Crítica | Mentes Sombrias: roteiro fraco prejudica excelente elenco e ótima história

Mentes Sombrias, de Alexandra Bracken, foi um dos melhores livros de ficção que li em 2018. No Brasil, foi publicado pela Editora Intrínseca com a capa temática do filme. Quando descobri que o mesmo seria adaptado para o cinema, mal pude conter a ansiedade. Com a divulgação do elenco, a euforia que já era grande só aumentou. Estamos falando, afinal, de nomes como Mandy Moore (de This Is Us) e Gwendoline Christie (de Game of Thrones). De uns tempos pra cá, inúmeras histórias envolvendo distopias foram surgindo, principalmente com um(a) protagonista adolescente. Mentes Sombrias não foge disso, mas elementos únicos descritos no livro tornam a trama especial.

Por ser uma crítica de opinião negativa em relação ao filme, há quem possa dizer a tradicional frase “mas é uma adaptação, não cópia”. Como fã de ficção que sou, já tive a oportunidade de ver inúmeros trabalhos destoando da história original, mas que nem por isso tiveram um resultado ruim. Em Mentes Sombrias, muitos dos numerosos detalhes presentes no livro foram ignorados. Detalhes estes, que não podiam ter sido dispensados para que a produção coubesse no tempo estimado. Quando inseridos nas cenas, propiciariam que o filme fosse melhor compreendido pelo público, ao invés de resultar em um material confuso e sem nexo.

Lançado como um filme dos mesmos produtores de Stranger Things e A Chegada, Mentes Sombrias precisa aprender – e muito – com essas duas outras produções.

Mentes Sombrias

A história é centralizada em Ruby Daly (Amandla Stenberg, de Jogos Vorazes). A menina inicia o filme um pouco antes de completar 10 anos, época em que uma grande doença se alastra pelos Estados Unidos. Embora misteriosa, a enfermidade elimina cerca de 90% das crianças do país entre 10 e 14 anos. Mesmo que a questão da idade não tenha sido mencionada no filme, é algo a ser considerado. Ao passo que muitas perderam a vida, um grupo numeroso de jovens sobreviveu, mas diferente do esperado, eles se tornaram o verdadeiro problema. A razão que fez com que o seleto grupo não perecesse foram suas perigosas habilidades mentais. Aqueles que não as tinham, ou seja, os adultos, passaram a temê-las.

Quando enfim completou 10 anos, Ruby foi levada pela polícia até Thurmond, uma espécie de campo de concentração onde crianças tinham seus cérebros estudados. Lá eram separados em cinco cores, de acordo com suas habilidades. Verdes e azuis são a maioria, seguidos pelos amarelos. De acordo com a “pirâmide das habilidades” laranjas e vermelhos são considerados os mais perigosos, com destaque para os primeiros. Por isso, foram os mais caçados pelo governo e no momento em que Mentes Sombrias se passa, estão quase extintos. Como boa distopia adolescente, a protagonista obviamente é da cor laranja.

Mentes Sombrias
Reprodução (o que falar dessa analogia desnecessária a Jogos Vorazes?)

Ruby

Quando finalmente consegue sair de Thurmond, Ruby descobre que a vida fora dos muros não é tão melhor assim. A menina logo percebe que vai ter que se virar sozinha, sem confiar nos adultos. Felizmente, enquanto tentava fugir mais uma vez, ela esbarra em Zu. A menininha é uma amarela, razão pela qual pode controlar a eletricidade. Quando resolve segui-la, Ruby descobre a existência de Liam e Charles – ou Bolota, para os íntimos. Mais uma vez, como boa distopia adolescente temos um casal protagonista. Embora não seja evidente no primeiro encontro, não é preciso muito para saber que aqueles dois ficarão juntos em algum momento.

Com o grupo formado, eles embarcam em uma jornada rumo a um refúgio, onde acreditam que enfim terão uma vida calma e sem estresse. Contudo, nem tudo são flores quando o assunto são pessoas com poderes sobrenaturais. O desfecho da história, vamos deixar para que você veja no cinema.

O Que Achamos?

