Crítica | 1917

Reprodução/Universal Pictures

Ao final de 1917, os créditos sobem uma dedicatória a Alfred Mendes, avô de Sam Mendes. O diretor britânico passou sua infância ouvindo do avô relatos da Primeira Guerra Mundial, que se transformaram em uma incrível experiência cinematográfica, diferente de tudo já mostrado em longas do gênero.

Sam Mendes não buscou apenas prestar uma homenagem à memória do avô. É um relato sobre a crueldade e a indiferença da guerra, e como isso contrasta com a humanidade dos jovens soldados presos nesse ambiente mórbido. A guerra é capaz de transformar pessoas em monstros, mas em 1917, Mendes mostra que a guerra também pode despertar o melhor de uma pessoa, como dar sua vida para salvar seu companheiro preso em uma trincheira.

O longa é situado no dia 06 de abril de 1917, durante os eventos da Primeira Guerra Mundial. Na trama, os soldados britânicos Blake (Dean-Charles Chapman) e Schofield (George MacKay) são encarregados de uma missão. Os alemães fizeram uma retirada estratégica para parecer que estão saindo do ponto de batalha. É uma armadilha, e se uma divisão inglesa contendo 1600 homens seguir seu plano de ataque, eles serão massacrados. Blake e Schofield devem correr contra o tempo para entregar a mensagem ao coronel MacKenzie (Benedict Cumberbatch) para interromper o ataque ou haverá um massacre sem precedentes.

Um dos méritos de 1917 são os longos planos sequência. Tudo é filmado parecendo ter sido feito de uma só vez. Os cortes quase não são notados. Nas sequências de correria e explosões, surpreende a câmera navegando pelos personagens e tomando contornos inexplicáveis. A estratégia de Sam Mendes é muito mais do que exaltar sua técnica de direção. O longa é sobre a corrida contra o tempo, o principal inimigo dos dois soldados. A abordagem de parecer somente uma tomada coloca o espectador dentro do desespero de Blake e Schofield, onde cada segundo é importante.

Embora traga nomes importantes como Benedict Cumberbatch, Andrew Scott, Mark Strong e Colin Firth, o longa pertence a Dean-Charles Chapman e George MacKay. Mendes explora a humanidade daqueles soldados. Tirando o traje, são apenas garotos. E o longa acompanha essa ingenuidade quando ambos decidem ajudar o próprio inimigo durante um ataque aéreo. Isso evidencia que a Primeira Guerra Mundial foi um dos momentos históricos mais estúpidos da humanidade, onde várias vidas foram desperdiçadas pela ganância alheia. Blake e Schofield buscam salvar 1600 vidas, mas ao longo do caminho se deparam com inúmeros cadáveres espalhados em campos de batalha.

A fotografia de Roger Deakins é uma aula técnica. É como se fôssemos o terceiro soldado na missão. Há um plano brilhante que explora com eficiência as cores laranja e preto, resultado da fusão das explosões e a noite escura dos soldados lutando pela vida. Outro ponto positivo é fantástica trilha sonora de Thomas Newman, que equilibra a melancolia dos soldados com os momentos de intensidade.

1917 não glorifica a guerra. Em vez disso, mostra dois jovens em um cenário desolador, um desfile de horrores. Ao final, há um vislumbre de esperança em meio ao caos. Uma narrativa simples, mas que se torna poderosa ao longo dos 120 minutos de projeção. Uma experiência cinematográfica única na temporada. Tudo isso graças ao olhar delicado de Sam Mendes. O resultado é um dos maiores filmes de guerra já feitos, se juntando a outros clássicos como Platoon, Apocalipse Now e O Resgate do Soldado Ryan.

5

Excelente

1917 não glorifica a guerra. Em vez disso, mostra dois jovens em um cenário desolador, um desfile de horrores. Ao final, há um vislumbre de esperança em meio ao caos. Uma narrativa simples, mas que se torna poderosa ao longo dos 120 minutos de projeção.