Crítica | Okja traz uma importante mensagem sobre crueldade e companheirismo

Divulgação/Netflix

Até que ponto estamos preparados para correr atrás de um amigo? Enfrentar muitos quilômetros, diversos seguranças armados, um império industrial e milhões de pessoas parece o suficiente para demonstrar o valor da amizade a alguém, mesmo que esse alguém seja uma mistura de hipopótamo com o Falkor, de História Sem Fim.

Mikha (Ahn Seo-hyun) é uma jovem coreana que vive isolada nas montanhas com seu avô, cercada por nada mais do que as belas coisas que a natureza tem a oferecer. Desde pequena foi criada ao lado de Okja, uma “superporca” gigantesca com um coração tão grande quanto seu tamanho. Com o passar dos anos, as duas desenvolveram uma linda relação de amizade e confiança, onde ambas estão dispostas a arriscar a própria vida em prol da outra. Após dez anos juntas, Mikha vê seu pequeno mundo desabar ao descobrir a real razão da existência de sua amiga; e tudo piora ao constatar que seu avô não apenas tinha conhecimento de tudo, mas corroborava para o objetivo central.

A superporca faz parte de uma grande competição pela carne de melhor qualidade, onde os animais foram criados em laboratórios com o único objetivo de serem abatidos um dia. A pequena Ahn Seo-hyun dá um show de interpretação com uma atuação digna de gente grande, e consegue transmitir ao espectador sua dor e agonia ao perder a amiga. Disposta a enfrentar tudo o que vier pela frente, a jovem parte de seu refúgio nas montanhas e se joga em plena Seoul, capital e maior metrópole Coreia do Sul. Chega a ser irônico o tamanho da menina em relação a tudo aquilo que a rodeia, e as ótimas tomadas das câmeras fizeram questão de nos mostrar essa perspectiva.

Do outro lado da moeda temos a Corporação Mirando – um enorme conglomerado de agroquímicos –, cujo principal objetivo é lucrar, mesmo que isso signifique dizimar uma população inteira de superporcos para conseguir sua carne. Uma vez que os animais foram desenvolvidos em seus laboratórios, Lucy Mirando (Tilda Swinton) acredita ser a proprietária de todos eles, ignorando o fato de que os mesmos são, acima de qualquer coisa, seres vivos. Assim como sua companhia, Lucy está disposta a tudo para conseguir uma bela imagem frente ao público, enquanto sua irmã gêmea Nancy preocupa-se apenas com o dinheiro. Quando Okja é eleita a grande campeã do concurso, a corporação envia o Dr. Johnny Wilcox (Jake Gyllenhaal) – uma espécie de zoólogo com um quê de Ace Ventura – para capturá-la e levá-la de volta a Nova York, onde será exposta ao público e depois servida em bandejas.

O que não estava nos planos de Mirando era a determinação de Mikha, que conta com a ajuda de uma organização de apoio aos animais composta por Red (Lily Collins), Silver (Devon Bostick), K (Steven Yeun, de The Walking Dead) e liderada por Jay (Paul Dano). Mikha descobre as intenções de Mirando da pior maneira possível, e o diretor Joon-Ho Bong não economizou em imagens realistas para poupar o público.

Okja pode ser um filme de ficção, mas as atrocidades presentes em suas cenas estão longe de serem irreais. O propósito do filme é chocar e abrir nossos olhos para a organização criminosa que é a indústria de processamento de carne, e o faz com todos os requintes de crueldade possíveis. Ingênuos são aqueles que ficam com consciência limpa após assistir a produção, com a ideia imaginária de que algo de tal cunho não acontece em nossa sociedade.

Okja é excelente, mas acima de tudo necessário. Com uma ótima atuação da novata Ahn Seo-hyun, ao lado de grandes nomes como Swinton e Gyllenhaal, o filme traz importantes lições sobre companheirismo e crueldade. O que no início parece algo de caráter infantil, se transforma em uma trama intensa, pesada e realista, com cenas repletas de detalhes e momentos de ação. Estamos longe de viver em um mundo onde algo assim seja exclusivo das telas de cinema, e Joon-Ho Bong fez questão de nos mostrar isso. Mais um grande filme para o cardápio amplo e diverso da Netflix.

 

 

  • Excelente
5

Resumo

Okja é excelente, mas acima de tudo necessário. Com uma ótima atuação da novata Ahn Seo-hyun, ao lado de grandes nomes como Swinton e Gyllenhaal, o filme traz importantes lições sobre companheirismo e crueldade. O que no início parece algo de caráter infantil, se transforma em uma trama intensa, pesada e realista, com cenas repletas de detalhes e momentos de ação.