Como Treinar o Seu Dragão Como Treinar o Seu Dragão

Como Treinar o Seu Dragão | Crítica

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Como Treinar o Seu Dragão é a versão live-action da animação que conquistou o público em 2010 e a primeira vez que a DreamWorks Animation ganha uma reimaginação de seus filmes – uma tendência que até agora tem sido dominada pela Disney (que tem um histórico extremamente inconsistente, entregando grandes sucessos de bilheteria ou gerando revoltas coletivas e grandes fracasso). 

A trama desse novo live-action permanece a mesma da animação, com seu roteiro divertido e vibrante sobre um garoto solitário que se conecta com um dragão solitário e ferido. O diretor Dean DeBlois, o compositor John Powell e o astro Gerard Butler, retornam para as mesmas funções que tiveram na animação, acrescentando apenas pequenas nuances nessa história encantadora, trazendo poucas novidades.

O filme acompanha Soluço (Mason Thames), um viking de uma tribo famosa pela caça de dragões. Sua terra natal é frequentemente invadida por esses grandes animais voadores e, durante um desses ataques, Soluço tenta provar seu valor capturando e matando um dragão. Ele quase consegue, mas quando confrontado com a necessidade de matá-lo, acaba desistindo. Mesmo envergonhado pela inépcia do filho, Stoico (Gerard Butler) o inscreve para um treinamento de combate a dragões com Bocão (Nick Frost) enquanto embarca em sua mais recente expedição para localizar o ninho dos dragões e livrar sua vila da ameaça persistente.

Mas Soluço quase capturou um dragão Fúria da Noite e logo encontrou a fera presa em uma rede nas profundezas da floresta. Ao libertar e secretamente formar um vínculo com a criatura que ele chama de Banguela, ele também aprende muito sobre dragões ao longo do caminho — conhecimento que ele demonstra durante seu treinamento para subjugar pacificamente as feras, para grande tristeza de seus colegas Astrid (Nico Parker), Melequento (Gabriel Howell), Perna-de-Peixe (Julian Dennison), Cabeçadura (Bronwyn James) e Cabeçaquente (Harry Trevaldwyn). O cerne do filme segue sendo a dinâmica pai-filho, com o pai de Soluço tentando moldar seu herdeiro à sua imagem, enquanto o garoto, que quebra as tradições, se preocupa se pode ser aceito em seus próprios termos.

A icônica cena em que Soluço se aproxima cautelosamente do dragão ferido, oferecendo um peixe como uma espécie de oferta de paz, é o momento decisivo do filme, o que dará início à amizade entre os dois. Ela também serve como um dos principais desafios dessa versão com pessoas de carne e osso. Afinal, é preciso convencer o público de que um garoto e um animal supostamente mortal, gerado por computador, podem realmente coexistir, não apenas como aliados, mas também como parceiros plausíveis na tela. E isso dá certo, testemunhar a interação deles é como se apaixonar novamente. Tecnicamente, escolher o ator para interpretar Soluço não era tão arriscado quanto alterar levemente a aparência do Banguela, mas era preciso fazer isso para acreditarmos que os vikings pudessem temer uma criatura tão majestosa.


Apesar de ser extremamente fiel ao original, Como Treinar o Seu Dragão não é exatamente um remake cena a cena do filme de animação, embora recrie algumas das cenas mais lembradas da animação. O novo filme conta com 27 minutos extras de duração, então existem pequenas adições e algumas expansões na história. E isso é ótimo, porque quando a história é tão excelente quanto a da animação, não há motivo para mexer muito nela.

DeBlois criou um filme que é tanto uma homenagem carinhosa à animação original quanto um empolgante novo material, cheio de espetáculo e emoção, totalmente capaz de proporcionar as mesmas emoções que você sentiu ao assisti-lo pela primeira vez, ainda que os personagens animados fossem mais expressivos. Ele soube escolher quais cenas deveriam permanecer as mesmas e quais precisavam de pequenos ajustes quando agora tratam de seres humanos de verdade na tela.

Outro trabalho muito bem feito é o do diretor de fotografia Bill Pope, que deu vida a Berk com riqueza de detalhes, desde os interiores aconchegantes da casa e oficina de Soluço até as vistas deslumbrantes da Islândia, Ilhas Faroé e Irlanda do Norte, passando pelas emocionantes cenas de voo. O filme foi filmado para IMAX e faz excelente uso desse formato de tela grande, proporcionando sequências imersivas em que você se sente como se estivesse voando ao lado de Soluço e Banguela.

O elenco de Como Treinar o Seu Dragão também surpreendeu, pois fica claro que estão todos na mesma sintonia. Apesar de algumas mudanças físicas em alguns personagens, a essência está ali. Muito da trama depende do Soluço de Mason Thames e ele manda muito bem. Ele consegue ser engraçado e ótimo em humor físico, mantendo o jeitinho desengonçado e tímido que amamos no personagem animado. Nico Parker está adequadamente ágil e carismático no papel de Astrid, a jovem guerreira durona por quem Soluço se apaixona.

Mas o destaque certamente é Gerard Butler, que entendeu completamente a tarefa. Ele obviamente conhece Stoico de cabo a rabo a esta altura, e explora a essência teimosa, porém amorosa, do personagem, além disso, sua caracterização ficou impecável. Ele é grandioso quando precisa ser grandioso, exagerando quando necessário, mas também consegue ser tão pequeno e triste naqueles momentos de cortar o coração. É uma atuação exagerada, mas combina com o tom do filme.

Apesar do tom mais sombrio e de alguns visuais ainda mais sombrios, o remake live-action de Como Treinar o Seu Dragão é um filme fantástico e emocionante. Ele se destaca graças à narrativa comovente, às atuações fortes e a uma essência emocional inabalável que honra o que tornou o original tão amado. Dean DeBlois pode até ser excessivamente reverente ao seu sucesso passado, mas ele ainda claramente tem muito amor por esses personagens e seu investimento neles fica totalmente evidente. Não precisava de um remake, ninguém pediu por um, mas que bom que ele existe! 

Como Treinar o Seu Dragão estreia em 12 de junho nos cinemas de todo o país, com distribuição da Universal Pictures. Disponível em versões acessíveis, legendadas e dubladas.

4

Ótimo

Em um mundo repleto de versões live-action que geram pouca empolgação ou até mesmo desgosto dos fãs dos materiais originais, Como Treinar o Seu Dragão chega provando que é possível transformar os personagens animados em pessoas de carne e osso sem perder o charme e o coração da história. É notável que esse filme foi feito como uma carta de amor ao original.