Vingadores: um problema de marketing ou do público?

O mundo, desde que o filme Vingadores: Era de Ultron teve o seu primeiro trailer, delirou com os primeiros trechos apresentados. O vídeo mostra uma equipe com problemas de relação entre si, uma batalha épica entre dois membros da própria equipe, um vilão com um viés dramático de destruição e caos, narrando do início ao final de forma amedrontadora. O vídeo conseguiu agradar desde os fãs religiosos de quadrinhos, os fãs que acompanham somente os filmes e até o público que não têm conhecimento do que se passa nesse universo fantástico. Com outros trailers durante os meses que se seguiram até a inauguração do filme, a vontade do público aumentou. A expectativa, que já era alta, ficava maior. Todos foram ao cinema ver o filme. Hoje, a película já passou da marca de R$ 1 bilhão de dólares nas bilheterias mundiais e é a sexta maior bilheteria do mundo. Missão cumprida para o estúdio? Em termos de números, sim. Em termos de reações do público… não.

O filme dividiu opiniões e questionamentos entre os espectadores (sejam estes críticos de cinema ou não), além das muitas reclamações que circundam em torno dos trailers. Os mesmos vídeos que antes entusiasmaram e levaram o grande público ao cinema seriam o grande alvo de reclamação. Mas por que? Antes de analisar o que houve, é necessário enfatizar três fatos. O primeiro é: o marketing cumpriu o seu papel; o reflexo está na bilheteria. O segundo: um trailer é feito para divulgar e vender o filme ao grande público. O terceiro, e talvez o mais polêmico: as pessoas assistiram a quantidade de trailers que quiseram ver. Dito isso, é possível questionar como a comunicação global pode influenciar nesses aspectos. Antes de um trailer ser lançado, pessoas vão aos sets de filmagem fotografar a caracterização de personagens, cenas de ação e tentar descobrir o máximo de informações antes do lançamento do filme. Feito isso, discussões sobre o começo ao final da trama são realizadas por todos os fóruns e redes sociais. Pessoas interagindo com pessoas sobre informações (em texto, áudio, foto e vídeo) divulgadas por outras pessoas. A cada notícia publicada, sendo rumor ou não, as pessoas ansiavam por mais e, enfim, o trailer é finalmente divulgado. Dado este marco, o mundo explodiu e 2015 seria o ano dos Vingadores. E as pessoas pararam de ansiar? Não; elas desejavam cada vez mais. Um trailer estendido foi divulgado dias depois, acrescentando somente a cena hilária de quem levantaria o martelo do Thor. Isso bastava? Novamente: não.

O marketing, à medida que a vontade do público por mais crescia, se rendia e divulgava aos poucos mais informações (seja em trailer ou em imagens oficiais). O marketing e o público tiveram uma relação afetiva até a data de estreia do filme, onde o marketing era a mãe, e o público era o filho único em época de natal. Já era certo que todos iriam lotar as salas de cinema. O problema foi do marketing? Ele apenas foi moldado pela vontade das pessoas, além de cumprir uma meta de divulgação do filme. É importante ressaltar que pôsteres do filme foram divulgados no Japão mostrando algumas cenas importantes (spoilers) que surpreenderam todos ao assistirem o filme, mas trata-se de um público diferente; o marketing se moldou a ele. A culpada seria a globalização? Não; ela está aí para informar quem quer ser informado e sobre o que quer ser informado (falando restritamente sobre este caso). A culpa seria do público? Sim, mas não só dele, das pessoas de forma generalizada. O desejo por mais, o desejo de querer ver o que se imagina é exorbitante, que cega de tal forma que se tornou difícil apreciar um filme que tem como foco, nada mais e nada menos, que a diversão e o entretenimento. Nada é da forma que desejamos, até mesmo quando somos nós que realizamos. O próprio Joss Whedon, diretor do filme, sofreu com seu material (na ideia original, o Homem-Aranha e a Capitã Marvel estariam no final do longa), e também sofreu com o corte final, onde foi retirado mais de 30 minutos de cenas que acrescentariam no entendimento da história. O filme, ao todo, é bom; a exigência, os ataques feministas e a decepção em ter visto muito antes: são desnecessários. No final, a história se resume a mãe que quer muito agradar o filho mimado que não se contenta com pouco e reclama de muito.

Esse artigo é uma opinião pessoal, que tem como objetivo levar o tema ao debate entre os leitores de forma saudável e respeitosa.