Crítica | Fullmetal Alchemist: Filme serve de base para quem não conhece a obra original

Adaptar para o cinema um fenômeno popular é uma tarefa nada fácil. Os fãs mais fervorosos sempre esperam que seja fiel ao material original. Contudo essa fidelidade acaba sendo relativa. Não dá pra copiar tudo e transferir para as telonas. Adaptação significa o ajuste, mais precisamente a utilização de um objeto para um fim diferente daquele a que se destinava originalmente.

É o que acontece com Fullmetal Alchemist, versão live-action do mangá de Hiromu Arakawa, que ganhou dois animes nos anos 2000. O longa busca atrair o público que não está familiarizado com a obra. Por aí, o filme foi eficiente. O longa serve como impulso para que esse público busque o mangá ou anime. Já os fãs nostálgicos podem estranhar algumas mudanças que a adaptação tomou.

Dirigido e co-escrito por Fumihiko Sori, o longa apresenta um incrível prólogo com os jovens irmãos Edward e Alfonse Elric no início da prática da alquimia. Eles tentam trazer a falecida mãe de volta à vida, porém os resultados são desastrosos. Embora o filme não consiga explicar com eficácia, transmutar um humano é uma violação da lei. Ninguém nunca conseguiu trazer um ser humano do mundo dos mortos. Os que tentaram pagaram um alto preço. O custo para Edward é a perda de uma perna, enquanto Alfonse paga com seu corpo. Ed consegue um acordo dentro de um domínio metafísico conhecido como Porta da Verdade. Em troca de um de seus braços, Ed tem permissão para manter a alma de Al viva dentro de uma armadura medieval.

Alguns dos mais de sessenta episódios do anime Brotherhood detalham o crescimento de Ed cercado de culpa por tentar realizar uma transmutação humana. Ele guarda uma dor por ter provocado o destino de seu irmão mais novo. Sua saída é se tornar um Alquimista Federal e buscar a Pedra Filosofal, que pode ser o único meio de recuperar sua perna e braço, e o corpo de Al. A adaptação peca em não trabalhar essas motivações, já dando um salto temporal com os dois adultos.

Ryosuke Yamada está bem caracterizado como Ed, e sim, também é baixinho como o personagem. O visual da armadura de Al (voz de Atomu Mizuishi) está idêntico ao anime. No que diz respeito a parte técnica, o longa está impecável. O orçamento foi bem utilizado nos efeitos visuais (mas no primeiro ato, depois faltou), destaque para a sequência inicial de perseguição ao Padre Cornello. O figurino está regular, representando o mundo alternativo do século XX idealizado por Arakawa.

Contudo, o deslize da produção está no roteiro. Durante o segundo e terceiro ato, há idas e saídas rápidas de personagens secundários, servindo apenas como fan service. Os que conseguem se sobressair são: o coronel Roy Mustang (Dean Fujioka), que ganha maior importância no filme, o carismático capitão Hughes, brilhantemente vivido por Ryuta Sato, e o professor Shou Tucker (Yo Oizumi), que conseguiu ser mais odiado aqui do que na obra original.

Outros personagens pontuais ou foram deixados de lado para uma possível sequência (é o caso de Scar, Izumi, Armstrong, Rose, entre outros) ou foram mal utilizados como Winry, a amiga de infância dos irmãos Elric e, responsável pelas próteses mecânicas de Ed. A linda Tsubasa Honda pouco tem a oferecer, não apresentando nem 5% do potencial que Winry tinha para a narrativa.

Há decisões corajosas que alteraram o curso da história original. Como uma adaptação foram decisões aceitáveis. Em vez de mostrar uma penca de personagens, que no anime tem episódios exclusivamente dedicados para suas ações, o filme tomou uma sábia decisão em aproveitar mais de personagens como Mustang e Tucker.

No mais, Fullmetal Alchemist é um bom filme para quem está adentrando pela primeira vez nesse universo. Didático e que consegue contextualizar os elementos importantes da obra original. Só por não ter sido a zorra, desordem, caos que foi Death Note, já foi um alívio.

Os fãs brasileiros terão um motivo especial para assistir o filme na versão dublada. Parte dos dubladores do anime estão de volta e o trabalho está impecável.

Ps: Há uma cena pós-créditos que deixa um caminho aberto para a sequência.

3

Bom

No mais, Fullmetal Alchemist é um bom filme para quem está adentrando pela primeira vez nesse universo. Didático e que consegue contextualizar os elementos importantes da obra original. Só por não ter sido a zorra, desordem, caos que foi Death Note, já foi um alívio.