Bohemian Rhapsody Bohemian Rhapsody

Crítica | Bohemian Rhapsody: uma obra de arte digna de Freddie Mercury

Antes mesmo de acabarem as introduções clássicas do começo de um filme, já é possível saber que assistiremos algo diferente. As notas de uma guitarra substituem a já conhecida música clássica da 21st Century Fox. Começam os acordes e pronto, já estamos arrepiados dos pés à cabeça. Embora tenha surgido nos anos 70, canções emblemáticas do Queen ainda ecoam em festivais ao redor do mundo.

O buraco que a morte de Freddie Mercury deixou no cenário musical é inegável, principalmente para os saudosos admiradores. Fãs, que mesmo após todos esses anos, estampam o brasão da banda em roupas, tatuagens e/ou qualquer tipo de homenagem. Certamente um público difícil de agradar ao se produzir uma bibliografia de Freddie nos cinemas. Como uma fã da banda britânica posso afirmar com convicção, Bohemian Rhapsody foi produzido para nós.

O Filme

É provável que em algum momento da vida você já tenha escutado Bohemian Rhapsody. A enigmática canção de 6 minutos, composta por palavras complexas e com requintes de ópera, foi escolhida dentre inúmeras para dar título a produção. Mesmo que não seja sua preferida, é impossível negar ser a música que mais remete ao Queen. Principalmente, é uma das músicas que mais remete a Freddie Mercury.

O longa traz os primórdios musicais de Farrokh Bulsara, quando ele ainda trabalhava em um aeroporto e nem sonhava em se tornar o ícone musical que conhecemos. É como ler um desses livros fotográficos bonitos que estampam muitos centros de mesa. Cada página virada é uma cena diferente, e embora saibamos o final, simplesmente não dá para não assistir com ansiedade.

Bohemian Rhapsody traz a transformação do menino da Tanzânia, rumo a figura britânica que se tornou. Temos o ideal do ídolo na cabeça, a pessoa performática que escrevia e narrava as músicas em cima do palco. O filme alivia, mas nos mostra um pouco da personalidade egocêntrica e egoísta de Freddie. Por trás do personagem, existia uma pessoa entregue a influências, drogas e questionamentos internos. Por trás de uma pessoa amada por muitos, existia um homem solitário.

O vocalista do Queen estava longe de ser uma pessoa perfeita, pelo contrário. Os poucos momentos descritos no filme já são suficientes para deixar bem claro ao público como Mercury tratava seus companheiros de banda. Mesmo que os amasse, Freddie nasceu para brilhar. E nada o impediria disso.

Bohemian Rhapsody
Reprodução

Bohemian Rhapsody

Antes de adentrar a sala de cinema, já tinha consciência das críticas internacionais. Muitas delas traziam comentários negativos do filme, tratando-o como piegas e/ou repetitivo. Como fã, tentei impedir que meu sentimento pela banda mascarasse qualquer julgamento. Em duas horas e trinta minutos de duração, a história poderia ter sido melhor aproveitada. Ainda há muito de Freddie Mercury para ser contado, fatos que gostaríamos de saber. Entretanto, não podemos esquecer da privacidade que os familiares e amigos do cantor preferem ter. Até que ponto vale expor a vida de uma pessoa pelo entretenimento?

Um ponto que muito me incomodou em Bohemian Rhapsody foi a troca de datas. Como já mencionado antes, este foi um filme feito para os fãs, como uma forma de reavivar o amor que sentimos pela banda britânica. No decorrer da produção, datas são mostradas no canto da tela, como uma forma de localizar o público o momento em questão.

Para os brasileiros, janeiro de 1985 nunca será esquecido, mesmo que muitos não tenham tido a oportunidade de ver ao vivo. Em determinado momento do filme, Freddie Mercury está no Rio de Janeiro com o Pão de Açúcar ao fundo. Tudo correu bem na cena, onde ele performa Love of My Life para o grande amor de sua vida. Na televisão aparecem cenas reais do show, com a multidão enlouquecida sendo regida pelo vocalista. O problema? O ano na tela era 1975. São pequenos detalhes em meio a um turbilhão de emoções, mas que caso não tivessem sido trocados, aumentariam-nas ainda mais.

Bohemian Rhapsody
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O Elenco

Rami Malek. Não era de se surpreender que o ator se destacasse, visto estar interpretando o protagonista do filme. Caso conheça outros trabalhos do ator, como seu papel em Mr. Robot, sabe o potencial que o ator norte-americano tem. Contudo, nada nos havia preparado para o verdadeiro espetáculo que vemos nas telas.

Interpretar Freddie Mercury foi, sem dúvidas, seu melhor trabalho. É quase imprescindível que Malek seja indicado ao Oscar, e dependendo de seus concorrentes, que ganhe o prêmio de Melhor Ator. Ele não apenas encarou o desafio de encarnar um dos cantores mais amados no mundo, como também o fez com maestria. Freddie era um personagem complexo, difícil de ser interpretado até por seus amigos próximos. Malek parece ter estudado a história do vocalista com afinco, pois o que vemos no filme é brilhante.

A cena final de Bohemian Rhapsody merece destaque. Cantando diante de um estádio lotado, com um show sendo transmitido para bilhões de pessoas, Rami tem seu momento. Dependendo do ângulo em que a câmera mostre, é até possível confundi-lo com Freddie. Ele é a personificação perfeita do vocalista do Queen, aquela que o filme precisava para encerrar com chave de ouro.

Embora trate basicamente da vida de Freddie Mercury, Bohemian Rhapsody conta com um elenco sensacional. A escolha dos atores foi feita de forma inteligente, e o resultado é o espetáculo que temos. Dentre os três membros da banda, o destaque maior fica por conta de Gwilym Lee, que interpreta Brian May. Foi difícil lembrar que não era o próprio May que estava diante dos olhos, tamanha a semelhança. Joseph Mazzello dá vida a John Deacon, enquanto Ben Hardy vive Roger Taylor. Individualmente, cada um tem seu momento de destaque no filme. Juntos, eles são a melhor homenagem que o Queen poderia ter.

Bohemian Rhapsody
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O Filme

Não poderíamos deixar de comentar tudo aquilo que gira em torno dos atores. A fotografia do filme está simplesmente incrível, contextualizando o público para o período em que a história se passa. Roupas, maquiagens e principalmente cortes de cabelo, evoluem com os personagens a medida que os anos se passam. Embora a principal mudança esteja no visual de Freddie Mercury, todos os outros passam por transformações individuais.

Por fim, não há como falar sobre Bohemian Rhapsody sem lembrar aquilo que o título realmente é: o nome de uma música. As canções do Queen regem o filme e trazem lágrimas aos olhos em diversos momentos. O ponto alto está, obviamente, na criação daquela que dá nome a produção, mas temos acesso a criação de muitas outras músicas. E ter a voz de Freddie mantida do início ao fim foi a cereja do bolo. É impossível não cantar junto, se emocionar e desejar voltar no tempo para ver tudo aquilo ao vivo. Bohemian Rhapsody certamente faria Freddie Mercury orgulhoso.

  • Ótimo
4

Muito Bom

Bohemian Rhapsody chega como uma bela homenagem ao Queen, mas especialmente a seu eterno vocalista. Freddie Mercury tem sua vida narrada aos milhares de fãs saudosos de sua voz, e em meio a personalidade difícil, um novo personagem surge diante dos olhos do público.