Crítica | Os Oito Odiados convida mais uma vez para o velho-oeste “tarantinesco”

Em seu oitavo filme, Quentin Tarantino decidiu continuar com a temática de Django Livre, o velho-oeste americano, que acabou rendendo ao cineasta o Óscar de melhor roteiro original em 2013. Com o mesmo plano de fundo, os Oito Odiados busca extravasar todas as características marcantes de Tarantino: o roteiro bem intricado e verborrágico, a trilha sonora magistralmente bem escolhida, as críticas pesadas misturadas com piadas sensacionais e as mortes quase “cômicas” de estilo gore. Todas essas características estão presentes no filme e conseguem entregar um bom trabalho do diretor.

Um dos maiores diferenciais de Tarantino, o excelente roteiro, está mais uma vez presente e consegue fazer o espectador ficar imerso nesse “velho-oeste tarantinesco”. A forma não-linear como a história se desenvolve (uma das marcas do diretor), a boa construção dos personagens e o clima de mistério tornam a narrativa extremamente cativante (as quase três horas de filme passam de forma muito rápida). No plot do filme, os personagens estão indo para a cidade Red Rock, mas uma nevasca faz com que John Ruth (Kurt Russell), Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) e Marquis Warren (Samuel L. Jackson) tenham que se hospedar no armazém da Minnie para esperar a passagem da tempestade e, é aí, que a história começa a se desenrolar de fato.

Ao entrar no local, os personagens se deparam com mais alguns hóspedes do lugar e um confronto entre eles parece inevitável. Um dos destaques do filme fica por conta de Samuel L. Jackson, que interpreta um antigo major da Guerra de Secessão dos Estados Unidos que se tornou um caçador de recompensa. O personagem é uma clara crítica ao racismo imperante nos EUA e uma das histórias do ex-major chega a ser difícil de escutar. A personagem de Jennifer Jason Leigh, uma procurada criminosa, também funciona em dueto com o personagem de Kurt Russel, John Ruth, como uma crítica ao machismo da época. Uma das melhores surpresas do filme é a participação de Tim Roth como Oswaldo Mobray, um carrasco que parece ter sido um papel encomendado para Christoph Waltz já que Roth incorporou até os trejeitos do ator austríaco.

É curioso que o maior problema de os Oito Odiados esteja em seu bom roteiro. A reviravolta do final é totalmente fora de contexto e não existe nada que indique esse plot-twist. Isso, deixa a experiência com um gosto amargo na boca que quase compromete toda a experiência do filme. Apesar da tentativa de usar um flash-back para justificar esse ponto, é evidente que Tarantino está tentando consertar algo injustificável de seu roteiro, que também acaba levando a um final não tão interessante como o de outros filmes do diretor. Mesmo com esses problemas, em termos de direção, é notório que o cineasta está em seu melhor momento. A cena inicial que tem ângulos belíssimos e uma música magistralmente bem escolhida ilustra bem esse ponto.

Os Oito Odiados é um bom filme, mas não é nem de longe o melhor trabalho de Tarantino (esse lugar ainda pertence a Pulp Fiction) e o final do longa quase o estraga. Se o filme ignorasse o plot-twist e o último ato, é bem possível que a trama terminasse de uma forma mais interessante e mais condizente com os bons roteiros do diretor.

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  • Bom
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Resumo

Os Oito Odiados é um bom filme, mas não é nem de longe o melhor trabalho de Tarantino (esse lugar ainda pertence a Pulp Fiction) e o final do longa quase o estraga. Se o filme ignorasse o plot-twist e o último ato, é bem possível que a trama terminasse de uma forma mais interessante e mais condizente com os bons roteiros do diretor.