorável, e conhecer sua história através dos flashbacks é fundamental para melhor entendermos o personagem. Kheiron é um famoso comediante na França, e mesmo que não conheçamos seu trabalho, surpreende ver o talento do ator em uma história de drama.
O roteiro explora os sentimentos de cada jovem, bem como de seu novo mentor. Quando suas vidas se entrelaçam, percebemos que há muito a fazer para aqueles que estão ao nosso lado. Sementes Podres nos dá uma verdadeira aula de cidadania.
Muito Bom
Com uma ótima atuação de seu diretor e roteirista, Sementes Podres nos dá uma verdadeira lição sobre cidadania.