Não há como negar o talento de Guillermo del Toro. Assim como seu gosto peculiar por criaturas misteriosas – e estranhas. Seus monstros vem ganhando os cinemas há anos e mais um chegou para se juntar ao grupo. A Forma da Água abriu o Festival do Rio em 2017 e após assisti-lo conseguimos entender o porquê. Independente de pontos positivos ou negativos, ficamos diante de algo único e encantador. E após 25 anos trabalhando na produção, del Toro certamente teve a recompensa que merecia. Seu filme obteve sete indicações no Globo de Ouro, tendo conquistado duas delas: Melhor Diretor e Melhor Trilha Sonora Original.
O Filme
A Forma da Água se passa durante a década de 60, auge da Guerra Fria. O filme narra a história de uma funcionária muda de um laboratório secreto norte-americano. Em meio a uma sociedade pouco acolhedora, Eliza (Sally Hawkins) encontra prazer em pequenas coisas. Seguir sua rotina envolve repetir exatamente as mesmas coisas diariamente, sem exceções. Quando um anfíbio humanoide chega ao laboratório direto da America do Sul, a vida de Eliza toma um novo rumo. As características do ser fascinam a moça, que logo cria um instinto protetor sobre ele. Seus desejos, porém, vão contra a equipe da empresa, que só deseja lucrar com sua nova criatura.
O que aconteceria se misturássemos Amélie Poulain, A Bela e a Fera e Free Willy? Provavelmente algo próximo a A Forma da Água. Até mesmo o elemento fábula, típico nas produções de del Toro, está lá. Demora um pouco para o filme ter seu real propósito revelado e quando o faz, consegue surpreender mesmo após tudo que vimos até então.
O que achamos?
Após a enorme aclamação por parte do público e dos críticos, confesso que esperava mais. A Forma da Água retrata o amor entre seres de espécies diferentes, mas que fazem disso a única possível. Assim como Eliza, a criatura não fala – pelo menos em um idioma humano. Através de linguagens de sinais e demonstrações de afeto, uma relação sólida e bonita é formada. Simples assim, sem interesse ou julgamento. Diante da sociedade excludente que vivemos, não há como não pensar na crítica que del Toro conseguiu interpretar.
Como já mencionado antes, estamos diante de um material único. Apesar de possíveis referências a outras tramas, tudo em A Forma da Água é exclusivo. Um cenário quase beirando o 3D de tão real, filmes antigos passando na televisão (até Carmem Miranda ganhou seu espaço) e cenas muito bem elaboradas dão ao longa um requinte de qualidade. Entramos em uma viagem pela mente de Guillermo del Toro e encontramos dificuldades para sair de lá.
O Elenco
Michael Shannon é o grande vilão da trama. Interpretando um agente do governo seco por poder, encontra em Eliza um empecilho para sua grande realização. Ao lado dos militares, Strickland presente estudar o anfíbio e usá-lo como arma contra os comunistas russos. A corrida espacial estava em seu auge e por que não usar um ser de outro mundo para conseguir vantagens? Quando a tensão toma conta do enredo, nos perguntamos quem é o verdadeiro “monstro”.
Além de Shannon e Hawkins, obviamente, outros dois nomes merecem destaque no filme. A vencedora do Oscar, Octavia Spencer, interpreta Zelda, melhor amiga de Eliza. Ela é a responsável pelos momentos de descontração e diversão em meio a uma história tão densa. Ao lado de Spencer está Richard Jenkins, no papel do suposto namorado de Eliza. Diante de tudo aquilo que está testemunhando, nos dá uma verdadeira lição sobre amor. Até que ponto estamos dispostos a abrir mão de algo para ver quem amamos feliz?
Resumo
A Forma da Água é um grande filme. Uma produção única e original, mesmo que nos lembre de outras histórias. Guillermo del Toro não poderia especificar mais seu estilo, criando um novo monstro para cair nas graças do público. Apesar de todas as características positivas, sete indicações pode ter sido um pouco demais, principalmente levando-se em conta os concorrentes. Temos de admitir, porém, que o longa é facilmente agradável para todo tipo de público. Trazendo um tipo diferente de fábula, o diretor fez seus 25 anos de trabalho valerem a pena. E agora está sendo recompensado.
Resumo
O bizarrismo de Guillermo del Toro está de volta em A Forma da Água. Nos trazendo outro de seus monstros adoráveis, o diretor cria um ambiente completamente único. Contando com um elenco excelente e um roteiro denso, sem dúvidas estamos de algo a se admirar.