Crítica | Cemitério Maldito funciona, mas não consegue manter a essência do romance original

Cemitério Maldito é um dos muitos romances do mestre do terror Stephen King. O livro, baseado em acontecimentos da própria vida do autor, foi publicado em 1983 e segue a família Creed, formada por Louis, Rachel e seus filhos Ellie e Gage, quando eles se mudam da cidade grande para o Maine rural em busca de uma vida mais tranquila e um lugar melhor para as crianças. A nova propriedade fica ao lado de uma rota de caminhões onde os veículos passam muito acima da velocidade o dia todo e a estrada acaba reivindicando primeiro a vida do gato de estimação da família, Church, e depois a vida do jovem Gage. Felizmente (ou infelizmente) o cemitério de animais nas proximidades fica no caminho para um cemitério mais antigo, onde as coisas que são enterradas podem voltar à vida, embora elas não sejam exatamente as mesmas.

A primeira adaptação do romance para as telonas aconteceu em 1989 e agora, depois de trinta anos, foi decidido que o clássico do terror merecia uma versão mais moderna e repaginada.

No esforço para tornar Cemitério Maldito mais assustador e nos padrões do terror atual, a nova adaptação perde de vista o que tornou o romance original tão aterrorizante em primeiro lugar, além de fazer mudanças radicais em relação ao texto original. Os romances de King são muito valorizados por trazerem o medo de uma forma com a qual seu leitor (ou o espectador) possa se relacionar. Apesar de possuir muitos elementos utilizados no gênero, como corpos ensanguentados e “zumbis”, o mais aterrorizante de Cemitério Maldito é que mostra o pior pesadelo de um pai: a morte de seu filho – e o que um pai se torna capaz de fazer para reverter o acontecido e acabar com sua dor. O foco não está nos sustos em si, artifício bastante utilizado na nova adaptação.

Outro fator nada sobrenatural e extremamente assustador é a doença terrível que leva Zelda, a irmã de Rachel Creed, à morte. Porém, na adaptação, obviamente uma doença grave não é aterrorizante o suficiente a personagem foi transformada em algo digno de filme de terror, monstruosa e levemente diabólica.

Mas o maior problema com essa adaptação, no entanto, é que toda a série de eventos terríveis não acontece apenas pela recusa de Louis em aceitar a finalidade da morte. No romance, Louis traz de volta Chuch e, mesmo sabendo que o gato não voltou o mesmo, decide trazer de volta Gage. Trazer Gage de volta leva à morte de Rachel, mas quando Louis tem uma oportunidade de finalmente deixar as coisas de lado, lamentar sua esposa e filho e ser grato pela filha que ele ainda tem, ele ainda se recusa a parar. Convencendo-se de que ele esperou demais para trazer Gage de volta e por isso ele voltou uma pessoa ruim, Louis decide repetir o processo com Rachel – uma decisão que finalmente o condenou. O romance de King é tanto uma tragédia quanto uma história de terror e é isso que faz com que seja tão eficaz. Já na nova adaptação, Louis traz Ellie de volta e então o foco passa a ser o fato de que ela se tornou algo demoníaco com desejo de sangue, perdendo toda a tristeza e tragédia que o romance tenta passar.

Mas não se engane, Cemitério Maldito de 2019 não é um filme totalmente ruim, ele apenas oscila bastante e não consegue gerar empatia o suficiente para que o público realmente se importe com a história. Mas agrada quem gosta do gênero por seus clichês.

Cemitério Maldito entra em cartaz no dia 9 de maio de 2019.

3

Bom

Cemitério Maldito de 2019 não é um filme totalmente ruim e consegue agradar os fãs do gênero de terror por seus clichês, mas foge do foco e do tipo de terror mais refinado do romance original de Stephen King.