Crítica | Until Dawn

O mundo dos games é um local fechado para novas intenções. Todos sabem que o mercado é mais aberto para jogos como Call of Duty ou infinitas franquias que continuam a se proliferar. No entanto, a novata Supermassive Games anunciou uma nova ideia ainda em meados de 2012. Until Dawn. A essência principal do jogo seria utilizar o PS Move – pericia principal da desenvolvedora –, uma câmera em primeira pessoa e um jogo no estilo de escolhas. Três anos depois, após inúmeros rumores de cancelamento, o jogo foi transferido para o PlayStation 4 e lançado de forma bem diferente de sua primeira idealização.

Until Dawn começa com a premissa básica dos filmes de terror mais classe B que se possa imaginar. Primeiro, em um prólogo, presenciamos o fator que irá impulsionar toda a história do jogo: a morte de duas irmãs gêmeas que, por algum motivo inexplicável, saem correndo pela mata e acabam mortas. No aniversário de sua morte, seus seis amigos (e o irmão das meninas) se reúnem na cabana do acontecido e, de repente, há um assassino à solta acabando com os jovens. Os amigos precisam sobreviver até o amanhecer (próprio título do jogo), ou seja, às nove horas de jogatina. Infelizmente, Until Dawn é curto assim. Esse estilo de roteiro com certeza lembra o jogador de filmes do diretor Romero e até mesmo histórias macabras do mestre do terror Stephen King. Mas o que há de tão místico em controlar uma história dessas? Absolutamente, a imersão de Until Dawn em sua temática é um dos focos principais do jogo e, provavelmente, sua própria alma.

O jogo não conta com a melhor das mecânicas e utiliza – diferente da primeira versão anunciada – uma câmera em terceira pessoa ao estilo de também clássicos de terror como Resident Evil e Silent Hill, tentando situar o jogador em locais terrivelmente escuros, já que o próprio jogo conta com pouca iluminação. Em meio à isso, há uma jogabilidade complicadíssima para as primeiras duas horas de jogo, fazendo o jogador se perder em movimentos (movimentos que deveriam ser simples, como pegar um objeto e mover uma lanterna, se tornam bagunçados na tentativa frustrada de imitar clássicos do gênero) e avançar com lentidão pela trama. Mesmo com esses erros, Until Dawn ainda consegue mantê-lo imersivo e preso à cadeira. Sabemos o que vem a seguir e sabemos como vai se desenrolar, mas queremos ver o motivo. E, claro, levar alguns daqueles sustos óbvios, como um alce saindo correndo da mata ou um vulto aparecendo atrás de você, juntando tudo isso a uma trilha sonora que faria o Zé do Caixão tremer.

A novidade realmente é o Efeito Borboleta, explicado e apresentado na primeira meia hora de game. Utilizando um estilo bem parecido com o The Walking Dead da Telltale, Until Dawn apresenta ao jogador como as coisas vão acontecer. Todas as suas ações possuem consequências e às vezes não fazer nada é melhor do que agir. Por exemplo, atire em um esquilo e a natureza pode revidar com força, fazendo você se ferir e ter sérios problemas em um momento de fuga. Ou então escolha entre um amigo e deixe outro morrer. No futuro, isso pode voltar para assombrá-lo e acabar matando outro de seus amigos, quais também são personagens jogáveis. Apesar dessa gama de escolhas, há uma máscara. Existem alguns finais alternativos, mas tudo sempre culmina em um único ponto, como uma espécie de destino inalterável. A ideia de que o jogo está nas mãos do jogador é incrível, mas também é falsa. Ainda não há tecnologia suficiente para transpassar essa barreira.

Perdido na escuridão de Until Dawn, uma jogabilidade estranha e com poucos avanços no mundo dos games, um roteiro bem elaborado para os amantes de filmes de terror – sim, o roteiro de Until Dawn pode ser considerado de clássico do Terror B -, o jogo vai além do imaginável em matéria de gráfico. Until Dawn utilizou a técnica da captura de movimentos em um elenco de filmes hollywoodianos, tendo como um dos melhores personagens (qual também aparece nas melhores cenas) o Dr. Hill, interpretado pelo incrível Peter Stormare (Prison Break) e atores como Brett Dalton (Agents of Shield). Com isso, não somente a floresta e a montanha que servem de cenário macabro para o jogo (sim, apesar dos sustos bobos, há um cenário tão macabro quanto os jogos de Silent Hill, embutido de uma trilha sonora, como já dito, horripilante), as feições dos personagens são incríveis e perfeitas. Com certeza, essa técnica aprimorada ao limite ainda irá apresentar bons resultados, sendo que Until Dawn conseguiu atingir a perfeição de um filme em CG ainda no inicio da geração do PlayStation 4.

Until Dawn não foi feito para os fãs mais hardcore do gênero terror, e não é nem mesmo o melhor jogo da geração ou que você vai jogar, possui uma jornada curta e provavelmente não irá marcá-lo, entretanto, é interessante e divertido. Atualmente, talvez algo com uma premissa diferente e um divertimento deste estilo não seja tão ruim. Until Dawn serve para ser jogado em dias de chuva, em uma madrugada silenciosa com os amigos, na esperança de relembrar os velhos tempos de Resident Evil.

Until Dawn é exclusivo do PlayStation 4.