Death Note foi um dos animes mais populares dos anos 2000, que conseguiu conquistar uma legião de fãs com seu roteiro envolvente e mitologia intrincada. Mesmo já tendo algumas adaptações em live-action para o mercado japonês, o longa da Netflix buscava trazer o anime/mangá para uma audiência maior. Entretanto, a cada nova notícia sobre a adaptação, muitos fãs se questionavam da qualidade e fidelidade do que estava por vir e, infelizmente, o resultado é bizarro.
Na trama original, um brilhante estudante japonês, Light Yagami, encontra um caderno chamado Death Note, que tem o poder matar qualquer pessoa que tenha seu nome escrito nele. Munido de tal arma, Light decide se tornar o deus do novo mundo, Kira, punindo os bandidos e transformando o mundo num lugar melhor. Entretanto, Light não contava com a intervenção de L, um excêntrico jovem detetive, que está determinado a encontrar Kira e o levar a justiça. Um dos diferenciais da obra é justamente o embate intelectual entre Light e L, que no filme é totalmente esquecido.
É inegável que o filme se esforça para adaptar os conceitos do mangá, mas a necessidade grosseira de inserir a trama num ambiente americanizado é pífia. Os primeiros minutos de filme mostram um típico high school, o que já dá o tom do que está por vir. É torturante ver que quase todos os conceitos filosóficos da obra de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata foram ignorados, ou simplesmente pincelados, para dar lugar a relações pessoais ridículas, bullying e conceitos superficiais de justiça, que não fazem o menor sentido se levarmos em conta o material original e toda a proposta do mangá.
O maior problema do longa é o desvirtuamento de pontos chaves da trama. A relação originalmente meramente funcional de Light e Mia é transformada no tema central do filme, o que apenas corrobora para a bizarrice da adaptação. O fraco pano de fundo dado a Light o transforma em uma mera vítima da sociedade ao invés de um sociopata frio e calculista, que estava apenas entediado com o mundo ao seu redor.
Outro ponto totalmente mal adaptado é a relevância de Ryuk para o desenrolar dos acontecimentos. Enquanto no enredo original o entediado shinigami apenas assiste e esclarece o funcionamento do caderno, aqui o deus da morte tem papel fundamental nas ações de Light, o que tira toda a autoridade, maluquice e superioridade presentes originalmente no estudante. Além do mais, a atuação de Nat Wolff como Light é vergonhosa e digna de pena em alguns momentos, mas justiça seja feita todas as atuações são pavorosas. Talvez a única atuação que se salve é a de Willem Dafoe como Ryuk.
Keith Stanfield também entrega uma atuação péssima, que não lembra em absolutamente nada o genial e interessante L. Em nenhum momento o ator consegue passar a inteligência e estranheza inerentes do personagem, restando apenas uma pessoa inteligente comum sem nenhum traço psicológico do personagem original.
A peculiar e marcante estética gótica cristã de Death Note foi totalmente esquecida para dar lugar a uma paleta de cores e uma ambientação, que se resume a praticamente qualquer filme adolescente pós-Crepúsculo e que não acrescenta em nada em um filme já totalmente esquecível.
Death Note tinha um caminho mais fácil para ser adaptado como uma produção ocidental, entretanto, os vários desvirtuamentos da obra original, a fixação em transformar a trama em um filme de high school comum, o foco em relações pessoais bizarras e as fracas atuações fazem de Death Note um dos piores filmes de 2017 e uma das piores adaptações de mangá de todos os tempos. Se você quer realmente conhecer a obra original, basta assistir ao anime que está todo disponível na própria Netflix.
Péssimo
Death Note tinha um caminho mais fácil para ser adaptado como uma produção ocidental, entretanto, os vários desvirtuamentos da obra original, a fixação em transformar a trama em um filme de high school comum, o foco em relações pessoais bizarras e as fracas atuações fazem de Death Note um dos piores filmes de 2017 e uma das piores adaptações de mangá de todos os tempos.