Definitivamente não estava preparada para assistir Gabriel e a Montanha. Sem saber ao certo do que se tratava, escolhi o filme em meio a muitos outros exibidos no Festival do Rio e a produção entrou entre as melhores do ano, em minha opinião. O longa é mais uma das provas de que menos é mais, levando dois prêmios na Semana da Crítica de Cannes sem utilizar um único efeito especial para conquistar o espectador. O diretor Fellipe Barbosa retorna aos holofotes de festivais após ganhar destaque com “Beijo de Sal”, “Laura” e “Casa Grande”, e a bela homenagem à família de Gabriel não poderia ter sido dirigida por pessoa melhor.
“Antes de entrar para uma Universidade americana de prestígio, Gabriel Buchmann decide viajar o mundo por um ano, carregado de sonhos. Depois de dez meses na estrada, ele chega ao Quênia determinado a descobrir o continente africano. Até chegar ao topo do Monte Mulanje, seu último destino”
Cheguei à sala de cinema sem saber ao certo do que se tratava a produção, tendo lido apenas a sinopse. Por ser o lançamento do longa no Festival do Rio, toda a equipe de produção estava presente, assim como o ator intérprete de Gabriel, João Pedro Zappa. Lá tive a oportunidade de conhecer uma pequena parte da família do brasileiro, e então comecei a entender a narrativa que estava por vir. Recomendo a quem não conhece a história, não procurar fazê-lo antes de ver o filme, pois apesar de toda a repercussão que teve na mídia, foi o elemento surpresa que causou tanto impacto em mim. Apesar do final trágico, a pureza e a delicadeza presentes no longa, somadas a realidade dos elementos, resultaram em algo extremamente bonito e marcante de se ver.
O filme foi dividido em quatro capítulos, representando os quatro últimos locais escolhidos por Gabriel durante seu ano na África: Quênia,Tanzânia, Zâmbia, e Malaui. Buscando construir aos poucos a imagem do protagonista para quem não conhece, a narrativa inicia de maneira calma e divertida, mostrando o lado moleque e aventureiro do rapaz. Apesar de terem a mesma idade, Zappa parece ser mais novo do que Buchmann na época, o que só corrobora para a interpretação do adolescente destemido que vemos na tela. Os coadjuvantes são, apesar do termo, igualmente importantes para a construção da trama como um todo, nos ajudando a entender as situações descritas na tela e acrescentando a elas a realidade necessária.
O elemento chave do filme é entender Gabriel, que apesar de ser o menino determinado e explorador que vemos, também tinha seus momentos irresponsáveis e difíceis de lidar. Determinado até o último minuto, Buchmann não estava disposto a desistir de seus desejos, mesmo quando pessoas experientes o aconselhavam a não seguir em frente. Outro ponto importante e que para mim foi o grande provocador das lágrimas derramadas no cinema, foram os breves comentários feitos por aqueles que conviveram com Gabriel em seus últimos momentos, pessoas simples e que ofereceram-lhe nada mais do que companheirismo e um teto. Em um mundo de tantas atitudes cruéis, ver a gentileza e simplicidade das pessoas para com Gabriel é muito bonito, e fundamental para a imagem do longa como um todo.
A maior parte do elenco escolhido pelo diretor não é de atores, mas ficamos tão imersos na história do rapaz que isso passa despercebido. Com mais de duas horas de duração, pensei que se tornaria algo chato depois de um tempo. Me enganei. A medida que o final se aproximava, torcia para que não acabasse e que mais um pouco da vida de Gabriel fosse contado. Como muitos não tive a oportunidade de conhecê-lo, mas tive a honra de ver o trabalho de João Pedro Zappa, que se encaixou perfeitamente no personagem. Os trejeitos, as expressões e os momentos impetuosos do menino pareciam surpreendentemente reais, como se tudo aquilo tivesse realmente acontecido com ele. Uma ótima aquisição, para uma história puramente bonita e triste ao mesmo tempo.
Gabriel e a Montanha me surpreendeu da melhor maneira possível, trazendo lágrimas aos olhos de todos que derem uma chance ao filme. Carregado de emoções e realismo, a produção é mais um belo acerto do diretor Fellipe Barbosa – e do ator que interpreta Gabriel. Comprovando que não é preciso muito para produzir algo de boa qualidade, o longa chega ao Festival do Rio para felicidade do espectador. Definitivamente uma bela homenagem ao brasileiro de 28 anos, que enfrentou seu destino enquanto realizava sonhos. Graças ao belo trabalho da produção, estes sonhos agora rodam o mundo e fazem sucesso por onde passam.