Crítica – ‘O Abutre’

O Abutre

O Abutre, título nacional de Nightcrawler, longa que marca a estreia na direção do roteirista Dan Gilroy (de O Legado Bourne), nunca caiu tão bem. A ave que praticamente espreita para se alimentar da carniça de cadáveres é o grande símbolo deste interessante longa, que faz uma dura abordagem sobre o jornalismo sensacionalista sempre se aproveitando do sofrimento para vender notícias, pouco se importando com a dor e a privacidade dos envolvidos.

Estrelado por Jake Gyllenhaal, que nos últimos anos vem emplacando excelentes papeis, a trama acompanha Lou Bloom, um gatuno meia boca que vaga pelas ruas durante a noite praticando pequenos golpes. Quando abordado pelas autoridades, o sujeito tresloucado demonstra uma personalidade doentia e que não teme nada. Para Bloom, não existem regras e não existe a lei. Viciado em internet, o jovem logo aprende do que a humanidade é movida: voyeurismo.

Com uma câmera amadora, Bloom começa a vigiar cada indivíduo em busca de captar acidentes, roubos, assassinatos ou qualquer tipo de delito que possa atrair os olhos do público. Sua maneira nada correta de trabalhar atrai os olhos de Nina (Rene Russo), uma editora de um programa de TV sensacionalista que o contrata como freelancer.

Em sua melhor atuação, Jake Gyllenhaal está transformado tanto fisicamente como psicologicamente. O ator perdeu cerca de 12 quilos para o papel e seu semblante de alguém que não dorme e não se alimenta é evidente em tela. Sua persona lembra deveras Travis Bickle, o taxista interpretado por Robert De Niro em Taxi Driver (1976). Os dois sujeitos evitam relações interpessoais, demonstram sintomas de sociopatia e são obcecados pela mídia. Bickle está sempre ligado na TV e suas frases de efeito repetem quase tudo que assiste. O mesmo acontece com Bloom, que passa boa parte de sua rotina acompanhando tudo na internet e os noticiários na TV.

O ótimo roteiro elucida que não há limites para o “jornalismo” atual. A obsessão pela audiência é capaz de situações repudiantes, que vão desde a invasão de privacidade e todo o sensacionalismo em torno da morte de alguém, principalmente quado é uma pessoa pública. O que mais entristece e enoja durante o longa, é que a sociedade contribui para que esse tipo de jornalismo (se é que podemos classifica-lo assim) continue em evidência.

Ao final do longa, que busca dialogar com o público, fica a deixa de que nossa sociedade é extremamente animalesca e cruel. Pouco evoluímos para ser bem sincero. Se não procurássemos as situações que o longa apresenta, esse tipo de prática não aconteceria. Se condenássemos, por exemplo, as fotos de famosos em situações constrangedoras (só lembrar o recente caso das fotos íntimas de Jennifer Lawrence), as corretas punições e providências seriam tomadas. Enquanto isso, continuamos vivendo como abutres vigiando e julgando tudo que está em volta.

  • Ótimo
4

Resumo

Ao final do longa, que busca dialogar com o público, fica a deixa de que nossa sociedade é extremamente animalesca e cruel. Pouco evoluímos para ser bem sincero. Se não procurássemos as situações que o longa apresenta, esse tipo de prática não aconteceria. Se condenássemos, por exemplo, as fotos de famosos em situações constrangedoras (só lembrar o recente caso das fotos íntimas de Jennifer Lawrence), as corretas punições e providências seriam tomadas. Enquanto isso, continuamos vivendo como abutres vigiando e julgando tudo que está em volta.