Crítica | A Cabana estende e aprimora as emoções presentes no livro

Recentemente escrevi uma matéria falando sobre o livro A Cabana (aqui), de William P. Young, e recentemente tive o prazer de ver sua obra exposta em uma tela de cinema 10 anos depois. Felizmente, a história de Young se manteve intacta a medida que as cenas decorriam, modificando apenas alguns detalhes e/ou omitindo outros, sem que o roteiro como um todo fosse prejudicado. Além disso, um dos pontos negativos do trabalho de Young é a lentidão como os fatos acontecem, tornando o livro monótono e difícil de capturar a atenção de seu leitor durante algumas passagens; entretanto no filme, uma vez que ao invés de palavras temos cores, pessoas – ótimas, por sinal – e um cenário maravilhoso, é fácil a maneira como tudo flui, e antes que possamos perceber, acabou.

Mackenzie é vivido por Sam Worthington (de “Avatar” e “Fúria de Titãs“), que apesar de representar bem o estilo “lenhador bruto e solitário”, não atinge o nível de emoção necessário para se igualar ao personagem do livro. O Mack que Young nos apresenta derrama lágrimas do início ao fim, principalmente a medida que vê suas amarguras expostas por Deus, Jesus e Sarayu. O lado frio é deixado de lado e um novo homem surge na Cabana, mas Worthington nos mostrou apenas a primeira versão. O objetivo geral de seu personagem não foi comprometido, apenas deixou um pouco a desejar para os leitores que já imaginavam a transformação de Mack acontecendo gradualmente.


A Santíssima Trindade é interpretada por Octavia Spencer (de “Estrelas Além do Tempo“), como Deus, Aviv Alush (Jesus) e Sumire (Sarayu), e o destaque óbvio é para a vencedora do Oscar. Octavia interpreta com maestria um papel de tamanha importância – não apenas na trama -, adicionando um lado engraçado, simples e materno a Deus. Como a própria atriz citou na coletiva de imprensa, ela transmite a imagem de mãe para Mackenzie, e não o Deus de histórias e crenças. Outra surpresa é o “desconhecido” Alush, que encarna o lado humano das divindades, a quem Mack mais se identifica. É ao dele um dos momentos chave do filme: o andar sobre a água, e ter a figura de um rapaz jovem de cabelos encaracolados no papel de Jesus Cristo, facilita a quebra da barreira que o homem construiu após a morte da filha. Finalmente temos Sarayu, desconhecida por muitos que não entendem de religião, mas que conhecem a existência de um Criador. A beleza e o colorido do jardim da moça trazem paz até mesmo para o espectador que assiste pela tela, representando muito bem o que foi descrito pelas palavras de Young.

Muitos podem pensar que A Cabana é um livro sobre religião e por isso aqueles que não acreditam em Deus não irão gostar. Melhor parar por aí e dar uma chance ao filme de te provar o contrário. A naturalidade e fluidez com que a história vai passando e abordando temas como crer, perdão, vingança e saudade, é cativante e curioso ao mesmo tempo, e é exatamente sobre isso que a trama de Young tenta nos mostrar. O filme é cheio de frases de efeito – assim como o livro – ditas por Jesus, Sarayu e Deus, e nos identificamos com a maioria delas, seja você da religião que for. Os personagens típicos e simples do interior vividos pelos protagonistas e pelos atores secundários (Tim McGraw, Radha Mitchell, Graham Greene, Megan Charpentier, Gage Munroe e Amélie Eve) não necessitam de muito esforço para trabalhar seu papel, visto que o filme todo decorre de maneira orgânica e emocionante.

Apesar de ser uma adaptação, A Cabana é muito fiel a sua história original e traz para fora das páginas tudo aquilo que imaginamos. É um daqueles raros exemplos em que a versão do cinema se iguala a da livraria, principalmente com a fotografia e trilha sonora acrescentadas. O diretor Stuart Hazeldine soube interpretar muito bem os detalhes abstratos descritos por Young, como as luzes coloridas representando os filhos de Deus. A cena em que Mack reencontra seu pai poderia ter sido melhor trabalhada, porém, dando a ideia de ter sido encaixada de última hora na trama. Fora isso, o filme é ótimo! Um destaque que deve ser mencionado é a participação de Alice Braga como a Sabedoria, protagonizando uma das cenas mais bonitas. Octavia mencionou inclusive, ter sido essa sua cena favorita.

Não há muito o que reclamar a respeito da adaptação cinematográfica de A Cabana. Salvo alguns detalhes e cenas que poderiam ter sido mais bem desenvolvidas, a produção retrata muito bem as palavras do autor William P. Young. Octavia Spencer não poderia ter executado melhor seu papel como Deus, adicionando graça, comédia e leveza a um personagem tão imponente e pesado. A trama é feita para os dois tipos de público: os que leram o livro e os que mesmo dez anos após sua publicação não o fizeram. Com um cenário colorido, lugares paradisíacos e uma forte presença de elementos da natureza, o filme estende e adiciona emoção as passagens extensas e lentas da obra original, nos proporcionando algo orgânico e prazeroso de assistir. Hazeldine acertou em cheio no elenco, na trilha sonora e na maneira como detalhou a história, não a tornando monótona como no livro.

4

Ótimo

Muitos – ainda – podem pensar que A Cabana é um livro sobre religião e por isso aqueles que não acreditam em Deus não irão gostar. Melhor parar por aí e dar uma chance ao filme de te provar o contrário. Com um cenário colorido, lugares paradisíacos e uma forte presença de elementos da natureza, o filme estende e adiciona emoção as passagens extensas e lentas da obra original, nos proporcionando algo orgânico e prazeroso de assistir. Hazeldine acertou em cheio no elenco, na trilha sonora e na maneira como detalhou a história, não a tornando monótona como no livro.

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