Crítica | O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio

Reprodução/Paramount Pictures

Demorou. Demorou mesmo. Mas finalmente, após três décadas esperando uma sequência decente de O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, a franquia ganha um longa que os fãs tanto esperavam. Quando o sentimento era de mais uma tentativa frustrada de reviver a série desenvolvida por James Cameron, O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio é o melhor filme desde o nostálgico longa de 1991.

O filme dirigido por Tim Miller (Deadpool) segue o velho ditado de fazer o velho feijão com arroz, sem inventar e viajar na maionese como as sequências anteriores estavam fazendo. Para isso, ele repete o time de sucesso trazendo de volta James Cameron, que agora assume a função de produtor e contribuidor da história, além do retorno de Linda Hamilton no papel de Sarah Connor. E claro, não podia faltar Arnold Schwarzenegger com seus incansáveis bordões do T-800. Com os personagens icônicos da franquia de volta, o longa repete a fórmula de sucesso de Star Wars – O Despertar da Força (2015) em misturar o passado e presente para construir uma nova jornada.

O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio é uma sequência direta de O Julgamento Final, ignorando tudo que foi feito ao longo dos anos (ainda bem!). Então, é muito importante que refresque a memória assistindo o longa de 1991 dirigido por James Cameron.

A trama começa em 1997, anos após O Julgamento Final, com Sarah Connor (Linda Hamilton) e seu filho John (Edward Furlong) tentando seguir em frente após os eventos do ano de 1991. Contudo, o futuro que os dois tentaram tanto evitar chegou, e a sequência inicial é um verdadeiro baque. 22 anos se passaram, e acompanhamos Connor movida a culpa e arrependimento. É nítido que os anos foram duros para Sarah, que agora só pensa em eliminar todos os exterminadores. Seu caminho se cruza com das jovens Grace (McKenzie Davis) e Dani Ramos (Natalie Reyes). Grace é uma humana evoluída que veio do futuro para proteger Dani, uma mexicana vista como a chave para o futuro da raça humana. O trio precisará de ajuda para sair do encalço do novo modelo de exterminador vivido por Gabriel Luna.

Destino Sombrio é inteligente o suficiente para aproveitar o potencial de seus personagens. Linda Hamilton tem um retorno triunfante como Sarah Connor. O papel é dela, ponto. A atriz de 63 anos domina o filme e explora com eficiência o passado melancólico da personagem. Ela é sisuda, às vezes de poucas palavras, mas com um carisma implacável. O esperado reencontro com Arnold Schwarzenegger é muito mais do que nostalgia gratuita. O filme soube explorar com propriedade o que o momento representa para os dois. E pela primeira vez, o filme  soube explorar a presença de T-800. A participação do carismático androide é pequena, mas pontual. E o longa apresenta uma nova faceta do personagem. Com anos convivendo entre os humanos, Schwarzenegger exibe com eficiência o lado emocional, mostrando que os exterminadores são capazes de absorver e entender os sentimentos humanos. Por fim, foi possível ver um homem detrás daquele grandalhão cibernético. Por outro lado, a performance de Gabriel Luna é uma versão mais atualizada e letal do exterminador de Robert Patrick no filme de 1991. O ator não decepciona e desempenha excelentes sequências de ação.

Contudo, o longa se apoia nas personagens femininas, avisando a macharada que as mulheres se saem muito bem no braço. No papel de Grace, Mackenzie desempenha uma atuação eletrizante. Ela convence no físico e no emocional, oferecendo camadas que se assemelham à jornada de Kyle Reese. Completando o girl power, Natalie Reyes entrega uma boa performance como Dani Ramos; não se deixando intimidar com os nomes pesados que contracena. Aos poucos, ela constrói seu espaço. De início, parece a pobre garota em apuros, mas logo demonstra que é tão forte quanto suas parceiras.

Mesmo que não tenha dirigido, o toque de James Cameron neste filme é inegável. O diretor Tim Miller aproveita ao máximo essa parceria. Mas ele não replica tudo que Cameron fez no passado. Há um estilo nos filmes da franquia com lutas eletrizantes entre os cenários e planos sequência de tirar o fôlego. Miller entendeu a mensagem e foi capaz de criar o seu próprio estilo. Porém, a habilidade do novo exterminador, capaz de separar a forma humana de seu endosqueleto robótico, é uma qualidade e defeito de Miller. Qualidade, porque ele aproveita os cenários para criar empolgantes sequências, mas é um defeito porque deixa o terceiro ato um pouco arrastado. Ele acaba se prolongando para mostrar que seu novo exterminador é o mais completo de todos. Por fim, as sequências de luta são tão ferozes e plásticas quanto seu antecessor.

Com a personagem central do longa sendo mexicana, Tim Miller e James Cameron aproveitam a situação política dos EUA para abordar o tema sobre refugiados. O primeiro ato faz uma dura e necessária crítica sobre a forma como os americanos enxergam os refugiados.

Foram necessários 28 anos para O Exterminador do Futuro se encontrar. Destino Sombrio não veio para definir gênero, mas mostrar que existe uma brilhante luz no fim do túnel para os fãs que não aguentavam mais tanta frustração com a franquia. Tim Miller foi quem mais soube aproveitar o que tinha em mãos, apresentando uma boa história para agradar os antigos fãs e conquistar novos. Uma conhecida, mas sempre ótima receita. Se for bem desenvolvida.

4

Ótimo

Demorou. Demorou mesmo. Mas finalmente, após três décadas esperando uma sequência decente de O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, a franquia ganha um longa que os fãs tanto esperavam.