Crítica | Forte elenco fazem de Bird Box um suspense interessante

Bird Box

Bird Box é a adaptação Netflix do romance homônimo de 2014 escrito por Josh Malerman. A premissa lembra dois ótimos filmes: Um Lugar Silencioso (2018) e Ensaio sobre a Cegueira (2008), o último também inspirado em livro. Dirigido por Susanne Bier (Em Um Mundo Melhor), o longa flerta com suspense, ação, melodrama e a figura metafórica do pássaro preso na gaiola, que já se encontra entre os principais memes nos últimos dias.

Mesmo diante de uma ótima premissa em mãos e um competente elenco encabeçado pela vencedora do Oscar Sandra Bullock, o filme fica entre deslizes e acertos.

O Filme

A história é centrada em Malorie (Bullock), uma mulher recém-separada que está esperando um filho. Ela despeja suas frustrações pintando quadros sombrios e sem vida. Com a ajuda da irmã (Sarah Paulson), Malorie tenta sair da prisão que própria criou (sua residência). Ela não imagina que tal aprisionamento como um passarinho na gaiola será algo corriqueiro daqui pra frente. Ela e a irmã testemunham uma misteriosa entidade que leva as pessoas ao suicídio. Misturando presente e passado, Malorie se torna uma sobrevivente com seus dois filhos em busca de um abrigo seguro. Contudo, ela e as crianças precisam estar sempre com os olhos vendados quando estão em locais abertos. Basta um único olhar para morrer.

Construção do suspense

Bird Box é um bom suspense, mas que não soube construir com mais eficiência seu cenário. Em um longa que trabalha a ausência de sentido, aqui a visão, faltou deixar o telespectador angustiado. Isso acontece em algumas cenas. A câmera sempre foca na visão turva dos personagens diante da venda. Uma escolha interessante, mas que poderia ser melhor desenvolvida. Faltou fazer com que o público sentisse a ausência da visão. Planos mais fechados e o ângulo da câmera causaria a mesma angústia vivida pelos personagens.

Elenco

Não restava dúvida que Sandra Bullock desempenharia uma ótima performance. A atriz segura muito bem os núcleos de passado e presente. Do seu ponto de vista, o público fica mais a par dos acontecimentos trágicos que Malorie enfrentou. Contudo, a trama fica presa apenas no círculo de Bullock. Faltar dar mais voz aos coadjuvantes, que são ótimos. Sarah Paulson, John Malkovich e Trevante Rhodes são baita atores, mas que foram subaproveitados. Mesmo um personagem caricato, Malkovich tem apenas um único momento de importância no filme. Rhodes ganhou mais espaço pela parceria que exerce ao lado de Bullock. Os dois atores possuem ótima sintonia e o relacionamento entre eles acontece de forma orgânica.

Ritmo ágil

Bird Box mantém uma narrativa fluida e ágil. Em nenhum dos três atos o longa causa marasmo ou cansaço, que acontece com alguns filmes do gênero. O filme não se preocupa em explicar a origem da misteriosa força que causa os inúmeros suicídios. O roteiro constrói um quebra-cabeça para que quem está assistindo busque as soluções. Se prestar atenção, a solução está bem clara. E o terceiro ato entrega a resposta.

Mesmo pecando no desenvolvimento, o segundo para o terceiro ato parte para uma empolgante aventura. Largando de vez o suspense e o terror.

O que achamos?

Bird Box possui um final bonito e esperançoso. Uma característica presente em filmes de Susanne Bier, que sempre beiram no melodrama. Malorie encarou uma catástrofe global para superar seus medos. Apesar de não deixar claro, há uma possível analogia da solidão/traumas com os monstros que perseguem as vítimas. No primeiro ato, uma vítima se comunica com a mãe já morta antes de se atirar no fogo. Por outro lado, pessoas com problemas psicológicos como o homem preso no supermercado e Gary não cometem suicídio.

O sujeito preso no supermercado é um ex-detento da ala psiquiátrica e Gary demonstra um comportamento anormal. Talvez a entidade não os procure porque eles já estão vivendo seu próprio inferno, lidando com seus próprios monstros. Essa relação solidão e traumas psicológicos com os monstros poderiam ser melhor explicadas. Uma pena, pois levaria Bird Box para outro nível.

3

Bom

Mesmo diante de uma ótima premissa em mãos e um competente elenco encabeçado pela vencedora do Oscar Sandra Bullock, o filme fica entre deslizes e acertos.