Crítica – O Doador de Memórias

O Doador de Memórias

Com as recentes adaptações ao cinema dos livros Jogos Vorazes e Divergente, que abordam futuros distópicos em que um indivíduo confronta a sociedade conservadora e autoritária, chega às telas a obra que mais aprofunda esse conceito.

O Doador de Memórias, foi publicado em 1993 por Lois Lowry e logo virou estudo em algumas escolas nos Estados Unidos. O livro aprofunda e discute ideias do mito da caverna, assim como aconteceu em outras obras como 1984 e Admirável Mundo Novo.

O grande problema é que o público adolescente, o alvo para esse tipo de produção, esperava várias sequências eletrizantes com disputas e etc. Quem leu o romance já sabe do que esperar, mas como uma versão cinematográfica busca atrair quem não leu ou conhece a história original, vai sentir um pouco de dificuldade em digerir todas as ideias propostas pelo filme.

O roteiro da dupla Michael Mitnick e Robert B. Wide apenas pincela o que se torna capítulos e capítulos explicando uma sociedade que abdicou qualquer tipo de sentimentos entre os indivíduos. As pessoas não sentem emoções e os bebês são nascidos artificialmente. Além disso, as pessoas não possuem recordações. Todas as memórias são transmitidas para um escolhido entre os anciões, os líderes da sociedade. O jovem Jonas (Brenton Thwaites) é o novo escolhido para receber as lembranças do passado pelo Doador (Jeff Bridges). Dotado de um espírito virtuoso, Jonas começa a confrontar suas ideias diante do sistema em que vive.

Tratando de temas mais complexos do que Jogos Vorazes, Divergente e do vindouro Maze Runner, é uma pena que a trama não aprofunda as discussões filosóficas e busca apenas o conflito do protagonista contra a sociedade. O roteiro ainda sente a necessidade de estabelecer um romance entre Jonas e Fiona (Odeya Rush) para atrair o público jovem. Diante disso, o filme desperdiça a oportunidade de trabalhar mais a relação entre Jonas e seu Doador, o ponto alto da fita.

Bridges faz uma atuação segura e competente dando a seriedade que a história precisa. Sendo um personagem tratado como perfeito aos olhos de Jonas, é interessante o momento de fraqueza que o Doador demonstra quando recorda sua relação com Rosemary (Taylor Swift). Thwaites não decepciona como Jonas. Embora com 25 anos, o ator consegue apresentar a inocência e jovialidade do personagem. Meryl Streep segue o rito de que tudo que faz em cena é indiscutível e no papel da anciã entrega uma atuação que foge do caricato, algo sempre comum em adaptações do gênero.

Visualmente, O Doador de Memórias é agradável pela excelente escolha das cores. Phillip Noyce aposta no preto e branco ao iniciar o filme com o intuito de apresentar sob os olhos do protagonista o vazio da comunidade e ao desenrolar da história acompanhamos a mudança para cores mais vivas à medida que Jonas vai recebendo as memórias do Doador. Conhecido pelo trabalho no excelente Salt, Noyce está irreconhecível por conduzir o filme de uma maneira tão lenta não criando uma única sequência eletrizante, algo que o ato final sugere.

O Doador de Memórias conta com uma direção de arte e figurino caprichados. Contudo, o que podemos classificar como o recheio do longa não é tão bom. Faltou mais vigor e fugir desse clichê de que filme para o público adolescente precisa ter um romance para justificar as decisões do protagonista. É uma boa adaptação, mas tinha tudo para ser impactante e entrar na lista dos filmes inesquecíveis do cinema.

  • Bom
3

Resumo

O Doador de Memórias conta com uma direção de arte e figurino caprichados. Contudo, o que podemos classificar como o recheio do longa não é tão bom. Faltou mais vigor e fugir desse clichê de que filme para o público adolescente precisa ter um romance para justificar as decisões do protagonista. É uma boa adaptação, mas tinha tudo para ser impactante e entrar na lista dos filmes inesquecíveis do cinema.