Quatro anos depois de seu último filme (e que filme!) Alexander Payne está de volta e saindo da zona de conforto. Nebraska (2013) seguiu a mesma linha narrativa de outros longas como Sideways e Os Descendentes – road movie, amadurecimento e personagens que encantam por serem nada perfeitos. Seu novo filme, Pequena Grande Vida (Downsizing), abriu o festival de cinema de Veneza de 2017 com deveras elogios. O filme mostra uma nova faceta de Payne. De início, parece uma comédia bobalhona. Mas nas entrelinhas está uma narrativa espetacular, maliciosa e audaciosa. O longa pode ser classificado como um Querida, Encolhi as Crianças (1989) para maiores.
A trama imagina um futuro não tão distante, onde os cientistas de um instituto na Noruega conseguem um processo perfeito para reduzir os seres humanos a pequenas figuras, com cerca de seis centímetros de altura, que podem caber – e viver – confortavelmente em uma aldeia inteira de uma escala de 7 por 11 metros. O intuito é reduzir o consumo de recursos naturais da Terra que estão cada vez mais escassos diante da superpopulação. Na visão de Payne, os humanos são os verdadeiros predadores da natureza e, tudo que almejam é continuar vivendo da mesma forma quando melhor convém. Daí, surge o método do encolhimento, onde continuarão com a rotina gananciosa, individualista, pensando no bem-estar próprio. Só que agora estão pequeninos e consumindo menos.
Co-escrito por seu parceiro regular, Jim Taylor, Payne cria mais um herói defeituoso. E aí que está o encanto. Paul Safranek (Matt Damon) é homem comum que trabalha como terapeuta ocupacional, deprimido por não se tornar um médico. A esposa de Paul, Audrey (Kristen Wiig), sonha em viver numa casa de luxo, que não pode pagar. A alternativa dos dois é encolherem para que possam desfrutar de uma vida hedonista. Ou seja, a objetivo do encolhimento é a riqueza, a realização de sonhos mais sofisticados. A contribuição em fazer melhor para o planeta – é zero.
A performance de Damon é encantadora quando o personagem se encontra perdido em um mundo gigante. A diminuição geográfica pouco teve impacto. Paul começa a se questionar e, se dá conta que tem muito a evoluir. Paul encontra um novo sentido para a vida e como não pode faltar em filmes de Payne, ganha uma jornada de amadurecimento em situações cômicas e repletas de humor ácido.
O longa tem uma interessante reviravolta com a entrada dos personagens de Christoph Waltz e Hong Chau. Waltz sempre se dá bem com personagens sarcásticos. Seu personagem não é bem um vilão, mas está longe de ser um mocinho diante de atitudes nada convenientes. Chau tem uma atuação notável como Ngoc Lan uma fugitiva vietnamita sem uma das pernas. Paul decide ajuda-la. A medida que a relação entre eles se torna mais próxima, Paul não está apenas consertando Lan, mas consertando a si mesmo.
Pequena Grande Vida é um conto divertido e emocionante de Alexander Payne. A jornada de um homem cujos problemas só aumentam quando ele se torna pequenino.
Ótimo
Pequena Grande Vida é um conto divertido e emocionante de Alexander Payne. A jornada de um homem cujos problemas só aumentam quando ele se torna pequenino.