Crítica | Manchester à Beira-Mar aborda o lado mais bonito do drama

Fazer uma crítica sobre um dos “filmes do Oscar” é complicado. Falar bem significa seguir o óbvio, afinal estamos lidando com um dos indicados. Falar mal, por sua vez, é já aceitar a chuva de comentários negativos e críticos por estar indo contra a opinião da Academia. Felizmente, não há como se falar mal de Manchester À Beira Mar, filme de Kenneth Lonergan que está concorrendo a 6 categorias, incluindo melhor filme, direção e roteiro original.

Logo no começo parece estarmos lidando com mais um típico melodrama, monótono e com um roteiro fraco. O primeiro atributo é verídico, pois poucos são os momentos alegres dentre as longas 2 horas e 18 minutos. Não é pela tristeza, porém, que o filme gera impacto em seus espectadores, mas sim pela profundidade como aborda cada detalhe da história de seus personagens. Aos poucos nos vemos envolvidos no drama particular de cada um e ficamos angustiados com tamanho sofrimento.

Casey Affleck interpreta com maestria o protagonista Lee Chandler, um zelador infeliz com sua vida e que é obrigado a voltar para sua cidade natal após a morte de seu irmão. Além de ter de lidar com toda a burocracia do enterro, Lee acaba tendo que tomar conta de seu sobrinho Patrick, uma vez que a mãe do menino o abandonou e foi um dos últimos pedidos de seu irmão.

O personagem de Affleck nos faz refletir sobre os limites de um ser humano, provocando um sentimento de empatia para com o personagem. Após perder os filhos em um incêndio pelo qual se culpa, Chandler se despede do irmão e assume tudo aquilo que ele deixou para trás, incluindo a tutela de um adolescente complexo e genioso. As reações do personagem em meio aos acontecimentos são reais, nos permitindo imaginar a nós mesmos em situações semelhantes.

Lonergan versa o luto de diferentes pontos de vista. Por um lado temos Lee, com seu jeito frio e fechado, carregando o fardo de tantas perdas em seu passado. Patrick (Lucas Hedges) por outro lado, lida com a perda do pai cedo demais e fica sem uma referência adulta ao redor. O relacionamento que se desenvolve entre os dois reflete as barreiras impostas pelo ser humano ao deixar-se cativar pelo outro, principalmente em momentos de dor e traumas; e quando vemos as mesmas barreiras sendo desmontadas, é difícil não se emocionar.

Manchester À Beira-Mar conta com uma história bonita e densa, e principalmente com um ótimo elenco. Além da grande atuação do irmão mais novo de Ben Affleck, a surpreendente revelação de Lucas Hedges contribui para o entendimento do adolescente carismático e rebelde nos momentos certos. Apesar de não estar presente com frequência, Michelle Williams deixa sua marca nas cenas que aparece e contribui para a montagem do personagem de Affleck.

Em suma, o que nos atrai desde o início da história é como o filme é profundamente humano, sem grandes tecnologias e apenas abordando o cotidiano de pessoas marcadas pelo luto.  Manchester À Beira-Mar nos mostra o quão difícil é superar o passado e as perdas que sofremos pela vida, além da influência que isso tem em nosso dia a dia. Muitas vezes precisamos perdoar e entender a nós mesmos para então fazer o mesmo com os outros e seguir em frente. Com um roteiro profundo de Kenneth Lonergan e uma excelente atuação do elenco, Manchester à Beira-Mar é aquele tipo de filme que precisamos assistir.

  • Excelente
5

Resumo

Manchester À Beira-Mar nos mostra o quão difícil é superar o passado e as perdas que sofremos pela vida, além da influência que isso tem em nosso dia a dia. Muitas vezes precisamos perdoar e entender a nós mesmos para então fazer o mesmo com os outros e seguir em frente. Com um roteiro profundo de Kenneth Lonergan e uma excelente atuação do elenco, esse é aquele tipo de filme que precisamos assistir.