O que faz um bom filme de terror? A quantidade de vezes que você pula da cadeira com sustos repentinos? Ou aquela tensão que, mesmo sem cenas chocantes, prende pela narrativa sutil e macabra? Independentemente da preferência, é fato que o gênero vem se reformulando nas telonas, inserindo mais personalidade ao equilibrar esses dois elementos. Em A Hora do Mal, o diretor e roteirista Zach Cregger consegue mesclar essas bases do terror, embora careça de bons desfechos.
Para falar de seu novo projeto, é impossível não lembrar do fenômeno Noites Brutais, que colocou o diretor nos holofotes e o tornou um dos nomes mais comentados do terror. Mesmo com uma segunda parte não tão aclamada, aquela obra já revelava sua habilidade em conduzir uma história tensa, capaz de fazer qualquer um prender a respiração.
A expectativa para A Hora do Mal era tão alta que diversas produtoras e estúdios disputaram o direito de produzi-lo — o que inclusive causou a separação de Jordan Peele de sua antiga gestão, após não conseguir adquirir o projeto. Agora, em agosto de 2025, a aguardada e sombria história chegou aos cinemas, com um elenco de peso: Julia Garner, Benedict Wong e Josh Brolin — que também atua como produtor.
A trama começa em uma madrugada qualquer, às 2h17. De repente, 17 crianças de uma sala de aula — exceto uma — saem correndo de suas casas rumo à escuridão e desaparecem sem deixar rastros. O caso faz a comunidade voltar-se contra a professora Justine Gandy, levantando a dúvida: quem, ou o que, está por trás do sumiço?
Desde o trailer, era impossível não ficar intrigado. A premissa tinha tudo para me conquistar: atmosfera macabra, mistério e aquele clima de obra de Stephen King. Embora alguns desfechos não sejam plenamente satisfatórios, A Hora do Mal mostra como se constrói horror no cinema.
A narrativa alterna passado e presente, dividida em capítulos que acompanham personagens ligados à trama. Inicialmente, achei que essa estrutura prejudicaria o ritmo, mas ela acabou se revelando uma das melhores “montanhas-russas” emocionais que tive no cinema. Quando cada capítulo atinge o ápice de tensão, o foco muda para outro personagem, desacelerando o ritmo — e isso funciona. Cregger, que também assina o roteiro, conduz o mistério com calma e respiro, sem transformar o filme em uma máquina de sustos gratuitos ou em algo arrastado.
A experiência lembra um livro viciante, daqueles que você não quer largar até encontrar todas as respostas: “Como? Por quê? Quem?”. O problema surge justamente quando o filme começa a responder. Obras com premissas intrigantes são muitas, mas poucas conseguem entregar respostas tão satisfatórias quanto a expectativa criada. Cregger não escapa dessa armadilha: o roteiro carece de um refinamento mais autoral e acaba recorrendo a alguns clichês desnecessários. A jornada até o ato final funciona bem, com momentos de tensão, violência e estranheza vividos pelos personagens de Garner e Brolin, mas o desfecho — apesar de um humor bizarro que até diverte — não alcança a mesma singularidade da proposta inicial. A impressão é de que o terceiro ato foi escrito às pressas ou sem um plano claro para solucionar o mistério.
Ainda assim, mesmo flertando com o comum, A Hora do Mal é um dos melhores terrores do ano. A direção, a fotografia e o uso preciso de luz e sombra exploram de forma brilhante a escuridão, o desconhecido e a violência natural do ser humano. Se este filme é um indicativo do potencial criativo e ousado de Zach Cregger, já estou ansioso para, metaforicamente, sair correndo às 2h17 da manhã para assistir ao seu próximo trabalho.
A Hora do Mal já está em cartaz nos cinemas brasileiros.
Bom
Mesmo carecendo de bons desfechos, A Hora do Mal, novo filme de Zach Cregger, é um exemplo de como fazer um terror com personalidade, inventividade e tensão do começo ao fim.