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A Longa Marcha | Crítica

A premissa de “A Longa Marcha” pode soar familiar a uma audiência moderna, habituada a Jogos Vorazes ou Round 6. Afinal, o conceito de jovens forçados a uma competição mortal num futuro distópico já foi amplamente explorado. No entanto, o realizador Francis Lawrence, que curiosamente dirigiu grande parte da saga Jogos Vorazes, opta aqui por uma abordagem radicalmente diferente e mais fiel ao terror psicológico do romance original de Stephen King.

O resultado é uma das adaptações mais cruas, cruéis e eficazes da obra do autor em muito tempo. Em vez do espetáculo visual, dos figurinos extravagantes e das subtramas complexas, o filme aposta num minimalismo rural desolador. Com exceção de breves flashbacks, a câmara nunca abandona a estrada, forçando o espectador a participar na jornada monótona e excruciante dos rapazes.

Esta escolha transforma o que poderia ser um festival de violência num “slowburn” psicológico, onde o diálogo e a deterioração física e mental dos personagens são o foco principal. A tensão não vem de confrontos diretos, mas da simples e constante ameaça de abrandar o passo.

O coração do filme reside nas atuações, especialmente na dinâmica entre Ray Garraty (Cooper Hoffman) and Peter McVries (David Jonsson). Hoffman transmite o peso de um herói relutante, cujo corpo parece prestes a ceder a qualquer momento, enquanto Jonsson encarna uma força e resiliência que inspira os outros, tornando-se o pilar de um pequeno grupo que se autodenomina “Os Mosqueteiros”.

A camaradagem que floresce entre eles, mesmo sabendo que apenas um pode sobreviver, é o núcleo emocional da história, conferindo-lhe uma humanidade comovente em meio à brutalidade. No entanto, o filme não é isento de falhas. Ao concentrar-se tão intensamente nos protagonistas, as personagens secundárias tendem a cair em arquétipos previsíveis: o gozão, o bully, o fraco.

O diálogo, embora forte entre a dupla principal, por vezes torna-se repetitivo com os outros, e o vilão, “O Major” (interpretado por Mark Hamill), funciona mais como um símbolo opressivo do que como uma personagem plenamente desenvolvida.

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Apesar disso, “A Longa Marcha” triunfa como um estudo de personagem e uma metáfora poderosa sobre a resistência contra um mal monótono e indiferente. É uma jornada intensa, atmosférica e sombria que permanece com o espectador muito depois dos créditos.

Não é um filme para todos, mas para aqueles que procuram uma distopia adulta, focada na psicologia do sofrimento e na resiliência do espírito humano, esta é uma obra obrigatória e que promete agradar.

Bom
3

Bom

Num futuro distópico onde os Estados Unidos são governados por um regime fascista, é realizada anualmente “A Longa Marcha”, uma competição de resistência sádica. Cem rapazes adolescentes devem caminhar continuamente a uma velocidade mínima. A competição só termina quando resta um único sobrevivente, que recebe como prêmio a realização de qualquer desejo. 


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