A Vida de Chuck, adaptação do conto homônimo de Stephen King dirigida por Mike Flanagan (A Maldição da Residência Hill) e estrelada por Tom Hiddleston (Loki), acompanha Charles “Chuck” Krant ao longo da vida. Conhecido por ser grande fã e alguém que já fez algumas adaptações do Mestre do Terror, Flanagan optou por uma abordagem fiel e, assim como no trabalho original de King, ele dividiu o filme em três atos retratados em ordem cronológica inversa, cada um deles narrado por Nick Offerman.
O filme começa com o Ato Três, que conta a história do mundo desmoronando da perspectiva de uma pequena cidade dos EUA. Nesse primeiro capítulo (que na verdade é o terceiro capítulo), Chiwetel Ejiofor interpreta Marty, um professor solitário que tenta fazer seu trabalho enquanto o apocalipse se aproxima. Tudo começa com a internet ficando irregular e, então, um dia, desaparecendo completamente. Cataclismos ambientais de todos os tipos devastam o globo. As pessoas da comunidade de Marty estão se levantando e abandonando seus empregos e outras responsabilidades. Afinal, qual o sentido em manter as obrigações quando não há futuro?
Marty está, de forma compreensível, preso em algum lugar entre a aceitação resignada e a negação. Talvez o fim do mundo esteja até mesmo tendo consequências positivas em sua vida, já que ele começa a se reconectar com sua ex-esposa, Felicia (Karen Gillan), uma funcionária de hospital que está lidando com cada vez mais pessoas deprimidas e com comportamentos inesperados. O filme apresenta poucas respostas para o que está acontecendo e nos bombardeia com conversas entre Felicia e Marty, que refletem não apenas sobre o estado do mundo, mas sobre a própria existência da humanidade, agora que a sociedade pode estar dando seu último suspiro.
Ambos ficam perplexos com a repentina aparição de cartazes e comerciais parabenizando um homem chamado Chuck por 39 anos incríveis – um momento que parece ter saído de Além da Imaginação. O mais estranho é que ninguém sabe quem é esse homem. Eles presumem que seja alguém comemorando sua própria aposentadoria, o que é uma coisa estranha de se fazer com o fim do mundo cada vez mais próximo. Porém, de alguma forma, as vidas de Marty e Felicia estarão ligadas a este misterioso Chuck…
Então, o filme avança para o Ato Dois, e esse segundo capítulo é centrado em uma dança improvisada feita por Chuck (Tom Hiddleston) durante uma viagem de negócios. Uma baterista de rua toca e Chuck evoca a memória de sua avó (Mia Sara), que adorava dançar, então se deixa sentir o ritmo. Ele é acompanhado por uma estranha de coração partido, Janice (Annalise Basso), e uma multidão se forma ao redor deles enquanto eles dançam e dançam. Isso é enquadrado como uma celebração da espontaneidade e da alegria, interrompendo a árdua e solitária tarefa de estar vivo e das obrigações. Sua conexão com o segmento anterior do filme é praticamente nula, mas cria um belo contraste com o ato antecessor (ou seria posterior?) um tanto quanto mórbido, como uma representação da vida vivida ao máximo, apesar dos arrependimentos.
Em seguida, voltamos ainda mais no tempo com o Ato Um, para a infância de Chuck (primeiro interpretado por Benjamin Pajak e depois por Jacob Tremblay), passada com seus avós excêntricos (o avô é interpretado por Mark Hamill) após a morte prematura de seus pais e de sua irmã ainda não nascida. Ele encontra consolo na dança, primeiro com sua avó e depois na escola. A maior parte dessa última parte da história, que também é a primeira parte, mostra um garotinho ousando se expressar enquanto luta contra a dores da perda e do crescimento. Enquanto isso, também tenta matar a curiosidade que tem em relação à cúpula supostamente mal-assombrada em sua casa.
É nesse momento que o filme introduz uma nova ideia central na forma de Song of Myself, de Walt Whitman, particularmente o conceito de um ser humano contendo multidões em sua mente. O que se relaciona com a primeira (portanto, terceira) parte do filme, mas não se conecta realmente com o sentimento de um momento precioso do interlúdio de dança de rua inserido no meio do filme. Há muita coisa acontecendo neste capítulo: é um drama de amadurecimento com elementos de um thriller de casa mal-assombrada. É também a solução para o mistério, à medida que as conexões entre a vida de Chuck e o fim do mundo se tornam claras.
O filme frequentemente retorna para Chuck, com câncer terminal, em seu leito de morte com sua esposa, uma esposa que nunca é mencionada em nenhum dos capítulos. Ele tem 39 anos e ela ficará viúva em um momento crucial de sua vida. Ele não diz nada de extremamente profundo sobre nós, mas olha nos olhos para transmitir sua grandeza filosófica. É uma fantasia sobre redenção, que se esforça para encontrar uma aceitação pesarosa das perdas da vida e não tem envergonha de demonstrar grandes emoções.
A Vida de Chuck certamente irá dividir as pessoas, pois é feito para que cada um de nós perceba uma verdade crucial e bela sobre a vida e busca dançar como se ninguém estivesse olhando. É um mistério com um toque sentimental, que espera que você esteja confuso no início e enxugando as lágrimas no final. Um filme bonito em que as peças estão todas lá: um elenco talentoso, uma mensagem doce e afirmativa da vida, mas faltou potência para ser um soco no estômago aos moldes de outras adaptações de Stephen King que fogem do terror, como À Espera de Um Milagre, Um Sonho de Liberdade e Conta Comigo.
Com distribuição da Diamond Films, A Vida de Chuck estreia nacionalmente em 4 de setembro.
Bom
A Vida de Chuck tinha muitos elementos para ser um filme incrível, incluindo mistério, um ótimo elenco e mensagens positivas. Porém, alguns momentos tendem a ser um tanto quanto melodramáticos.