Após chamar a atenção do público e da crítica com O Peso do Talento, o diretor Tom Gormican retorna ao cinema com mais uma comédia metalinguística que brinca com os bastidores de Hollywood e com a própria história do cinema. Em Anaconda, o cineasta revisita o clássico cult de 1997 estrelado por Ice Cube, Jon Voight e Jennifer Lopez para criar uma releitura irreverente que mistura homenagem, sátira e autoconsciência. A trama acompanha quatro amigos unidos pela paixão pelo filme original, que narrava a história de uma equipe da National Geographic sequestrada por um caçador obcecado por capturar uma cobra gigante na Amazônia. Só que agora a proposta é menos aventureira e mais existencial, pois trata-se de um grupo de pessoas enfrentando crises pessoais e profissionais, que enxergam no remake uma chance improvável de redenção.
Griff (Paul Rudd) é um ator figurante veterano que afirma ter conseguido milagrosamente os direitos autorais para um remake de Anaconda, de 1997, criando uma oportunidade de ouro para ele e seu melhor amigo, Doug (Jack Black), um cinegrafista de casamentos frustrado que desperdiça seu talento. Além dele, o quarteto de amigos é formado também por Kenny (Steve Zahn), o cinegrafista que precisa de uma distração para se manter sóbrio. E ainda tem Claire (Thandiwe Newton), o antigo caso de Griff, uma mulher recém-divorciada e pronta para uma reviravolta em sua vida e para estrelar o filme ao lado de seu ex.
Movidos por esse misto de nostalgia, desespero e ambição, os quatro partem para a Amazônia brasileira, onde pretendem filmar, em apenas três semanas, sua própria versão do longa que tanto admiram. Após conseguirem um barco e uma capitã, Ana (Daniela Melchior), a primeira grande decisão é escalar uma estrela para o projeto. Kenny acaba contratando Santiago (Selton Mello), um morador local conhecido como o melhor treinador de cobras da região. Santiago chega acompanhado de Heitor, uma enorme anaconda dócil, treinada e profundamente querida por seu dono. Bem longe de ser o monstro sanguinário que o cinema costuma retratar.
Ainda assim, Griff demonstra insegurança ao contracenar com o animal. Em certo momento, ele entra em pânico e o joga do barco, resultando na morte horrível de Heitor. Santiago fica arrasado e consumido pela dor, enquanto Doug e Griff agora precisam descobrir como substituir sua estrela por outra cobra para manter a produção em andamento. A Amazônia não está cheia delas? Eles vão encontrar uma nova cobra. Ao tentar encontrar outra anaconda, o grupo acaba se deparando com uma ameaça real, muito mais próxima do terror do filme original do que imaginavam. De forma irônica e autoconsciente, a tentativa de refazer Anaconda faz com que os personagens acabem vivendo uma versão da própria história que queriam adaptar.
O filme acerta ao priorizar o humor e a interação entre os personagens, sem deixar que o terror se sobreponha à proposta cômica. As melhores sequências surgem justamente nos momentos de brainstorming, escrita de roteiro e preparação do elenco, que dão um ar mais leve ao filme. Jack Black, um pouco mais contido do que o habitual, ainda encontra espaço para seus trejeitos característicos, enquanto Paul Rudd constrói um personagem delicioso a partir de pequenos gestos, como a tentativa constante de parecer descolado com um palito de dente na boca. O elenco funciona em perfeita sintonia, com Selton Mello roubando a cena, entregando um Santiago genuinamente comovente, cuja dor contrasta de forma eficaz com o tom absurdo da narrativa.
Sem entrar em spoilers, fãs do filme original podem esperar participações especiais que reforçam o caráter nostálgico da produção. Os efeitos especiais assumidamente toscos não são um defeito, mas parte da piada, reforçando o espírito de homenagem e paródia que permeia todo o longa. No fim, Anaconda funciona muito bem como uma comédia de aventura autoconsciente, repleta de criaturas exageradas, humor afiado e comentários irônicos sobre o próprio ato de refilmar clássicos improváveis. Não é necessário ser fã da franquia para se divertir, mas quem conhece o original certamente aproveitará melhor as camadas de humor e referências espalhadas pelo filme. Definitivamente, uma diversão muito maior do que o esperado.
Anaconda chega aos cinemas em 25 de dezembro de 2025, com distribuição da Sony Pictures.
Bom
Anaconda transforma o clássico trash de 1997 em uma comédia metalinguística muito divertida, que encontra seu maior charme nas interações do elenco e na sátira aos bastidores do cinema.