Crítica | Fragmentado é a volta por cima de M. Night Shyamalan

M. Night Shyamalan surgiu sob a alcunha do diretor da nova geração depois dos formidáveis O Sexto Sentido (1999) e Corpo Fechado (2000). Contudo, Hollywood é traiçoeira. Da mesma forma que te coloca no topo, te derruba feio. Shyamalan sofreu com isso com as produções seguintes, que foram até boas como Sinais (2002) e A Vila (2004). Com o passar dos anos, ele ficou marcado apenas como o cineasta dos plot twists (as viradas de cena que surpreendem nos atos finais).

Depois do ótimo A Visita (2015), que reafirma o diretor com um dos melhores do gênero thriller, Fragmentado é a sua volta por cima. Um filme surpreendente que trabalha com eficiência drama, comédia e terror e, com um twist para deixar os espectadores de queixo caído.

A trama é centrada em Kevin (James McAvoy ), um portador de 23 personalidades distintas que tem capacidade de alterar sua química corporal por meio do pensamento e passa a agir de maneira incontrolável. Mas conforme aprendemos ao longo do filme, existe uma 24ª identidade que ameaça emergir. Essa identidade é “a besta”, e ela tem fome por carne humana que o define como “alimento sagrado”. Um dia, ele sequestra três adolescentes que encontra em um estacionamento. Vivendo em cativeiro, elas passam a conhecer as diferentes facetas de Kevin e precisam encontrar algum meio de escapar.

O filme possui três narrativas. A primeira, que serve de pano de fundo para o filme, segue o rapto das três adolescentes nas mãos de uma das personalidades atormentadas de Kevin. O segundo segue a relação de Kevin com sua psiquiatra Dr. Fletcher (Betty Buckley), que revela o paciente estar demonstrando sinais preocupantes de instabilidade, apesar de seu progresso de longa data. A terceira, e mais importante, segue a adolescente raptada Casey (Anya Taylor-Joy), em flashbacks de infância onde seu pai a ensinou a ser uma sobrevivente e seu tio a distorceu com a realidade mais cruel e sinistra da vida.

Shyamalan é eficaz em mostrar os dois lados de pessoas que sofreram abuso. Kevin e Casey são faces da mesma moeda. Ambos guardam sequelas, mas seguiram caminhos diferentes. Kevin criou as 24 personalidades, enquanto Casey se tornou uma garota anti-social. Não é a toa, que Kevin por meio de uma das personalidades sente uma conexão com a garota.

Como já de costume em obras do diretor, Fragmentado parece ser um filme de garotas tentando escapar de um homem perigoso. Mas, as viradas sutis logo mostram que a história tem muito mais para entregar. O filme também consegue trabalhar o humor de maneira eficiente. Cenas divertidas distraem, deixam o público relaxado. Com isso, as cenas assustadoras causarão maior impacto no espectador. M. Night Shyamalan repete a mesma fórmula de A Visita com humor e terror, mais uma vez se saindo bem.

Fragmentado não funcionaria sem um ator do calibre de McAvoy, que dá um show. O ator consegue apresentar com eficiência cada personalidade alternando do divertido para assustador apenas com nuances sutis. O britânico com cara de bom moço está irreconhecível e realiza um dos grandes trabalhos da carreira.

Apesar dos excessos em seu ato final que pode se resumir em uma mistura de Dragão Vermelho, Identidade e, estranhamente, Jurassic Park, M. Night Shyamalan incorpora esses momentos de forma orgânica, reverente e visceral. Ao final, Fragmentado é um dos filmes mais pensativos e o melhor do cineasta em anos. Aquele filme que te deixará reflexivo após o surpreendente final.

Ps.: O filme continua durante os créditos finais. Fiquem atentos. 

4

Ótimo

Apesar dos excessos em seu ato final que pode se resumir em uma mistura de Dragão Vermelho, Identidade e, estranhamente, Jurassic Park, M. Night Shyamalan incorpora esses momentos de forma orgânica, reverente e visceral. Ao final, Fragmentado é um dos filmes mais pensativos e o melhor do cineasta em anos. Aquele filme que te deixará reflexivo após o surpreendente final.

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