Sinceramente, não há melhor maneira de responder essa pergunta do que: uma grande decepção. Mentes Sombrias tinha todo potencial para se tornar a nova franquia de sucesso envolvendo uma adolescente em um cenário distópico. Entretanto, embora tenha mirado em Jogos Vorazes, o longa acertou em cheio em Eu Sou O Número Quatro. O filme é confuso e extremamente mal explicado para quem não leu o livro. Eu ,que já o tinha feito, compreendi diversas cenas pelo conteúdo que li na história original. Caso você a conheça, provavelmente achará o filme menos pior do que ele realmente é.

Mentes Sombrias
Divulgação

A sensação que temos é a de que não houve a menor preocupação em fazer sentido. O roteiro é bastante fraco, quase inexiste. Mesmo que seja uma produção de ação, é preciso que haja uma coesão entre as cenas. Os principais momentos da trama estão ali, mas não há nada que os conecte. É óbvio que não dá para colocar tudo que há no livro, mas partes importantes foram deixadas de lado. Parece que os ápices de cada capítulo foram escolhidos e simplesmente jogados na tela.

Referências?

Após sair do cinema, tive a impressão de ter assistido a um compilado de cenas de outras sagas famosas. É praticamente impossível não fazer uma analogia a Jogos Vorazes, Divergente e até mesmo a Vingadores: Guerra Infinita. Vale lembrar que a analogia a este último filme chega a ser cômica de tão ruim que ficou (#ThanosChegou). Não pense que estou falando de referências, pois estas estão presentes no filme e são muito bem recebidas. A maneira escolhida para interpretar alguns momentos do livro, porém, não poderia ter sido mais errada e/ou equivocada. Muitas das analogias não existem na história original e sua adição só prejudicou o material que já era ruim. Uma vez que é possível ver o número de recursos que o filme tinha a disposição, os mesmos poderiam ter sido repensados e melhor trabalhados.

O Elenco

A escolha do elenco foi realmente muito boa. Talvez tenha sido ele que, inclusive, evitou o fiasco total de Mentes Sombrias. O grupo formado por Ruby, Liam, Bolota e Zu é ótimo, e os atores se encaixam perfeitamente no ideal que se tinha dos personagens. Sabemos do potencial de Amandla Sternberg e o que a atriz oferece no filme não é nem metade disso. Mas não pense que ela é a culpada, pelo contrário. É possível ver que Sternberg só está seguindo um roteiro, que uma vez fraco, a impede de exercer tudo aquilo que sabemos ser capaz.

Mentes Sombrias
Reprodução

Harris Dickinson (Liam), Skylan Brooks (Charles) e Miya Cech (Zu) se enquadram muito bem nos amigos de Ruby. Com destaque para Brooks, que nos proporciona altas gargalhadas durante o filme, eles adicionam o caráter jovial que o longa precisa. Embora seja recheado de mortes e violência, estamos falando de crianças e adolescentes. Outro nome que deve ser mencionado entre os mais jovens é o de Patrick Gibson, no papel de Clancy Gray. O menino pode ser considerado o grande vilão de Mentes Sombrias, e em poucos minutos de aparição na tela, já se torna odiável.

Mandy Moore e Gwendoline Christie

Por fim, não podíamos deixar de mencionar o nome dos adultos, afinal, dois deles estão sendo mencionados entre os destaques do elenco. No ar como Rebecca em This Is Us, Mandy Moore aparece durante cerca de 10 minutos. Sim, apenas isso. Pior ainda são as cenas envolvendo Gwendoline Christie. Tendo como referência sua personagem em Game of Thrones, era de se esperar algo minimamente excelente para sua personagem, ou ao menos que ela tivesse chance de mostrar seu talento. 5 minutos foi o tempo em que a Lady Jane permaneceu em tela. Pra que investir em duas artistas de nome e potencial enorme, se as mesmas não teriam espaço para mostrá-lo?

Em suma, Mentes Sombrias poderia ser a próxima franquia de sucesso após Jogos Vorazes. Mas o descaso da direção em relação ao roteiro e a história original, resultou em um filme que será brevemente esquecido pelo público. Ainda bem que temos o livro!

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Resumo

Mentes Sombrias poderia ser a próxima franquia de sucesso após Jogos Vorazes, visto que tem uma base excelente e um elenco ótimo! Mas o descaso da direção em relação ao roteiro e a história original, resultou em um filme que será brevemente esquecido pelo público. Ainda bem que temos o livro!

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