Crítica | A Primeira Noite de Crime é o capítulo mais completo da franquia

Quando surgiu em 2013, Uma Noite de Crime dividiu opiniões. Contudo, a franquia chega a seu quarto capítulo mais madura. Depois dos longas anteriores darem um tapa nos americanos conservadores, o novo filme intitulado A Primeira Noite de Crime, já deixa claro que a história conta como aconteceu o primeiro expurgo em apenas uma cidade antes de ser estabelecida em todo o país.

Roteirista e diretor dos três filmes anteriores, James DeMonaco cede a cadeira de direção para Gerard McMurray, uma parceira eficiente e compreendida. Enquanto DeMonaco enfatizou a sociedade americana, destaque para os brancos da classe média alta, McMurray põe as lentes no gueto. Nada mais justo do que um diretor negro expor sua visão do expurgo e o quanto a raça negra seria a mais afetada. Não é por menos que o ambiente do prelúdio é Staten Island, cidade predominada por negros e latinos.

O Filme

O longa conta a criação do novo partido político, o New Founding Fathers of America (NFFA), que aprova um novo experimento social. São 12 horas sem lei, em que o governo incentiva as pessoas a perderem toda e qualquer inibição. A participação não é obrigatória, mas como estímulo, 5.000 dólares é dado para quem fica na cidade, e mais prêmios para quem participa.

Simbolismos

A Primeira Noite de Crime foi o que mais se preocupou com o visual e cenário. Tirando os exageros no ato final, que passou do ponto com muitas coreografias nas sequências de ação, a narrativa deixa por meio de símbolos várias mensagens subliminares. Desde uma bandeira americana ensaguentada e lentamente murchando, o que caracteriza a derrota da sociedade, o longa põe o dedo na ferida no racismo. Com 12 horas de crimes liberados, os negros e latinos são os perseguidos. Enquanto a comunidade local aproveita o experimento para festas, apenas os psicopatas iriam cometer os homicídios. Ou seja, seria um expurgo ineficiente. A matança só começa a partir do momento em que o governo coloca mercenários na rua para limpar a população mais pobre, ou seja, os negros e latinos. Por isso, o primeiro alvo foi Staten Island.

McMurray foi audacioso e sua narrativa lembra um pouco “This is America”, de Childish Gambino. Uma igreja de negros sendo metralhada. O estádio de beisebol (esporte símbolo de latinos e negros) sendo palco de tortura e violência de policiais brancos. As máscaras e uniformes fazendo alusão a Ku Klux Klan e neo-nazismo, mostra que a única diferença para o nosso atual cenário, é que a violência não está “legalizada”. Contudo, tiroteios em escolas, igrejas e ambientes culturais já estão presentes no cotidiano há bastante tempo. Ao final, parece que toda a franquia premeditou o cenário americano no governo Trump –  o sofrimento das minorias e a crescente onda de ataques por supremacistas brancos.

O que achamos?

A Primeira Noite de Crime é o capítulo mais completo da franquia. O longa pode ser um ótimo ponto de partida para quem ainda não assistiu aos filmes anteriores e a série em exibição. Mas, para quem acompanha a franquia desde 2013, é uma história que amarra algumas pontas soltas e mostra como os governantes e as grandes corporações são capazes de estimular o medo na sociedade. Em ano eleitoral no Brasil, esse capítulo é quase que um aviso de que extremismo só vai gerar mais violência. James DeMonaco e Gerard McMurray alertam a falta de humanidade e que não estamos tão longe da ficção se tornar um fato.

4

Ótimo

A Primeira Noite de Crime é o capítulo mais completo da franquia. O longa pode ser um ótimo ponto de partida para quem ainda não assistiu aos filmes anteriores e a série em exibição. Mas, para quem acompanha a franquia desde 2013, é uma história que amarra algumas pontas soltas e mostra como os governantes e as grandes corporações são capazes de estimular o medo na sociedade.