Marco da Retomada do Cinema Brasileiro nos anos 1990, Carlota Joaquina, Princesa do Brazil completa 30 anos em 2025 e retorna aos cinemas em cópia remasterizada, reafirmando sua atualidade e potência criativa. Ousado e irreverente, o primeiro longa dirigido por Carla Camurati e produzido por ela e por Bianca de Felippes conquistou o público com sua crítica bem-humorada à formação do Brasil, aliada a uma linguagem estética inovadora.
Em coletiva de imprensa realizada em 5 de agosto, estiveram presentes Carla Camurati, Bianca de Felippes, Marieta Severo, Ludmila Dayer, Marco Nanini e Marcos Palmeira para falar sobre o relançamento de Carlota Joaquina, Princesa do Brazil nos cinemas e também contar muitas histórias sobre os bastidores do filme. Confira o que rolou nesse bate papo:
A diretora Carla Camurati acredita que o filme se tornou tão importante por ser uma filme que “é um recorte da nossa história, contado de uma maneira lúdica, irreverente, com a cara do Brasil. E que ao mesmo tempo tem uma ingenuidade e um senso crítico. Foi um filme muito pensado e planejado para que acontecesse assim. Tudo que a gente vê no filme é a imaginação da menina. São fatos históricos que o tio conta, mas vistos pelo olhar de uma criança de 10 anos”.
“A linguagem que o filme tem, dá à ele uma contemporaneidade incrível. Me deixa muito feliz que outras gerações estejam podem aproveitar o nosso filme e com categoria, com uma cópia bonita, com um som lindo”, ela completa.
Realizado em um período político conturbado, o filme que deveria ter levado 5 semanas para ser filmado, levou seis meses e segundo Carla Camurati, é praticamente um milagre que ninguém tenha abandonado a produção. As gravações começaram, pararam e recomeçaram inúmeras vezes por conta da falta de dinheiro e só foi realizada graças ao amor da equipe pelo filme.
Para Marieta Severo, “vir esse convite, essa possibilidade de fazer cinema com essa proposta de mergulhar na história do Brasil dessa maneira humorada, jocosa, que a Carla propunha, era irrecusável. Eu queria muito fazer. E acho que eu estava certa, né? Foi isso, o tempo todo a gente via que tinha todas as dificuldades financeiras possíveis, mas tinha essa paixão enorme”.
“Tinha um clima meio de trupe, um grupo que ia viajando e fazendo as coisas juntos”, revela Marcos Palmeira. “O filme tinha um frescor constante, fico muito feliz de ter participado”.
Apesar de algumas viagens para gravação, o orçamento do filme era extremamente limitado, então não era possível viajar até a Escócia para gravar as cenas com Yolanda e seu tio. A solução foi usar um dia nublado na Praia da Joatinga, Rio de Janeiro se passando como o país europeu. Foram colocadas ovelhas para dar uma cor local e até que deu para enganar bem.
Carlota Joaquina, Princesa do Brazil foi o primeiro trabalho de Ludmila Dayer, que na época tinha apenas 10 anos. Ela foi escolhida durante uma aula de dança espanhola para substituir a primeira atriz escolhida, que acabou abandonando a produção logo no início. Eles gostaram tanto da escolha que a colocaram para fazer tanto a versão mais jovem de Carlota Joaquina, quanto a pequena Yolanda.
“Ontem vendo o filme, eu o vi com outro olhar. Primeiro, eu não me reconheci, não fiz nenhuma conexão comigo. Era como se estivesse assistindo outra pessoa. Foi interessante, porque agora eu pude ver o filme como espectadora mesmo, até na minha parte, inclusive gostei muito de mim nele”, brinca a atriz.
Ela completa, “eu me lembro de assistir a esse filme na escola, na aula de História, com todos os meus amigos e morrendo de vergonha, para aprender a história do Brasil. E hoje eu consegui olhar essa história com um outro ângulo muito interessante, porque a gente faz uma reflexão da nossa herança ancestral e que justifica muito dos nossos comportamentos de hoje em dia. Tenho certeza que o novo público vai gostar desse filme e vai rir”.
Carla Camurati revela que a atriz mirim era muito fácil de trabalhar, que além de entender o que ela pedia, ainda era capaz de acrescentar muito ao trabalho. “Mas ela queria muito ser maquiada” e por conta de uma escolha de manter a pele natural dos atores, ela não realizaria esse desejo.
“É que não tinha maquiagem, a gente não tinha dinheiro”, brinca Marco Nanini.
Carla completa, “eu queria ver a pele dos atores, é diferente”.
“Só eu que ficava botando os meus bigodes, porque a Carlota era bigoduda. Eu adorava, ficava botando bastante bigode”, relembra Marieta Severo.
Bianca de Felippes revelou que a ideia de levar o filme de volta aos cinemas veio ao rever Carlota Joaquina, Princesa do Brazil e e se emocionar novamente. Ela também diz que além dos assuntos tratados e do trabalho dos atores, a arte do filme é algo impressionante, “Portugal é tudo branco e cinza, aí chega a Espanha com o terra e vermelho, quando chega no Brasil tem aquela explosão de cores. A direção de arte foi um ponto muito crucial”.
“A Carla morava em uma casa em São Conrado. A gente montou uma tenda do exército no quintal da casa dela e a gente ficava produzindo adereços. O Celestino, que era nosso aderecista, fez 300 sapatos para a Carlota. O colar da Carlota era areia com cola e Colorgin, e parece que é um negócio de ouro”, relembra a produtora. “As perucas eram de Bombril, de palha. Tinham roupas feitas de folhas. A gente ia pro Jardim Botânico pegar folhas pra fazer roupas. Então, isso também deu essa cara pro filme. E tudo com muito bom gosto”.
A narrativa se passa entre o fim do século XVIII e o início do século XIX. Aos dez anos, Carlota Joaquina é prometida a João, de Portugal. Talentosa e instruída, a jovem princesa é aprovada pela corte espanhola e enviada a Lisboa, onde se depara com um destino bem menos glamouroso que o retratado nos quadros e protocolos da nobreza. João, de temperamento introspectivo, prefere o canto sacro e o cultivo de flores à companhia da nova esposa. Com a morte do príncipe herdeiro e o agravamento da saúde mental da rainha D. Maria I, o casal acaba elevado ao trono português. Em meio às turbulências provocadas pela Revolução Francesa e pelas ameaças de invasão napoleônica, a corte portuguesa realiza uma fuga histórica e silenciosa para o Brasil — episódio que marca uma reviravolta no destino da colônia e dá origem a uma nova fase da história luso-brasileira.
Estrelado por Marieta Severo como Carlota Joaquina — vivida na infância por Ludmila Dayer —, Marco Nanini como Dom João, Marcos Palmeira como Dom Pedro I e Vera Holtz no papel de Maria Luísa de Parma, Carlota Joaquina, Princesa do Brazil retorna ao circuito comercial no dia 14 de agosto, em cópias acessíveis e restauradas digitalmente, com patrocínio da Petrobras. A nova exibição alcançará os cinemas de dez capitais brasileiras.