Assassino por Acaso | Crítica

Em Assassino por Acaso, Gary Johnson (Glen Powell) é um professor universitário de filosofia e psicologia que faz alguns bicos para a polícia para complementar sua renda. Ele leva uma vida muito cotidiana e bastante pacata, na qual suas horas livres são usadas para observar pássaros, cuidar de plantas e alimentar seus dois gatos, Id e Ego. Até seu trabalho para a polícia é sem emoção, ele apenas cuida da captação de áudio das escutas dentro de uma van.

Até que um dia, um policial chamado Jasper (Austin Amelio), que finge ser um assassino de aluguel, é suspenso por agredir um suspeito e Gary precisa ficar em seu lugar. Ele já ouviu inúmeras operações policiais desse tipo e para seus colegas de trabalho, está mais do que pronto para assumir essa posição. O que ele descobre é que ele é um excelente assassino de mentira, um ótimo ator que não se abala sob pressão e que sabe muito bem como improvisar. O fato dele ser um especialista da natureza humana permite que ele pesquise sobre seus futuros clientes e analise exatamente quem eles querem que ele seja, ou seja, qual a visão de um assassino contratado cada pessoa tem dentro de si.

Gary é um daqueles papéis feitos para mostrar o trabalho do protagonista e Glen Powell demonstrou talento. Ele passa de um professor que ninguém olharia duas vezes para assassinos durões  dos mais variados tipos, usando muitas perucas engraçadas, maquiagem e outros adereços que o transformam completamente. Mas mais do apenas a mudança exterior, assim como seu personagem, ele constrói a identidade de cada um desses assassinos. Segundo o filme, assassinos de aluguel não existem. Gary interpreta uma figura saída de nossa imaginação coletiva, o que dá liberdade para ele criar o personagem como achar melhor, porque as pessoas que ele interpreta simplesmente não existem.

Quando Gary é contratado por Madison Masters (Adria Arjona), ele decide que ela quer um assassino confiante e charmoso chamado Ron. Ela quer matar seu marido abusivo, mas dessa vez Gary quebra o protocolo e decide ajudá-la. Ron convence Madison a deixar seu marido, pegar o dinheiro que usaria para pagar pelo serviço para começar uma nova vida. Ela aceita os conselhos de Ron e eles iniciam um relacionamento. Ele está apaixonado por ela e acredita que ela é uma boa pessoa. Isso faz com que ele se torne cada vez mais Ron e menos Gary – e todo mundo está adorando essa nova versão dele. Mas tudo vira de cabeça pra baixo quando o ex-marido dela aparece morto.

Essa é uma trama inusitada até para o cinema, mas o mais incrível é que ela foi baseada em uma história real. Inspirado em um artigo da revista Texas Monthly escrito por Skip Hollandsworth, Assassino por Acaso tem roteiro coescrito pelo astro Glen Powell – que também é produtor – e o diretor Richard Linklater. A dupla, que já colaborou em vários outros projetos, misturou comédia, romance, suspense, reflexão filosófica e uma pitada de noir em um filme com um humor aguçado.

Os assassinos em que Gary se transforma remetem aos clichês do cinema sobre esses homens tão enigmáticos, entre seus personagens estão um homem do leste europeu assustador, um tatuado durão e uma versão caricata de Christian Bale em Psicopata Americano. O fato dele acabar pendendo para o lado de Ron é uma alusão filosófica sobre a mutabilidade do eu, assunto tratado por Gary em suas aulas. Já a parte romântica já foge um pouco do que estamos acostumados e vemos o casal caindo em um relacionamento perigoso, que leva a momentos de diálogos intensos, super divertidos e sensuais.

Talvez essa trama não se saísse tão bem nas mãos de outro diretor, mas Richard Linklater conseguiu fazer um filme muito divertido, incluindo reflexões filosóficas de maneira muito descontraídas e equilibrando elementos de vários gêneros. É um filme que consegue criar uma atmosfera que prende do início ao fim, nos fazendo querer saber para onde vai essa história mirabolante.

Assassino por Acaso chega aos cinemas de todo o Brasil em 12 de junho de 2024.

4

Ótimo

Glen Powell mostra todo seu talento ao produzir, atuar e coescrever o roteiro de Assassino por Acaso com seu colaborador de longa data, o diretor Richard Linklater. Eles conseguiram criar uma comédia inteligente, que adiciona pitadas de outros gêneros e reflexões filosóficas em uma história mirabolante.