Aviso: este texto possui spoilers
A espera finalmente acabou. Esquadrão Suicida está chegando aos cinemas de todo o mundo com a missão de suprir as (muitas) expectativas dos fãs. O filme traz uma galeria de vilões para o universo cinematográfico em construção, colocando-os no papel de heróis contra suas vontades e fazendo-os agir em prol da sociedade e do governo americano. A premissa do filme é simples: juntar as piores pessoas com as mais diversas habilidades, controlá-las para fazer algum bem e, como prêmio, reduzir suas penas presidiárias. O enredo do filme baseia-se na junção desses personagens pela figura icônica de Amanda Waller (Viola Davis), mas a própria realização do esquadrão resulta no advento de sua primeira missão: impedir que Magia (Cara Delevingne) destrua a Terra.
David Ayer tinha tudo nas mãos para trazer novos ares aos filmes baseados em quadrinhos, além de ter a oportunidade de trazer algo inovador ao gênero. Infelizmente, o diretor desperdiça a oportunidade de ter ótimos elementos a sua disposição para trazer uma história enfadonha e fragmentada do início ao fim. Esquadrão Suicida perde-se entre as expectativas do material divulgado e a sua triste realidade: estar muito aquém do prometido. O filme se passa após os eventos de Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016, Warner Bros), onde é mostrado como a população e os governantes do país reagiram à morte do Superman. Com a ausência do kryptoniano, assim como a ausência do Batman (que é explicada na cena pós-crédito), Amanda Waller vê uma brecha para iniciar seu Esquadrão Suicida com os piores dos piores: Amarra (Adam Beache), Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), El Diablo (Jay Hernandez), Pistoleiro (Will Smith) e Katana (Karen Fukuhara), sendo todos liderados por Rick Flag (Joel Kinnaman).
O início é muito apressado, onde Amanda Waller introduz os personagens de forma célere. As cenas são com flashbacks curtos e rasos, mas preenchidos com fan services e as participações especiais de Batman (Ben Affleck) e Flash (Ezra Miller). Os backgrounds explorados do início ao fim do filme dão profundidade (se é que podemos achar alguma dentro de 130 minutos de filme) somente a duas personagens de destaque na trama: para a Arlequina e para o Pistoleiro. Ambas histórias remetem a pessoas que ambos amam, sendo respectivamente, o Coringa (Jared Leto) e a filha do assassino de aluguel. O restante dos membros do Esquadrão Suicida são jogados dentro da história, embora tentem ser desenvolvidos de forma pífia durante o restante da trama. O grupo não tem química entre si, e falta timing durante os momentos que seriam cômicos. As melhores piadas foram liberadas previamente nos trailers e clips do filme, não resguardando muito material para o produto final. Pela metade do filme você pode até se questionar “Quando começa a ficar bom?“, mas a resposta é: “Não fica“.
A edição do filme peca pelo excesso de cortes rápidos, não dando tempo das cenas se desenvolverem naturalmente para que haja empatia com os personagens que acompanhamos. Desde o início, percebe-se a pressa em juntar cada um deles e colocá-los na missão para a ação se desenrolar durante o segundo e terceiro ato. A história, mesmo apresentando os personagens brevemente no início, ficou dividida entre o presente e os flashbacks que persistem em ocorrer durante toda progressão da trama – e isso incomoda. Uma vez que os personagens foram unidos de forma rápida e seu background contado de forma rasa, seria mais pertinente deixá-los se desenvolverem ao longo da missão, focando na interação entre cada um ao invés de continuar com os cortes rápidos para um passado que de nada soma à trama. A trilha sonora do filme é igualmente problemática, embora que haja ótimas músicas, uma vez que Esquadrão Suicida vem com a proposta de ser pop. As músicas não se encaixam com os momentos, e são simplesmente jogadas ao longo do filme, tornando-se o oposto de Guardiões da Galáxia (2014, Marvel Studios), onde cada faixa é escolhida a dedo para algum momento do filme.
O arco principal da história se baseia no Esquadrão Suicida realizando a missão de salvar o mundo, mas paralelo a isso existe outra história: uma história de amor. Protagonizada por um homem de vestes espalhafatosas, de pele extremamente alva e meio louco da cabeça. O único problema é que ele tem cabelo verde, usa batom vermelho e é chamado de Coringa. David Ayer realmente queria mostrar um lado diferente da figura maquiavélica do palhaço do crime, e conseguiu. Sua participação é desnecessária e prejudica o andamento da história principal, além de não haver uma cena completa mostrando a interação do Coringa com outros personagens. Todas as cenas que o envolvem sofrem de cortes e mais cortes, não dando tempo e espaço para a interpretação de Jared Leto engrandecer, além de dá-lo um papel amoroso extremamente duvidoso para os conhecedores do personagem.
Esquadrão Suicida tem alguns bons momentos, entretanto, a maioria desses baseiam-se em torno da figura do Pistoleiro e sua jornada do início ao fim do filme, trazendo alguns picos emocionais que realmente funcionam e acrescentam para sua história. Outro ponto positivo a se destacar são as atuações de Margot Robbie, Viola Davis e Will Smith, que conseguem encarnar de forma exímia suas personagens. Posto isso de lado, esse é um filme problemático que não encontra o seu tom e não sabe a que veio. O melhor filme do Esquadrão Suicida será aquele imaginário que ficou nas nossas cabeças após as incríveis montagens de cada trailer. David Ayer se preocupou mais em encurtar as vestes da Arlequina na pós-produção e em dizer “Foda-se a Marvel”, do que em contar uma boa história. Esquadrão Suicida foi tudo que queria ter sido em termos de material de divulgação, mas esqueceu do principal: de ser um filme.
Resumo
Esquadrão Suicida é um filme problemático que não encontra o seu tom e não sabe a que veio. David Ayer tinha tudo nas mãos para trazer novos ares aos filmes baseados em quadrinhos, além de ter a oportunidade de trazer algo inovador e realmente novo ao gênero. Infelizmente, o diretor desperdiça a oportunidade de ter ótimos elementos a sua disposição para trazer uma história enfadonha e fragmentada do início ao fim. Esquadrão Suicida perde-se entre as expectativas do material divulgado e a sua triste realidade: estar muito aquém do prometido.