Crítica | Duas Rainhas e a dificuldade de comandar em um mundo machista

Mary Stuart foi trazida à vida várias vezes em filme, talvez a versão mais famosa tenha sido o filme de 1971 Mary Stuart, Rainha da Escócia, com Vanessa Redgrave no papel título. Mais recentemente, a personagem foi interpretada por Samantha Morton em Elizabeth: A Era de Ouro de 2007 que estrelava Blanchett em sua segunda interpretação da Rainha Elizabeth. Blanchett, claro, fez o retrato mais aclamado e bem conhecido recentemente de Elizabeth I, mas tem havido inúmeras outras representações na tela da rainha, incluindo duas pela lendária Bette Davis.

Agora Saoirse Ronan (Lady Bird – A Hora de Voar) e Margot Robbie (Eu, Tonya) se engajam em intrigas política históricas no drama de realeza Duas Rainhas . As indicadas ao Oscar Ronan e Robbie interpretam Mary Stuart e a Rainha Elizabeth I no longa de Josie Rourke (Much Ado About Nothing).

Baseado no livro de John Guy, Queen of Scots: The True Life of Mary Stuart (Rainha dos Escoceses: A Verdadeira Vida de Maria Stuart, em tradução livre), Duas Rainhas segue a tumultuada vida de Mary, que deixa para trás o trono da França para retornar à sua terra natal, a Escócia, na tentativa de recuperar sua coroa legítima. Isso a coloca em conflito com sua prima Elizabeth I, que vê a presença de Mary como uma ameaça direta à sua própria posição como rainha da Inglaterra. O drama por trás da coroa trata de traição, rebelião e conspiração com as rivais Mary e Elizabeth navegando nos perigos de serem mulheres governantes em um mundo de homens.

O filme de Josie Rourke se beneficia de temas feministas, das performances notáveis​​ de Ronan e Robbie e obviamente de toda a parte visual, com uma fotografia linda, figurino incrível e maquiagem impecável, mas o filme é arrastado. O filme lembra as peças de Shakespeare em alguns momentos, com muita intriga, flertes românticos e monólogos apaixonados. E Ronan, uma das atrizes mais versáteis e talentosas de sua geração, está cercada por talentosos atores coadjuvantes.

Mas boas atuações por si só não tornam um filme bom. Duas Rainhas muitas vezes é lento. A única coisa que mantém o público realmente conectado, além da beleza no geral, é a vontade de finalmente ver as duas rainhas se encontrando pessoalmente – encontro que supostamente nunca aconteceu na vida real, mas que deu vida a uma das cenas mais esperadas do filme e que gerou uma discussão acalorada entre as duas personagens, que nessa versão apenas querem ser amigas, mas o mundo machista que as cerca impede que isso aconteça.

Para os mais puristas, o filme ainda tem outras incoerências históricas, além do encontro das rainhas. Algumas que até quem não entende nada de história das monarquias consegue perceber, como a inclusão de diversas etnias em ambas as cortes das rainhas, além de um cortesão homossexual amigo de Mary.

Duas Rainhas vale a pena por seus aspectos técnicos e pelas interpretações, mas o roteiro deixa a desejar. O filme tinha um grande potencial que não foi alcançado, o que não o torna necessariamente um filme ruim.

Duas Rainhas, que foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Figurino e Melhor Maquiagem e Cabelo, já está em cartaz nos cinemas brasileiros.

3

Bom

Duas Rainhas vale a pena por seus aspectos técnicos e pelas interpretações ótimas tanto de Saoirse Ronan quanto de Margot Robbie, mas o roteiro deixa a desejar, por ter incoerências históricas e tornar o filme um pouco arrastado.