Crítica | Green Book – O Guia diverte e aborda levemente os efeitos do racismo

Victor Hugo Green ficou conhecido nos anos 1930 por escrever o guia chamado The Negro Motorist Green Book, um livro que continha informações e notas sobre os restaurantes, hotéis e outros serviços que aceitavam a presença de pessoas negras. O livro foi um grande sucesso e logo haviam guias para várias cidades dos Estados Unidos. Ainda assim, o autor esperava que no futuro nenhuma pessoa precisasse desse tipo de guia.

Green Book – O Guia é um filme baseado em fatos reais que conta a história de Dr. Don Shirley (Mahershala Ali), um pianista afro-americano reconhecido em todo o país por seus talentos que está prestes a sair em turnê pelo Sul nos anos 1960. Ele precisará de um motorista e de proteção, por isso recruta Tony “Lip” Vallelonga (Viggo Mortensen), um italiano que trabalha como segurança em uma boate no Bronx. Apesar das diferenças, os dois homens desenvolvem uma amizade inesperada enquanto enfrentam situações que envolvem racismo em uma época de segregação.

Os bastidores do longa têm alguns problemas, o maior deles sendo o fato de que a família de Dr. Don Shirley não foi consultada pelo diretor e roteirista. Quando o filme foi lançado, a família alegou que haviam algumas imprecisões na história, até mesmo disseram que Dr. Shirley e Tony Vallelonga – que também é roteirista do longa – nunca se tornaram amigos. Se os dois homens nunca se aproximaram, então toda a base do filme se torna uma mentira. Mas, amizade verdadeira ou não, Green Book- O Guia é um belo filme que, com um tom de comédia, disseca os efeitos do racismo.

O filme trás uma espécie de “inversão” dos típicos filmes sobre o racismo no sul dos EUA. Em Green Book, Don Shirley, é um homem negro que vive como um príncipe em seu trono, ele é sofisticado, possui várias formações e nunca comeu frango frito. Já o italiano Vallelonga come como um porco, não sabe se portar e está sempre metido em alguma briga. Ainda assim é o homem refinado que não consegue um lugar para ficar, que não é atendido e que é tratado como escória.

Certamente os dois protagonistas seguram o filme do começo ao fim. Mortensen com seu personagem cômico, grosso e com um forte sotaque italiano, causa certa aversão logo de cara, mas aos poucos vai se encantando com o pianista e vai se redimindo aos olhos do público. Já Ali é pura elegância e consegue transmitir toda a dor e raiva de seu personagem de forma muito natural e impactante.

Green Book – O Guia é um filme de entretenimento puro, mas ainda assim foi utilizado para mostrar como os negros eram desumanizados e desvalorizados e lembrar o público que as pessoas ainda hoje sofrem um grande número de dificuldades simplesmente por sua cor. E, ainda que de forma simples e sentimental, mostra que o preconceito pode ser superado quando as pessoas aprender a respeitar e admirar os que são diferentes.

Green Book – O Guia já está em cartaz nos cinemas brasileiros.

  • Ótimo
4

Summary

Green Book- O Guia é um belo filme que, com um tom de comédia, disseca os efeitos do racismo, nos lembra que as pessoas ainda sofrem por sua cor e ainda nos leva a crer que o preconceito pode ser superado.