Crítica | A Torre Negra não deveria ter saído dos livros

A expectativa para o novo filme de Stephen King, A Torre Negra, estava dividindo a opinião do público. De um lado temos a adaptação de um dos autores mais renomados da história da literatura e do cinema; de outro, uma série de 8 livros adaptadas em um único filme. Com uma reputação de mais de 40 histórias sendo levadas ao cinema (O Iluminado, A Espera de Um Milagre, Carrie – A Estranha e Um Sonho de Liberdade), A Torre Negra levou mais de 30 anos para chegar as telas, mesmo sendo considerada a magnum opus de King.

Diferente do que estamos acostumados a ver com as obras únicas do autor americano, A Torre Negra é uma das poucas tramas de King com continuações. Lançado em 1982, O Pistoleiro dava início a uma série de oito livros que só seria terminada em 2012, com o lançamento de A Torre Negra – O Vento pela Fechadura, que segundo o autor se encaixa entre o quarto e o quinto volume. Quando se trata de adaptações, todos sabemos que nunca haverá algo tão perfeito quanto o conteúdo original – são adaptações, não cópias. Algumas vezes fidedignas, outras nem tanto, e  o recente lançamento de Stephen King se encaixa no segundo caso. Não é preciso ter lido os livros ou não para julgar um filme, afinal, basta que ele satisfaça o público e passe sua mensagem desejada, ou seja, basta fazer sentido.

A história possui Jake (Tom Taylor) no papel central, um menino que vive com a mãe (Katheryn Winnick) e o padrastro (Nicholas Pauling) em um pequeno apartamento em Nova York. Após a perda de seu pai (Karl Thaning), o garoto viu seu mundo virar de cabeça para baixo, e a criança feliz deu lugar a um jovem isolado e perturbado por seus sonhos pra lá de realistas. Taxado de maluco pela sociedade, Jake não consegue escapar de sua imaginação e toda noite, uma misteriosa figura de sobretudo preto visita sua imaginação. Ele é transportado para um mundo paralelo, onde uma gigantesca Torre Negra encontra-se no ponto central e sempre é atacada pelo Homem de Preto (Matthew McConaughey). O menino descobre que o monumento é a última linha de defesa do universo contra a escuridão e seus antigos guardiões, os Pistoleiros, foram quase todos dizimados. Retratando tudo isso em desenhos obscuros, Jake não consegue convencer a ninguém de que suas obras são verídicas e resolve fugir. Começa então, a aventura do garoto para provar sua sanidade. Enquanto isso, o Homem de Preto segue a procura de crianças para destruir A Torre Negra. Buscando permitir a entrada dos monstros para que possa liderá-los, ele se utiliza do cérebro de jovens para atacar o monumento, uma vez que os Pistoleiros não o atrapalham mais. É então que Roland Deschain de Gilead (Idris Elba), o último Pistoleiro vivo, entra em ação para a felicidade (e sorte) de Jake.

Divulgação

Mesmo sendo apenas baseado na obra de Stephen King, a produção cinematográfica é extremamente fraca e comum, não apresentando nada que já não tenhamos visto em outra produção infanto-juvenil. Independente de ser fiel aos livros ou não, mesmo que caiu de para-quedas na trama ficou perdido e sem entender muita coisa. Regado de clichês desde o início, o filme não apresentou nenhuma das originalidades que o fizeram ser lançado – devido a popularidade da série de livros. King é conhecido por apresentar um conteúdo mais adulto, fato esse que corroborou para a lealdade de seu público apaixonado após todos esses anos. Em A Torre Negra, porém, estamos diante de algo claramente destinado aos mais jovens – o que não obrigatoriamente tem de ser ruim -, com cenas no pior estilo Matrix e sem muito embasamento no roteiro. Com tanto material a disposição, era de se esperar que fosse uma grande produção, até mesmo uma grande franquia de filmes para contar todo o enredo presente nos oito livros, mas o diretor Nikolaj Arcel (de “O Amante da Rainha”) jogou no lixo essa possibilidade.

Nem mesmo os grandes nomes do cinema, como Elba e McConaughey, conseguiram salvar o filme de ser grande clichê que é. Os atores estão longe se exercer seu potencial máximo, mas mesmo assim, as atuações dos dois são uns dos poucos pontos positivos do longa. Com um roteiro confuso e ralo, temos a sensação de que tudo está sendo jogado no colo do espectador e não há a menor intenção de explicar nada. A Torre Negra obteve destaque durante os anos por seus personagens complexos, sua rede de tramas entrelaçadas e que faziam sentido a medida que eram solucionadas. Preocupados apenas com os efeitos visuais e sonoros, esse é um filme para se ver e não entender, pois exibe o universo paralelo e não conta sua história. Um ótimo exemplo disso é o momento clímax da produção, predominado por explosões, tiros e cacos de vidro…mais clichê impossível. E o que falar do desfecho? Me senti saindo de uma sessão de um filme de Walt Disney, onde miraculosamente tudo dá certo na final – faltou apenas o “E todos viveram felizes para sempre”.

Ainda não sabemos se A Torre Negra ganhará continuação, e confesso que depois de assistir o início não me empolgo para uma sequência. Uma vez que seja feito mais um capítulo da franquia, nos resta esperar que a produção se organize e nos apresente algo pelo menos decente. Com um roteiro fraco e sem embasamento, efeitos bons e um desfecho ridículo, o novo lançamento de Stephen King é um daqueles filmes que merece ser esquecido. Nos resta esperar para algo melhor no futuro ou apenas ficarmos com a história dos livros na memória.

  • Ruim
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Resumo

Quando se trata de adaptações, todos sabemos que nunca haverá algo tão perfeito quanto o conteúdo original – são adaptações, não cópias. Algumas vezes fidedignas, outras nem tanto, e a o recente lançamento de Stephen King se encaixa no segundo caso. Nem mesmo os grandes nomes do cinema, como Elba e McConaughey, conseguiram salvar o filme de ser grande clichê que é, com um roteiro fraco e sem embasamento, além de um desfecho ridículo.

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