Crítica | Cobain: Montage of Heck

Mesmo ciente do destino trágico de Kurt Cobain, que já completou 21 anos, Cobain: Montage of Heck ainda choca ao entrar fundo na mente do líder do Nirvana. “Eu deveria ter feito algo”, diz o baixista Krist Novoselic, se arrependendo de não ter conversado ou buscado ajuda quando o amigo e parceiro de banda demonstrava sinais de que não estava bem. Enquanto muitos taxaram Cobain de um drogado suicida, o diretor Brettt Morgen dissemina que o músico era muito mais do que isso.

Com um material inédito de vídeos, fotos e o diário pessoal, Morgen contou com o apoio da família de Kurt, incluindo a viúva Courtney Love e a única filha, Frances, que assumiu a produção do projeto em parceria com a HBO.

De início, nota-se que a vida do músico foi complicada desde a infância quando fora abandonado pela própria mãe, Wendy, que não demonstra remorso quando lembra do falecido filho. A relação com o pai, Don, foi praticamente nula. Os desentendimentos e a separação dos pais forçaram o jovem Kurt a se mudar de casa em casa dos parentes mais próximos. Tímido e nada sociável na escola, Kurt abandonava as aulas e teve seu primeiro contato com as drogas. Durante essa fase conturbada, ele conheceu o punk rock e começou a escrever músicas em seu diário, a tocar guitarra e o resultado todos sabemos: o surgimento da banda mais influente dos anos 90, o Nirvana.

Montage of Heck faz referência à fita cassete gravada por Kurt em 1988. Muita coisa inédita foi descoberta como depoimentos pessoais, trechos inéditos de músicas e covers dos Beatles, uma de suas bandas favoritas. De uma maneira eficaz, Morgen utiliza algumas passagens e depoimentos de Kurt na fita em forma de animação, o que nos permite entrar em sua mente confusa.

É evidente que as músicas compostas era uma maneira de expor sua raiva e insegurança atreladas ao seu talento. Muitos jovens passaram a se identificar com os anseios de Kurt com o lançamento do popular álbum “Nevermind”. Enquanto os fãs e o movimento grunge de Seattle usavam toda aquela rebeldia e a maneira de se vestir como forma de superar seus problemas, Kurt Cobain se afundava ainda mais, já deixando transparecer que seu desfecho seria trágico.

Mesmo com a mente em constante erupção, o documentário exibe momentos íntimos com Kurt brincando a filha, claramente sob o efeito de heroína, ao lado de Love. As cenas chocam, mas ao mesmo tempo exibem o lado mais humano e de rara felicidade do músico. Infelizmente para Kurt e muitos artistas que também perderam a vida repentinamente, as drogas eram um meio de escape.

Morgen utiliza trechos de icônicas apresentações do Nirvana, como o emblemático show no Hollywood Rock realizado no Rio de Janeiro em 1993, a única vinda da banda ao Brasil.

Diante desta jornada musical, é esperado um final feliz, mas daí acompanhamos Courtney Love na penumbra narrando os últimos dias com Kurt. A relação dos dois estava desgastada, algo que o próprio cantor enfatizou nas letras do álbum “In Utero”, o último de inéditas. Depois de uma tentativa de suicídio em Roma quando ingeriu cerca de 60 comprimidos, o que deixou seu estômago arrebentado, Kurt Cobain tirou sua própria vida em abril de 1994 com um tiro na cabeça em sua casa.

21 anos depois, a voz estridente de Kurt continua viva e o seu legado intocável.

  • Excelente
5

Resumo

Mesmo com a mente em constante erupção, o documentário exibe momentos íntimos com Kurt brincando a filha, claramente sob o efeito de heroína, ao lado de Love. As cenas chocam, mas ao mesmo tempo exibem o lado mais humano e de rara felicidade do músico. Infelizmente para Kurt e muitos artistas que também perderam a vida repentinamente, as drogas eram um meio de escape.