Simplesmente fantástico! Não há palavras que possam descrever a emoção que sentimos ao sair da sala de cinema. Há muito não via tamanha comoção por parte dos críticos diante de uma obra de Steven Spielberg. O livro homônimo de Ernest Cline já havia sido um fenômeno mundial na época de seu lançamento em 2012, mas nada supera o impacto que o filme terá. Seis anos depois, o longa vem para nos mostrar que ainda é possível uma adaptação superar o livro. Todas as expectativas em relação a Jogador Nº 1 foram superadas após os 140 minutos do filme. Embora pareçam longos, tais minutos passam muito rápido. Conhecido por dirigir produções como E.T. – O Extraterrestre e A.I. – Inteligência Artificial, Spielberg pode certamente adicionar Jogador Nº 1 a sua lista. O filme está entre seus melhores filmes, e certamente será lembrado por muito tempo.
O Filme
O ano é 2045 e o mundo está à beira do caos. Todas as realidades convergem para um único lugar: o OASIS. Criado pelo brilhante e solitário James Halliday (Mark Rylance), o OASIS é uma espécie de macrocosmo de realidade virtual. Lá é possível ser quem ou o que você quiser.
Wade Watts (Tye Sheridan) é um dos moradores desse universo. Wade se encaixa na fatia da população que passa fome, obrigando-o a fugir para o OASIS sempre que possível. Ele é o maior expert em Halliday que existe. Desde cedo, o menino se tornou obcecado pelo trabalho e pela vida pessoal do gênio, sabendo inclusive as falas de seus filmes favoritos. Para tristeza de Wade, em 2040 Halliday morreu, embora todo o seu legado tenha permanecido.
Com uma fortuna avaliada em meio trilhão de dólares, Halliday não tinha herdeiros. Como uma última jogada, o bilionário criou uma corrida dentro do OASIS. O prêmio? Todo o seu dinheiro, além de controle de todas as ações do jogo. Halliday esconde um easter egg dentro do OASIS, assim como três chaves que levarão ao prêmio final. Não era de espantar que o mundo inteiro se envolvesse na competição. A motivação de cada pessoa, porém, é a grande questão do filme.
Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn) é o grande vilão, um magnata dono da corporação IOI, a segunda maior empresa do mundo. Com acesso a diversos hackers, tecnologias e recursos, ele está disposto a tudo para colocar as mãos no ovo. Sorrento não se importa com o OASIS, e muito menos com a imagem de seu dono. Igualmente ganancioso é iR0k (T. J. Miller), uma espécie de avatar em forma de monstro, com acesso as piores armas e bombas.
O Que Achamos?
Assim que soube que Jogador Nº 1 viraria um filme, confesso ter ficado apreensiva. Os direitos da produção foram comprados antes mesmo do lançamento do livro. Após a divulgação do trailer, tive certeza que iria me decepcionar. Entretanto, depois de 140 minutos de filme, não conseguia parar de encarar os créditos, desejando que começasse tudo de novo.
É muito prazeroso quando não encontramos algo para criticar em um filme. O enorme talento de Spielberg somado ao roteiro de Ernest Cline resultou no que pode ser considerado um dos melhores filmes do ano até agora – ou o melhor.
Uma das melhores características do filme é o fato de não ser destinado a um público específico. As crianças podem não entender referências, mas certamente ficarão encantadas com os gráficos do OASIS. Os adultos por sua vez, talvez não achem o jogo tão divertido, mas irão ter uma grande e gostosa onda de nostalgia. Os jovens ficarão no meio termo. Enquanto entendem alguns dos easter eggs, se surpreendem com a fotografia do filme. Spielberg não poderia ter feito algo melhor!
Os fãs do livro talvez sintam falta de alguns dos momentos descritos por Cline. Com tantas referências e cenas de ação, o enredo original serviu para dar molde a trama. A maneira escolhida para recriar tais momentos, porém, ficou longe de ser ruim. Na obra original não tínhamos a chance de perceber certos detalhes visuais, que eram descritos. A escolha do diretor baseou-se em criar algo que fosse igualmente bom para quem conhece a história e para quem está acabando de descobrir. Mas não fique triste por ter lido o livro, existem elementos no filme que só você irá entender. E você certamente irá se sentir abraçado por vê-los representados.
Referências, referências, referências…
O filme todo se constrói em volta de inúmeros easter eggs, mas muitos mesmo! Embora boa parte deles faça referências a filmes e jogos da década de 80, duvido você não reconhecer a maioria. Mesmo que os fãs passem todo o filme procurando, Spielberg certamente não se preocupou em focar individualmente em cada easter egg. E isso é o traz tanta qualidade a produção. O diretor reuniu referências e as combinou para que se encaixassem em determinada cena. Algumas são bem explícitas, como o DeLorean de Parzival e o Gigante de Ferro de Aech (Lena Waithe).
De mesmo modo, aparições de criaturas gigantescas, como King Kong e T-Rex, não são tão emocionantes quanto aquelas escondidas nos cantos das imagens. Não pensem que a menção aos monstros seja apenas uma maneira de Spielberg inflar seu ego, longe disso. Entretanto, diante de tantos robôs gigantes, como o Mechagodzilla, se tornou quase que necessário trazê-los a tela.
Jogador Nº 1
Embora os ingressos de cinema estejam cada vez mais caros, esse é um filme que vale a pena investir na sala de melhor tecnologia. Jogador Nº 1 tem que ser visto em uma tela gigante, com tecnologia 3D e um som potente. O visual do longa é simplesmente sensacional. Os momentos que se passam no OASIS, por exemplo, são recheados de efeitos especiais de altíssima qualidade. É praticamente impossível não se sentir dentro do videogame.
A transição entre o mundo real e virtual é muito sútil e não fica algo forçado. Os personagens “artificiais” são muito bem desenhados, ao mesmo tempo que não revelam nada de seu criador. Em um filme que se passa metade no mundo real, metade dentro de um videogame, ter tudo feito apenas por efeitos especiais acabaria com o encanto.
Mesmo que indiretamente, Spielberg faz uma crítica as grandes corporações industriais do universo da cultura pop. Enquanto milhares de fãs fazem enormes sacrifícios para vencer os desafios, empresários só estão interessados na renda que aquele jogo terá. Sorrento pode não ter sido baseado em uma pessoa real, mas certamente pode ser encontrado por aí.
Resumo
Jogador N° 1 é uma das melhores produções de Steven Spielberg dos últimos tempos. Toda e qualquer expectativa que era possível ter antes do filme, ao final dele foi certamente superada. Um dos melhores filmes do ano, senão o melhor até agora.