Crítica | Doutor Sono

Reprodução/Warner Bros. Pictures

Quase 40 anos depois, o clássico O Iluminado ganha uma continuação sob muita expectativa. Afinal de contas, estamos falando da sequência da obra de Stephen King dirigida por Stanley Kubrick. Doutor Sono, desta vez, chega sob aval de King, que sempre detestou O Iluminado pela forma que Jack Torrance, personagem de Jack Torrance, foi retratado em cena. Faltou a empatia que existe no livro.

Não querendo cometer o mesmo erro e objetivando agradar seu criador, Mike Flanagan conduz Doutor Sono com competência e faz um terror recheado de interessantes camadas. É mais um drama psicológico, mas que sabe aproveitar toda a atmosfera soturna de Kubrick. As referências estão lá e, muito bem utilizadas.

Depois de uma incrível sequência inicial, ambientada momentos depois do final de O Iluminado, acompanhamos o que aconteceu com Danny Torrance após os eventos no Hotel Overlook. Na faixa dos quarenta e poucos anos, agora vivido por Ewan McGregor, ele ainda não sabe lidar com os fantasmas que ainda o perseguem. O seu dom é visto como uma maldição, e ele decide afoga-la no alcoolismo. Ao buscar ajuda, ele acaba arrumando emprego em um asilo, onde usa seu dom para o bem. Ele usa seu brilho para preparar os pacientes que estão partindo deste mundo. Daí, ganha o apelido de Doutor Sono. Quando tudo parece entrar nos eixos, seu caminho cruza com o da garota Abra Stone (Kyliegh Curran), dotada de um imenso poder. Contudo, a garota está sob a mira do Verdadeiro Nó, uma espécie de seita liderada por Rose, a Cartola (Rebecca Ferguson), e que se alimenta do brilho dos iluminados.

Doutor Sono possui muitas virtudes. Além do cenário que remete bastante ao longa original, Mike Flanagan cria excelentes sequências de terror psicológico, como a cena na fábrica abandonada envolvendo a participação especial de Jacob Tremblay. As referências ao filme O Iluminado são mais do que fan service. Elas fazem parte da narrativa para o momento mais esperado do último ato. Sim, ninguém estava preparado para o retorno de Danny ao Hotel e reencontrar uma figura importante do passado.

O filme não teria o mesmo peso se não fosse pelas performances de seu elenco. Ewan McGregor foi uma escolha acertada. Diferente de Jack Nicholson, que assumiu no original uma postura amedrontadora, McGregor é um homem gentil, doce, mas quebrado por dentro. Sua naturalidade ao encarar fantasmas, deixam o telespectador ciente de que ele já passou por muitas coisa. A relação com Abra – vivida pela novata Kyliegh Curran – cria um elo afetivo entre os dois. A relação com a garota desperta em Danny algo que foi esquecido em sua infância. Indiretamente, era como se ele estivesse esperando Abra para colocar o ponto final nos eventos do passado que ainda o assombram. A jovem Kyliegh Curran tem uma performance arrebatadora, segura e cheia de autoridade. Nem parece que a atriz está desempenhando seu primeiro grande papel nas telonas, tamanha a maturidade em cada cena.

Por fim, Doutor Sono é o filme que cobra o preço pelo comportamento destrutivo de Jack Torrance, deixando feridas nunca mais cicatrizadas em sua família. O preço ficou nas costas de Danny, que mesmo vulnerável pelo vício em drogas e álcool, conseguiu encarar seus demônios interiores para, finalmente, encontrar a luz que acreditava jamais existir dentro de si.

4

Ótimo

Por fim, Doutor Sono é o filme que cobra o preço pelo comportamento destrutivo de Jack Torrance, deixando feridas nunca mais cicatrizadas em sua família. O preço ficou nas costas de Danny, que mesmo vulnerável pelo vício em drogas e álcool, conseguiu encarar seus demônios interiores para, finalmente, encontrar a luz que acreditava jamais existir dentro de si.